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Não faz tanto tempo assim, se você precisava realizar qualquer operação bancária – um saque, um depósito, a verificação do seu saldo... – tinha de enfrentar filas quilométricas e irritantes dentro das agências e se dirigir a um guichê para ser atendido. Os bancos só funcionavam das 10h às 16h. Hoje, a maioria das operações você faz em caixas eletrônicos. A qualquer hora do dia (das 6 da manhã às 10 da noite), você acessa uma máquina, insere o cartão, faz o saque, paga a conta, transfere valores, deposita, confere o extrato...

Claro, isso teve um preço: o desemprego de milhares de bancários, que tiveram de buscar alternativas profissionais diferentes. Perversamente, os bancos passaram a lucrar muito mais, mas é inegável que, do ponto de vista das facilidades práticas que introduziu no dia a dia das pessoas, a modernização dos serviços bancários acabou por ser benéfica para a maioria da população.

Ditas assim, essas coisas soam óbvias, tolas. Mas servem para lembrar que há outra categoria profissional em vias de extinção – a dos cobradores de ônibus. Por que tê-los se com um simples cartão eletrônico pré-pago você faz girar a catraca sem precisar enfrentar o (geralmente justificável) mau-humor do cobrador ou se irritar com a falta de troco?

O único setor que não percebeu que, com sua ação, está apressando a extinção destes trabalhadores é exatamente o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc) – entidade que, em tese, serve exatamente para proteger o emprego deles.

Com evidente motivação política (está em campanha para se reeleger), o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, incitou a greve dos cobradores no fim de junho passado, num dia de jogo da Copa do Mundo. Por um dia, os ônibus circularam com catraca livre; no segundo, ficaram nas garagens e a população ficou sem transporte.

As reivindicações dos cobradores eram justas: queriam banheiro nas estações-tubo e mais conforto e segurança no trabalho. A greve fracassou diante da impossibilidade prática de atender aos pedidos e pelo alto custo da implantação das melhorias. Além disso, estava prestes a entrar em vigor, também, a lei aprovada pela Câmara Municipal sob pressão do Sindimoc que impedia a dupla função motorista-cobrador em 61 linhas atendidas por micro-ônibus.

Resultado: a Urbs se apressou em adotar o cartão eletrônico para as primeiras linhas afetadas e, com certeza, vai estendê-lo para toda a rede. Isto é, a curto ou médio prazo, não mais existirão cobradores de ônibus, sem nenhum prejuízo (muito pelo contrário) para os usuários do sistema. Sai mais barato e mais seguro universalizar o cartão do que fazer banheiros em cada estação-tubo, não é?

No fundo, o até então poderoso Sindimoc começou a cavar a própria cova. Por vários motivos, todos de ordem financeira: atualmente, 13% do valor da passagem são destinados ao pagamento de cobradores. Trata-se de um custo que poderá, em futuro próximo, ser parcialmente abatido da planilha. O Sindimoc corre o risco também de perder cerca de 8 mil associados, dos quais desconta, mensalmente, R$ 60,00 (o que rende quase meio milhão de reais por mês para os cofres da entidade).

Politicamente enfraquecido, o Sindimoc corre outro risco – o de deixar de ser "sócio" do transporte coletivo da cidade. É que, embora aparentemente insignificante, 1 centavo de cada passagem vendida toma o destino de seus cofres. No total, somadas as duas fontes, a receita mensal do Sindimoc passa de R$ 1 milhão.

Justiça, Ministério Público e a crescente oposição sindical investigam o destino que essa dinheirama está tomando. Em junho, por exemplo, uma decisão judicial proibiu o sindicato de sortear um carro zero quilômetro para seus associados por entender que a promoção não refletia zelo pelo bom emprego do dinheiro que sai do bolso dos trabalhadores e dos usuários do transporte coletivo. Até cabeludos prontuários policiais de diretores da entidade estão servindo para instruir alguns processos.

Moral da história: o sindicato, além do tiro pela culatra que acabou acertando seus próprios associados, está forçando Curitiba a modernizar o sistema – assim como fizeram os bancos no passado. É claro que não se está defendendo o desemprego de milhares de chefes de família que trabalham e sofrem como cobradores de ônibus. Eles precisam ser requalificados e ter oportunidade de encontrar outras colocações antes de suas dispensas, que se afiguram inevitáveis.

Mas ser contra a modernização é o mesmo que brigar contra a invenção da roda.

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