Pessuti justifica a briga: "As pessoas não estão suportando mais"
Se há alguém que não "desgruda" do governador Orlando Pessuti é João Feio. Nem Pessuti dele. Os dois andam juntos há quase 30 anos. A confiança é recíproca e total. Consideram-se da mesma família. Esta ligação de amizade é que levou o governador a se manifestar ontem sobre o entrevero físico havido entre o amigo e assessor e o ex-governador Roberto Requião. Em entrevista para a Rádio Banda B, apareceu o costumeiro tom da conciliação:
"Eu nunca tinha sido razão de briga nem entre as meninas do colégio. Agora, depois de ter atingido a juventude de 57 anos e de ser governador do Paraná, sou motivo de uma briga entre dois grandes amigos porque o João Batista Lopes dos Santos, o João Feio, e o Requião sempre foram amigos."
"Durante esses 27 anos, o João foi um dos principais cabos eleitorais de Requião e é meu assessor desde que eu cheguei à Assembleia Legislativa, em 1983."
"Houve manifestações de Requião em relação a mim e ao próprio João. Como João Feio não tem o sangue muito frio, reagiu às acusações e reagiuse defendendo das acusações que o ex-governador fazia. Um incidente lamentável e que eu espero que fique por aí."
"O temperamento do Requião não mudou. As pessoas é que não estão mais suportando a insistência com que ele faz acusações a integrantes do governo. Algumas pessoas sempre tomarão esta atitude de reagir fisicamente."
"A minha maneira de governar sempre foi na paz, na concórdia e no respeito às pessoas. Eu recomendo que o governador Requião aja da mesma maneira."
O constrangedor episódio dos sopapos desferidos por um ex-cabo eleitoral não é inédito na vida do ex-governador Roberto Requião. Já entraram para o folclore político do Paraná vários outros registros semelhantes, dentre os quais um ainda bastante recente aquele protagonizado no Aeroporto de Campo Mourão pelo presidente do PPS, Rubens Bueno, que, reagindo a ofensas, também apelou para o recurso da agressão física.
Por corriqueiros, tais casos deveriam ser objeto apenas de conversas jocosas em mesas de boteco nunca ser tratados em colunas políticas. Mas o caso da abrupta reação do diretor comercial do Porto de Paranaguá, João Batista Lopes dos Santos, o João Feio, anteontem, em Matinhos, que atacou Requião a tapas e ameaçou-o com garrafadas ao ouví-lo proferindo ofensas ao governador Orlando Pessuti, merece alguma reflexão.
Merece porque, em primeiro lugar, Requião não é qualquer um, sequer frequenta botecos. É alguém que foi eleito pelo povo deputado, prefeito, senador e governador três vezes. Logo, seria de se supor que, tendo alcançado tão grande status pessoal e político, merecesse tratamento quase reverencial especialmente daqueles que lhe são mais próximos, como é o caso de João Feio, seu amigo e colaborador há quase três décadas.
Porém, nunca antes na história desse estado um político foi tão frequentemente vítima dos arroubos físicos de terceiros terceiros que tinham em comum o fato de se sentirem ofendidos em sua honra por Requião. Diante da coleção de processos judiciais em que foi condenado pelo mesmo motivo, as agressões podem até ser consideradas exceções.
O conjunto de ações e agressões realça de modo contundente a faceta mais conhecida da personalidade do ex-governador, a de alguém com tendências fortemente autoritárias que, achando-se acima do bem e do mal, não mede palavras para dirigir-se a quem quer que seja, desde instituições e autoridades de seu nível até a servidores e pessoas humildes do povo.
Se eleito, Requião levará temperamento para o Senado?
Há quem goste do jeito, principalmente quem não foi atingido por ele. E isso explica as sucessivas eleições de que se saiu vitorioso. Mas, por outro lado, desperta ódios, desagrega grupos, dificulta a convivência, barra diálogos civilizados e produtivos.
É neste ponto que os tapas de João Feio saem da esfera do boteco para entrar na seara política. Afinal, Requião é candidato a outra vez representar o Paraná no Senado Federal, levando para Brasília o mesmo temperamento! O que se há de esperar?
Temperamento que impediu, por exemplo, a solução de problemas importantes durante a sua última gestão de sete anos e meio no governo estadual. A questão da multa decorrente da inadimplência do Paraná por conta dos títulos negociados no processo de privatização do Banestado é um dos casos mais emblemáticos para provar que a gritaria e a ofensa não dão resultado. Multiplicam-se os exemplos, quase todos transformados em passivos judiciais de grande monta que, um dia, o povo vai pagar.
O que se há de esperar no Senado?
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