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Olho vivo

Tudo dominado

Antes de viajar para a Europa, no início da semana, o governador Beto Richa deve formalizar aliança com a bancada do PMDB na Assembleia. Com isso, mais uma dúzia de deputados passam a compor a já ampla maioria governista, isolando ainda mais a minoria oposicionista, que passa a ser representada praticamente apenas pelos sete petistas que habitam a Casa. A costura com o PMDB vinha sendo alinhavada há tempos e só pode ser concluída porque Richa demoveu as resistências do líder do governo, o tucano Ademar Traiano.

Até ele 1

Domingo passado, esta coluna revelou que pesam contra a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) milhares de ações trabalhistas que montam a quase meio bilhão de reais – valor igual ao que a autarquia tem guardado nos bancos. Faltou dizer que um dos que reclamam indenizações é o atual superintendente da Appa, Airton Maron.

Até ele 2

Ele moveu duas ações ao tempo em que o superintendente era Eduardo Requião. Da primeira, que reclamava enquadramento funcional (Maron é servidor de carreira da Appa), segundo informou, desistiu tão logo assumiu o cargo. Mas a segunda, cujo valor pode chegar a R$ 800 mil, continua tramitando na Justiça. Maron ainda não sabe se vai desistir: se a Justiça declarar que a indenização deverá ser paga por Eduardo Requião, manterá a ação; se decidir que é a Appa, promete renunciar aos seus direitos.

A eleição municipal de 2008 levou às urnas 1.068.613 curitibanos; 965.083 votaram nos 797 candidatos a vereador inscritos para disputar as 38 vagas da Câmara. Os 38 eleitos somaram 299.325 votos. Pergunte-se a cada um desses: você aplaudiria a decisão do vereador em que você votou de não apoiar a criação da CPI para investigar os atos suspeitos do presidente João Cláudio Derosso?

Salvo poucas exceções, os 299.325 eleitores já nem se lembram em quem votaram – mas com certeza seriam favoráveis à instalação da CPI. Confiantes, no entanto, na memória fraca do povo, 23 vereadores da situação se reuniram na calada da noite de terça-feira e firmaram sua posição: não só votarão contra a CPI como tentarão esvaziar todas as demais iniciativas internas que visem à apuração dos fatos.

Assim, além de não apoiarem a CPI, os vereadores da maioria também vão contrariar os eleitores com esforços pessoais para que a Comissão de Ética da Câmara produza resultados pífios diante das três denúncias que lhe foram encaminhadas contra Derosso: gastos excessivos com publicidade, favorecimento a uma agência de propriedade da mulher e nepotismo.

Já que 23 firmaram pacto de sangue para proteger Derosso, a CPI já estaria previamente derrotada? Não necessariamente: ontem, das 13 assinaturas necessárias, o líder da oposição, vereador Algaci Túlio, já havia recolhido sete e espera que os três do PDT também assinem. Nesse caso, já seriam dez. O único representante do PSC também já foi instruído pela direção do partido a firmar o documento. E as outras duas, de onde viriam?

Uma delas pode ser a da vereadora Renata Bueno, do PPS, partido que integra a base situacionista. Ela já disse que CPI não é coisa séria; serviria apenas de palco para a oposição fazer política – contrariamente à opinião do pai dela, deputado Rubens Bueno, secretário nacional do PPS, que tem se notabilizado na Câmara Federal por iniciativas de investigação quanto à corrupção em ministérios e outros órgãos federais. O voto faltante poderia ser do marido de Renata, o vereador pepista Juliano Borgheti, que já se manifestou favorável ao afastamento de Derosso.

Os que são contra a CPI alegam ser ela desnecessária porque o Tribunal de Contas e o Ministério Público já abriram procedimentos para apurar as supostas irregularidades praticadas na gestão de Derosso. Eles contam com o benefício da lentidão desses organismos. Por exemplo: o Tribunal de Contas sempre aprovou as contas da Câmara – ou seja, nunca havia antes notado as irregularidades que só vieram a público graças à imprensa. Quanto ao Ministério Público, não custa lembrar que sua inação foi responsável pela prescrição dos crimes de improbidade que envolveram 73 dos 74 deputados enrolados desde a década de 90 no caso dos "Gafanhotos" – funcionários fantasmas cujos salários iam parar nas contas bancárias dos próprios deputados. Se o MP fosse rápido, pelo menos 20 dos atuais deputados estaduais não estariam hoje exercendo novos mandatos.

Logo, ainda que o TC e o MP investiguem a Câmara, mal não faria que os próprios vereadores fizessem o mesmo. A menos que tenham medo de revelações que possam comprometê-los. Seria esse o motivo?

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