Escandalizados com o alto custo que o governo estadual pretende pagar pela engorda da praia de Matinhos, da ordem de R$ 520 milhões, dois dos mais respeitados conhecedores do humor e dos efeitos erosivos do mar sobre a orla se levantam para condenar o projeto. E não apenas pelo alto custo, mas também pela ineficácia do método proposto para recuperar cerca de sete quilômetros do litoral paranaense destruídos pela erosão marinha.

CARREGANDO :)

Os dois profissionais em questão são nada mais nada menos do que o geólogo João José Bigarella e o engenheiro naval Geert Prange – ambos internacionalmente reconhecidos por seus trabalhos e estudos na área. Bigarella e Prange são categóricos: é um desperdício trazer areia do alto-mar para despejá-la na praia, pois o mar vai levá-la de volta. Lembra a mitologia grega que descreve Sísifo como condenado ao trabalho eterno de levar uma pedra até o cume de uma montanha, de onde inevitavelmente despencava.

O importante, dizem eles separadamente mas coincidentemente com a mesma opinião, é construir simples espigões e obras de enrocamento de tal modo que a areia passe naturalmente a ser depositada pelo próprio mar no lugar que se pretende recuperar. Com a vantagem que dali, protegida pelas medidas de contenção, não mais sairia. Simples assim (e muito mais barato!).

Publicidade

O alerta dos dois mestres já chegou ao estatal Instituto das Águas do Paraná, que propôs o caríssimo sistema de engordamento. O do professor Bigarella foi conhecido ainda no período em que os estudos se iniciavam, há três anos, quando mostrou que "a engorda artificial seria totalmente inviável". Ainda hoje ele mantém a estranheza: "Se nosso estudo técnico, cientificamente fundamentado, não for considerado, então a quem interessa a tal engorda? Ela deve engordar outra coisa! Menos a praia".

O engenheiro Geert Prange compartilha da mesma visão. É absurdo "engordar a orla usando draga superdimensionada e estacionária em mar aberto para bombear areia por cinco quilômetros e mais seis a oito ao longo da praia, quando tudo isso poderia ser substituído por espigões de pedra, que regenerariam a praia por conta das próprias marés e correntezas locais".

Olho vivo

Sabia 1

A ação movida pelo empresário Max Schrappe, que culminou na quarta-feira com o afastamento do conselheiro Fabio Camargo do Tribunal de Contas, contém um argumento que não era desconhecido pela comissão da Assembleia Legislativa que conduziu o processo de seleção dos candidatos. A eleição para conselheiro foi no dia 15 de julho, mas no dia 8 o relator da comissão, deputado Wilson Quinteiro, dizia à coluna que nada obstava a candidatura de Fabio Camargo.

Publicidade

Sabia 2

À aquela altura já se sabia que Camargo não apresentara certidão negativa de processos penais em tramitação no 2º grau do Judiciário – e esta era uma exigência do edital que estabeleceu as regras do certame. Para Quinteiro, só haveria impedimento se o candidato já tivesse sido condenado – o que não era o caso. A norma, no entanto, não falava em necessidade de condenação, mas a simples existência de ação penal já seria obstáculo à candidatura.

Sabia 3

Schrappe incluiu esse argumento entre os que fundamentaram a ação que moveu no Tribunal de Justiça. A desembargadora Regina Portes prestou atenção nesse ponto e julgou, liminarmente, que o impetrante pode ter razão. Por isso, por prudência, determinou o afastamento de Camargo do TC até o julgamento do mérito.

Sabia 4

Publicidade

Quando ocorrerá o julgamento de mérito, não se sabe. Enquanto isso, porém, notificado da decisão judicial na tarde de sexta-feira, o presidente do Tribunal de Contas, Artagão de Mattos Leão, tomou as providências para cumpri-la. E até já designou dois auditores para substituir Camargo nos trabalhos do TC. Já a Assembleia Legislativa se finge de morta, como se o problema não tivesse se originado nela.

Não sabia?

Atas de reuniões realizadas em 2009 e 2010, para elaboração do edital de licitação do transporte coletivo de Curitiba, registram palavras do ex-presidente da Urbs Marcos Isfer de que o documento só seria finalizado e apresentado após aprovação de Beto Richa, então prefeito da cidade. Esse registro oficial é que levou a vereadora Professora Josete a pedir a inclusão do nome do governador entre os indiciados no relatório final da CPI do Transporte Coletivo, encerrada quinta-feira. Os vereadores não acataram a emenda de Josete.

Próprio

O presidente estadual do PSD, deputado Eduardo Sciarra, pede para corrigir informação publicada por esta coluna: seu partido não está decidido a apoiar a reeleição de Beto Richa. Vai estar no palanque de Dilma Rousseff. Mas, no Paraná, pretende ter candidato próprio a governador. No caso, o empresário Joel Malucelli.

Publicidade
Veja também
  • CPI e a bola pra frente
  • Para onde vai o PMDB
  • Um estado em apuros