Que o transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana está andando em marcha à ré ninguém tem mais dúvidas. Já se faz longe o tempo em que ele servia de modelo para o mundo. Atualmente, apesar da baixa qualidade do serviço, o curitibano paga a passagem mais cara do país. O que precisa ser feito para tirar o sistema do atoleiro?
Em poucos anos, intervenções políticas e demagógicas mantiveram tarifas que obrigavam o poder público a subsidiá-lo. Deixou de ser autossustentável e obrigou os governos a tirar dinheiro de outros serviços essenciais, como saúde, educação e segurança, para garantir que as concessionárias mantivessem seus lucros.
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Também por motivações políticas, a rede que um dia foi metropolitana – isto é, que atendia a todos os municípios do entorno de Curitiba com tarifa única – se desmantelou. Não há quem tenha uma boa ideia para trazê-la de volta e todo mundo tira o corpo fora quando se vê diante da denúncia de que frotas clandestinas de carros acabam prestando serviço melhor (e quase pelo mesmo preço) do que os ônibus metropolitanos. Nem Comec nem Urbs tomam providências – aliás, a única providência realmente eficaz para acabar com os clandestinos seria melhorar o transporte público. Mas, quem há de?
Fizeram uma concorrência em 2010 para “regularizar” a situação de precariedade das linhas permissionárias para transformá-las em concessionárias. O edital ficou parecido com um frankenstein, além de guardar segredos que o Ministério Público, o Gaeco, o Tribunal de Contas e a Câmara Municipal não fazem muita questão de desvendar.
Greves e supostos locautes se sucedem, deixando o povo a pé e, como efeito colateral, fechando lojas, indústrias e serviços, com prejuízos de milhões à economia. E ainda por cima tudo comandado por sindicatos de duvidosa reputação.
Enfim, acabou-se o que era doce!
Se você pensou em metrô como único jeito de melhorar o que aí está, esqueça. Além de caro e inacessível às possibilidades de caixa dos governos e desinteressante para a iniciativa privada, não é exatamente a solução ideal, principalmente se pensado apenas como uma linha única ligando o Sul ao Norte da capital, conforme todos os projetos apresentados e engavetados desde os tempos de Beto Richa prefeito.
Também não é só substituindo os ônibus velhos, caindo aos pedaços, por novos e modernos que o transporte coletivo chegará ao nirvana. Nem perto disso. Porque este, pensando bem, nem é o maior problema causador do caos que aflige diariamente 1 milhão de pessoas que precisam ir e vir de ônibus.
Sim, o problema é também tecnológico quanto aos veículos utilizados; é também econômico; é também de engenharia viária; é também de redimensionamento e redirecionamento das linhas; é de segurança para os passageiros, frequentemente assediados e assaltados... enfim, há uma porção de coisas que tem contribuído para a gritante decadência do mais demandado dos serviços públicos. Cada um dos itens até poderia ser resolvido se houvesse vontade e competência das autoridades que mandam no setor – mas sempre faltará uma visão de conjunto que se situa muito mais no plano social.
De fato, ninguém ainda deu a devida importância para uma equação que precisa ser resolvida. Têm de ser combinados inúmeros fatores:
• o transporte é essencial para toda a população, incluindo para a parcela que anda de carro ou que não depende de ônibus para seus deslocamentos;
• as empresas prestadoras do serviço, no regime capitalista que o país adota, precisam ser remuneradas a contento, sem exageros;
• o poder público não tem condições de absorver todos os custos diretos, nem de complementar o que falta mediante subsídios;
• a economia simplesmente para se o transporte para.
Logo, se é de interesse de todos os segmentos que Curitiba e região metropolitana tenham um transporte público digno, eficiente e barato, a equação se resolve com a participação de toda a sociedade – como se faz nas mais desenvolvidas cidades da Europa, por exemplo, onde todos os entes envolvidos contribuem para fundos que financiam o sistema.
Um exemplo concreto: o custo anual do transporte curitibano é de R$ 1 bilhão por ano para uma cidade de quase 2 milhões de habitantes. Se, em média, cada cidadão contribuísse – por hipótese, mas proporcionalmente à renda – com R$ 500,00 ao ano, o custo estaria coberto. E, consequentemente, o transporte seria “gratuito” para todos.
Utopia? Nem tanto, principalmente quando se sabe que é assim que funciona (muito bem) o transporte coletivo de outras cidades do mundo. Trata-se de uma questão a ser debatida e equacionada por toda a sociedade, principalmente entre o empresariado, maior interessado em não contabilizar prejuízo de R$ 150 milhões por dia de greve, como informa a Associação Comercial do Paraná (ACP) e confirmam as demais entidades do setor produtivo.
Mais preocupado em resolver esta equação do que em brigar por ônibus novos deveria estar o prefeito Rafael Greca e o governador Beto Richa – dois aliados que poderiam colocar suas lideranças a serviço de soluções mais inteligentes, permanentes, sustentáveis e de alcance social muito mais amplo.
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