O governador Beto Richa (PSDB) diz que ainda não sabe se será candidato a senador no ano que vem. Deve ter seus motivos para ter dúvidas – afora aquelas que podem colocá-lo em maus lençóis em decorrência de investigações que se processam nos tribunais superiores.
Às dúvidas de caráter judicial, acrescenta também dúvidas políticas. Numa hipótese: se tiver de enfrentar ao mesmo tempo a concorrência do senador Roberto Requião (PMDB) e, possibilidade longínqua mas que não deve ser desprezada, de Osmar Dias (PDT) ou Ratinho Jr. (PSD), caso virem a optar pelo Senado, qual a segurança que Richa terá de ficar com uma das duas vagas em disputa?
A estas dúvidas some-se a questão da imagem e do prestígio político. Até o início do ano, sondagens do instituto Paraná Pesquisas apontavam um índice estadual de desaprovação ao seu governo da ordem de 70%. De lá para cá, intensificou bastante sua presença no interior e reconquistou boa parte do eleitorado. Em julho, a taxa de reprovação no interior já havia baixado para 51%, mas em compensação em Curitiba e região metropolitana persistia o índice negativo de 70%.
É preciso lembrar que Curitiba e região, mais o litoral do estado, respondem por 35% do eleitorado estadual. Logo, é preciso investir muito para reconquistar esta parcela de eleitores para garantir por aqui uma performance segura.
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Beto Richa está cumprindo o roteiro. Decidiu que o prefeito Rafael Greca (PMN) – que ajudou a eleger em 2016 – pode ser um bom cabo eleitoral se conseguir fazer uma administração razoável em Curitiba. Por isso, nunca se viu nos últimos quatro anos um esforço tão grande do governo estadual para “ajudar o povo de Curitiba”.
Neste sentido, Richa tem liberado recursos estaduais para que Greca asfalte ruas de Curitiba. Só na semana passada, foram R$ 30 milhões a fundo perdido. E asfalto, como se sabe, é sempre uma das maiores demandas da população e método infalível para prefeitos (de qualquer cidade) ganharem simpatias.
Além de ruas asfaltadas, Rafael Greca também ganha pontes sobre rios de Curitiba. Houve até uma pequena solenidade no Palácio Iguaçu para a assinatura de um termo de cooperação que permitirá a construção de cinco pontes. Como destacou o próprio prefeito, havia já seis anos (os quatro de Gustavo Fruet e os dois de Luciano Ducci), enquanto Beto já era governador, que não se construíam pontes na cidade.
Foi também com grande alegria que o governador e o prefeito assinaram convênio pelo qual o governo do estado fornecerá recursos para “modernização, compra de equipamentos, material permanente e de consumo para quatro restaurantes já em funcionamento e também para a implantação do novo Restaurante Popular Viaduto Capanema”.
Saúde? Não, este setor sensível não foi esquecido no esforço de Beto Richa pra garantir o sucesso da gestão de Rafael Greca. O governo vai assegurar a reforma de 14 unidades de saúde de Curitiba. No total, R$ 2,1 milhões, ou R$ 150 mil para cada unidade a ser reformada.
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Tudo sem contar que o governador também está mais presente nos eventos promovidos por Greca. Vai a mutirões de Cidadania, visita obras de asfaltamento e até faz dupla com o prefeito para cantar o Hino de Curitiba – embora se mostre desafinado ao entoar algumas notas.
No conjunto, parece ser um vale-tudo para a reconquista do eleitorado curitibano, com o qual Richa esteve despreocupado durante a gestão de Gustavo Fruet, seu adversário político.
Beto faz a sua parte e reza para que Rafael não estrague suas intenções de recuperar a popularidade em Curitiba. Se for candidato a senador, o governador não quer fazer feio na capital onde foi eleito prefeito por duas vezes, ganhando sempre em primeiro turno e com votações extraordinárias.
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