Na Cruz
Prosseguem as investigações do MP-PR sobre supostas irregularidades na filial paranaense da Cruz Vermelha Brasileira (CVB). A responsabilidade para averiguar os possíveis desvios de recursos e de finalidade da instituição filantrópica estão desde ontem a cargo da promotora Aisha Sella Claro de Oliveira, da Promotoria do Patrimônio Público, após a verificação de graves inconsistências na primeira fase da investigação conduzida por outra promotora, afastada do caso por determinação do Conselho Superior do MP. As investigações serão ampliadas para uma questão que foi deixada ao largo: o Hospital da Cruz Vermelha mantém convênio com o governo do estado para prestar serviços para o SAS – Sistema de Assistência à Saúde do servidor público – e, portanto, recebe recursos estaduais. E por ser uma instituição com o selo de filantrópica, está legalmente impedida de gerar lucros para seus próprios diretores, suspeitos de explorar comercialmente bens e equipamentos do hospital de forma privada. O presidente da CVB paranaense, o médico Jerônimo Fortunato, será outra vez chamado a prestar esclarecimentos.
Enquanto Aécio Neves mantém sua pregação pelo impeachment da presidente Dilma Roussef, outros grão-duques do PSDB trabalham em sentido oposto. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador paulista Geraldo Alckmin agem na surdina para apaziguar os ânimos e para não criar mais problemas à estabilidade de Dilma até o fim natural do seu mandato. Os movimentos dos dois são acompanhados discretamente pelo Palácio do Planalto, que já decifrou o objetivo da dupla: criar condições políticas para cacifar a candidatura de Alckmin à presidência em 2018. Para tanto, é preciso manter a normalidade institucional e evitar solavancos do tipo impeachment. Na visão deles, a volta do PSDB ao poder deverá passar, obrigatoriamente, pela normalidade político-eleitoral e pela estrita obediência ao calendário. A viabilização de Alckmin significará o esvaziamento da figura de Aécio como representante do tucanato e da oposição (que não soube desempenhar). Ademais, FHC e o governador paulista teriam a noção de que as opções (Temer, Cunha ou Renan) para suceder Dilma num afastamento prematuro dela não convêm ao país. Por isso, até por motivos “patrióticos”, o melhor é evitar essa possibilidade e aproveitar o desgaste de imagem do governo para, neste tempo, ocupar o vazio de lideranças e construir a candidatura de Alckmin.
De quem é esta visão do cenário? De Eleonora Menicucci, ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência, que na semana passada esteve em Curitiba. Quando fora dos compromissos protocolares, falou reservadamente com alguns poucos políticos da terra com os quais achou conveniente um diálogo mais aberto. Circunstantes dessas conversas admiraram-se com a tranquilidade com que a ministra descreveu a paisagem vista do 3.º andar do Planalto. Manicucci não faz parte da cozinha política da presidente, mas é dos raros membros da equipe que conhecem a cabeça de Dilma: ambas são amigas desde quando dividiram as mesmas celas durante o ditadura. E, por conhecê-la bem, assegura: a palavra renúncia não se inclui entre os verbetes do dicionário da presidente. Já a palavra teimosia faz parte. E é por isto, segundo a ministra-amiga, que Dilma continuará apostando todas as fichas no ajuste fiscal. Sua teimosia consiste em fazer tudo o que for possível para entregar ao sucessor em 2018 um país com as finanças reequilibradas, diz Manicucci. Mais teria dito a ministra: Dilma ouve muito poucos antes de agir. Entre esses poucos Lula já não está.
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