Por ter andado na contramão da história durante o curtíssimo período em que esteve secretário da Segurança Pública, o deputado Fernando Francischini deixou a pasta na última sexta-feira deixando para trás pegadas difíceis de ser apagadas. Além de ter gerado uma crise sem precedentes na Polícia Militar, comprometeu para sempre o já então enfraquecido prestígio político do governador Beto Richa.
A crise na PM, apesar de ter custado a cabeça do comandante César Kogut, foi rapidamente absorvida e superada pela união imediata da alta cúpula da corporação. Pelo menos 16 dos 19 coronéis da Polícia reagiram à bisonha tentativa de Francischini de fugir da própria responsabilidade. E não só apoiaram Kogut como também já estavam prontos para pedir aposentadoria caso o secretário não deixasse o cargo.
A perigo 1
A próxima sessão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça preocupa o presidente do Tribunal de Contas, conselheiro Ivan Bonilha. Embora há anos venha fazendo pesado lobby para adiar ou evitar o julgamento, é possível que o mandado de segurança 796308-6 seja incluído na próxima pauta. É por meio dele que o ex-secretário Maurício Requião pretende recuperar a cadeira de conselheiro da qual foi afastado após apenas oito meses de exercício.
A perigo 2
A cadeira de Maurício é a mesma que foi ocupada por Bonilha em 2011, depois de a Assembleia ter anulado a sessão que, em 2008, elegeu o irmão do então governador, Roberto Requião. Se o Órgão Especial reconhecer o direito de Maurício, Bonilha terá de deixar a vaga (e a presidência do TC), embora não perca o direito de mover novos recursos.
Por Fachin
Da planície, o senador Alvaro Dias (PSDB) apenas observa a profunda crise política de que sofre o correligionário Beto Richa. Não dá palpites nem conselhos, em nada interfere. Nem por isso, deixa de ter opinião: Richa errou ao insistir na aprovação do projeto que mexeu com a Paranaprevidência. Na opinião de Alvaro, anunciada há tempos, é de que a mudança caracteriza apropriação indébita. A prioridade de Alvaro tem sido a de se concentrar nas articulações para evitar riscos à nomeação do jurista paranaense Luiz Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal (STF). Indicado por Dilma, Fachin sofre resistência de setores da oposição, entretanto já fragilizada pelo apoio unânime ao seu nome vindos de instituições da área jurídica e de outros setores. Fachin será sabatinado pelo Senado na terça-feira e precisa obter a maioria dos votos.
Sua saída pode ter devolvido merecida paz interna à PM, mas nem de longe resolve a outra questão: o governo Richa continuará eternamente manchado pela desastrada guerra contra professores no Centro Cívico no fatídico 29 de abril. A mancha poderá custar-lhe a carreira política.
Para ocupar interinamente a secretaria, Richa nomeou o delegado federal Wagner Mesquita, antes mesmo de requerer ao Ministério da Justiça a sua disposição funcional. Sem a publicação desse ato, será nulo qualquer mísero papel que Mesquita assinar no período em que estiver à frente do cargo.
Amigo pessoal do ex-secretário, ele já atuava na pasta, a convite de Francischini, no setor de Inteligência (era o homem que manuseava o temível sistema de escuta Guardião) e ficou famoso quando tentou emplacar a fantasiosa versão de que eram black blocs alguns estudantes e professores da UEL que derretiam em água inofensivas pastilhas de Alka Seltzer que usariam como antídoto contra efeitos das bombas de gás e spray de pimenta.
Richa ainda não sabe quem chamar para substituir o interino, mas já foi informado que terá de exonerar a esposa dele caso decida mantê-lo no cargo. É que dona Anna Paula Mesquita ocupa um DAS-5 na Sesp, nomeada em 21 de janeiro pelo amigo Francischini.
Todos esses, porém, são problemas menores para Beto Richa. Superada a crise da Segurança, o maior desafio a afligi-lo a partir de agora é tentar governar de modo a recuperar a própria imagem e, sobretudo (é o que mais interessa), o próprio estado, levado à desorganização da máquina e das finanças após uma gestão duvidosa.
Apesar do pedido de “compreensão” que divulgou pelo Facebook, não lhe será fácil fazer as pazes com a opinião pública, com o funcionalismo e com grande parte da bancada que deixou de apoiá-lo na Assembleia. Na tarefa de recolocar o Paraná na mão certa, precisará também pagar atrasados a fornecedores e servidores e equilibrar as contas. Nada indica, porém, que vá se arrepender do principal – da apropriação dos fundos da Paranaprevidência, pivô desses dias traumáticos.
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