Nem mesmo aliados do prefeito Beto Richa conseguem demonstrar satisfação com as explicações até agora dadas por sua assessoria sobre o constrangedor episódio da distribuição de dinheiro para dissidentes do PRTB em troca, supostamente, de apoio à sua reeleição, em 2008, conforme registrado em vídeo clandestino. É que perguntas absolutamente essenciais ainda não foram respondidas.

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Na última segunda-feira, 24 horas após reportagem da Gazeta do Povo e da divulgação da fita no Fantástico da Rede Globo, os ex-diretores financeiro e jurídico da campanha de 2008 (Fernando Ghignone e Ivan Bonilha) convocaram a imprensa para tentar provar que tudo foi fruto de um malicioso ardil de inimigos de Beto Richa, contrariados com o fato de o prefeito figurar hoje como favorito na disputa pelo governo estadual na eleição do ano que vem. O vídeo, segundo os assessores, entrou nessa história como instrumento para desconstruir a boa imagem e, consequentemente, para enfraquecer o projeto de ascensão política de Richa.

Daí a insinuar que o mandante da operação era o senador Alvaro Dias – que compete com Richa pelo direito de ser o candidato do PSDB – foi um passo. Outros culpados também foram nominados, como o secretário estadual da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, e o deputado estadual Fábio Camargo – o primeiro porque teria agido a mando do governador Roberto Requião; o segundo, porque, tendo sido candidato a prefeito, perdeu parte da força eleitoral que o PRTB poderia lhe dar.

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Impossível não admitir alguma lógica nessa teoria conspiratória. De fato, seria ingênuo desconhecer a existência de interessados em desestabilizar Richa e, em qualquer análise superficial, os nomes citados seriam fatalmente incluídos entre os que, supostamente, poderiam tirar vantagem ou tardiamente vingar-se.

O problema é que a "prova" apresentada pelos assessores de Richa foi por demais frágil: um vídeo igualmente clandestino em que um dos "vazadores" da gravação comprometedora, sob visível indução, insinua – mas não afirma – a participação daqueles personagens na trama.

Fora denunciar a suposta "armação política", o que ficou claro na entrevista dos assessores e em outros fatos levantados pela imprensa até agora foi que:

1) Houve distribuição de dinheiro para pessoas que se dispuseram a apoiar a reeleição do prefeito;

2) Foi criado um comitê especial para estruturar a ação dos dissidentes pagos;

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3) O imóvel em que este comitê funcionou foi alugado em nome da campanha de Beto Richa;

4) As demais despesas (gasolina, material de propaganda, etc.) foram pagas pelo partido de Richa, o PSDB.

5) O coordenador do comitê e os principais líderes do movimento dissidente do PRTB ocupavam cargos de confiança na prefeitura. Outros foram nomeados logo após a eleição.

Esta sequência de fatos conhecidos é agora indesmentível e leva à lógica suposição de que tudo o mais que acontecia no comitê obedecia a uma coordenação superior da campanha ou de pessoas nas quais o candidato Beto Richa depositava confiança. Caso contrário, nem as teria nomeado e nem, depois, dar-lhes-ia encargos importantes na campanha.

Pois bem: se os personagens eram conhecidos e de confiança; se o locatário do imóvel era a própria camapnha do candidato Beto Richa; se toda a estrutura foi montada para favorecer sua campanha; se muitos gastos foram cobertos com recursos declarados do PSDB – então, por que não podem ser esclarecidas também as seguintes perguntas:

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• De onde surgiu o dinheiro para pagar os dissidentes do PRTB?

• Para que serviam os recibos assinados pelos beneficiários e para quem foi feita a prestação de contas?

• Se todas as ações e gastos do comitê eram direcionados para a campanha de Richa, por que os recursos não foram contabilizados no caixa 1 e registrados no TRE?

Estas são as perguntas essenciais. Ninguém sabe responder? Talvez o Ministério Público Estadual, que ontem anunciou já ter iniciado as investigação, consiga obter as respostas.