Olho vivo
No fim...
A CPI do Transporte Coletivo entrega hoje seu relatório final ao prefeito Gustavo Fruet. Além das recomendações para barateamento da passagem de ônibus, sugere o cancelamento do contrato de concessão e o indiciamento de ex-diretores da Urbs, de alguns funcionários e de uma centena de empresários. Segundo os vereadores Jorge Bernardi e Bruno Pessuti presidente e relator da CPI o relatório que chegará ao prefeito está completo.
... um mistério
Não deixa de ser um alívio: ontem à tarde levantaram-se suspeitas sobre misterioso desaparecimento dos nomes dos empresários do relatório. De fato, eles não apareciam no texto disponibilizado no site da Câmara. Mas o motivo teria sido meramente técnico: incompatibilidade entre programas de informática na passagem do original para o formato da internet.
Dever e...
Em 3 de setembro de 2009 o Diário Oficial da prefeitura de Curitiba publicou o Decreto 1127. No dia 24 do mesmo mês saiu outro decreto com o mesmo número. Olhos mais atentos foram buscar eventual diferença e acabaram encontrando: no artigo 4.º, o impositivo verbo "dever" foi substituído pelo optativo "poder". Parece pouca coisa, mas não é.
... poder
Na primeira versão estava escrito que os estabelecimentos comerciais grandes shoppings, por exemplo "deverão" garantir estacionamento gratuito aos clientes que comprovem compras. Já na segunda, eles "poderão" assegurar a gratuidade. Na primeira, tratava-se de uma obrigação; na segunda, de uma opção. O que causou a mudança é coisa que ainda precisa ser descoberta principalmente hoje, dia em que uma audiência pública debate novo projeto que prevê a gratuidade obrigatória.
É frequente que governos em apuros declarem moratória um ato unilateral, previsto na legislação, que lhes dá o direito de retardar ou parcelar o pagamento de dívidas. Sarney fez isso na Presidência em 1987; Beto Richa quando assumiu o Palácio Iguaçu em 2011; e também Gustavo Fruet, ao tornar-se prefeito, em janeiro. A justificativa foi sempre a mesma: os antecessores deixaram as finanças depauperadas e precisavam de um tempo para reorganizá-las. E então suspenderam pagamentos de fornecedores para, em seguida, em alguns casos, dividi-los em suaves prestações.
Claro que isso tem preço: empresas que ficam sem receber passam a enfrentar dificuldades, deixam de pagar funcionários, paralisam obras e às vezes até vão à falência. Pior: rompe-se a confiança entre o governo e seus credores. Ou até, como lá no caso de Sarney, que deixou de pagar juros da dívida externa, os financiadores fogem. Pois bem: tudo isto para informar que, embora não tenha declarado formalmente a moratória do Paraná, na prática é quase a mesma coisa. Obras paradas, empreiteiras asfixiadas, hospitais sem repasses, viaturas da segurança de tanque vazio, telefones cortados, contribuições previdenciárias suspensas... A quanto monta a dívida, ninguém revela mas há quem estime, talvez exageradamente, que chegue a R$ 3 bilhões.
O sufoco, como sempre, acaba chegando aos elos mais fracos da corrente. Por exemplo: neste momento 4 mil trabalhadores de empresas de vigilância estão ameaçados de não receber o salário de dezembro, 13.º, abonos de férias e rescisões, segundo denunciam os sindicatos de trabalhadores e das empresas. De acordo com o presidente da federação dos trabalhadores, João Soares, já passa de três meses o atraso do governo junto às empresas, com reflexo para os empregados. O sindicato das empresas fala em R$ 12 milhões de atrasados.
A saga dos depósitos
Por falar nos seus apuros de caixa, o governo estadual acaba de inaugurar a terceira tentativa para recolher ao Tesouro parte dos depósitos judiciais tributários guardados pelo Tribunal de Justiça. Chegou nesta semana à Assembleia Legislativa um novo anteprojeto a ser votado às pressas para permitir ao estado acesso a 70% dos recursos. Não se sabe exatamente a utilidade de nova lei, já que há uma federal de 2006 e outra, assinada por Beto Richa, de 2012, que já davam plena capacidade ao estado de acessar o dinheiro.
A batalha está sendo longa. Desde janeiro deste ano o governo tenta a mesma coisa ora com a criação de um caixa único, ora requisitando também depósitos de particulares ou recorrendo ao CNJ e ao STJ para fazer valer um direito que já era líquido e certo. No meio de toda esta confusão, um nome se destacou o do afastado presidente do Tribunal de Justiça, Clayton Camargo, que na mesma época queria ver o filho Fabio conselheiro do Tribunal de Contas, de fato nomeado, mas agora também afastado.
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