Olho vivo
Quem tem medo? 1
A Sanepar contratou um escritório de advocacia especializado em crimes de colarinho branco e o está indicando a diretores e ex-diretores da empresa. Reina algum medo lá dentro? A lógica nos faz deduzir que sim, caso contrário tal preocupação não passaria pela cabeça da diretoria ou do Conselho de Administração. Um dos destinatários de uma carta contendo a recomendação para incluir seu nome entre os potenciais clientes do escritório é o ex-presidente da Sanepar Caio Brandão, que ocupou o cargo nos primeiros 11 meses do mandato anterior de Requião.
Quem tem medo? 2
A carta que recebeu foi assinada pelo secretário-executivo do Conselho, Fernando Massardo, que ontem recebeu a resposta de Brandão, também por carta. Nela, primeiro, o ex-presidente recusa a oferta e estranha que a Sanepar, tendo um caro departamento jurídico próprio, precise contratar serviços externos de advocacia. Segundo, lembra que em sua passagem pela companhia foi indiciado tão somente em um processo: o Ministério Público acusou-o de ser o "responsável" pelo lançamento de excrementos num riacho do município de Paranacity motivado pelo rompimento de um esgoto.
Quem tem medo? 3
Depois de informar que, às próprias expensas, já contratou advogado para defendê-lo nesse caso, Caio Brandão encerra com o que parece ser uma grave insinuação: "Vejo, nos referidos excrementos, acima citados, uma razão menor, que não me permite o agasalho, o aconchego, o manto protetor de profissionais que, mesmo competentes e renomados, haverão de encontrar, na Sanepar, outras excreções para delas se ocupar."
Aflição
O Tribunal de Justiça ainda não satisfez a curiosidade dos milhares de interessados em conhecer o voto com que, na semana passada, o desembargador Leonardo Lustosa declarou nulo o Decreto 418/07, assinado por Requião, que proibia a troca de dívidas tributárias por precatórios. Sua decisão, catalogada sob o número 424.838-4/02, ainda não está disponível para consulta no site do TJ e nem é liberada pelo Órgão Especial para a imprensa.
Com a colaboração de pelo menos nove parlamentares situacionistas, a bancada da oposição conseguiu reunir 31 assinaturas em novo requerimento de convocação do secretário da Segurança, Luiz Fernando Delazari, para dar explicações sobre a onda de violência no Paraná. Seriam necessárias apenas 28 assinaturas. O requerimento poderia ter sido aprovado ontem mesmo pelo plenário, mas o líder do governo, deputado Luiz Cláudio Romanelli, conseguiu adiar a votação para a próxima terça-feira.
É tempo suficiente para várias coisas. Uma delas, é esfriar o clima de pavor e indignação que se instalou desde a chacina do fim de semana no bairro do Uberaba, em Curitiba. Outra, é esperar que o presidente da Assembleia, Nelson Justus, consiga amigavelmente que o secretário aceite convite para comparecer à Casa. E uma terceira, nada improvável, é convencer pelo menos quatro deputados a retirar suas assinaturas do requerimento, deixando-o com número insuficiente para tramitação. Nenhum das alternativas exclui a outra.
Interessante, porém, foi um dos argumentos usados por Romanelli para demonstrar a desnecessidade de Delazari ser submetido a uma sabatina pelos deputados. Segundo ele, o caso da chacina é fato para ser esclarecido pelo delegado de polícia encarregado das investigações e não do secretário.
Imbuídos do sentimento de caridade cristã, até seria admissível concordar com Romanelli no caso particular da chacina. Mas o problema é que o secretário deve explicações não apenas sobre este episódio, mas sobre todo o visível caos que tomou conta da segurança pública no Paraná. Os números divulgados pelo próprio governo confirmam: a criminalidade está crescendo em índices muito superiores do que os constatados em outros estados. Aliás, em outros estados com histórico brutal de violência, como Rio e São Paulo, as taxas estão diminuindo ano a ano e já são menores do que as paranaenses.
Romanelli lembrou bem: todas as semanas o governador Roberto Requião preside a reunião "mãos limpas", durante a qual se discute a questão da violência com autoridades de vários setores policiais e do Judiciário. De lá saem, de vez em quando, indignadas punições a humildes funcionários flagrados com a boca na botija. Quem sabe nunca discutam o principal. Então, talvez mais do que o secretário, é o governador que deve explicações à opinião pública.
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