O processo de impeachment está entrando em sua reta final. Depois do episódio bizarro da última segunda-feira, não me surpreenderia uma suspensão de último minuto da sessão que votará o afastamento de Dilma Rousseff. Mas é praticamente impossível – e não digo praticamente querendo dizer “quase” – uma virada em curto prazo no jogo político. Ou seja, se não acordarmos amanhã com Michel Temer presidente, acordaremos depois, ou semana que vem.
Mas engana-se quem acredita que, com a conclusão deste processo (vale lembrar que, após o afastamento, ainda há a votação final do impeachment), estará encerrada a crise política na qual o Brasil se enfiou. Não falo aqui do questionamento à legitimidade de Temer por parte do PT e de parte da esquerda brasileira. Falo do Congresso.
O fato é que o parlamento brasileiro é muito ruim, e o processo de impeachment deixou isso transparente. Concorde ou discorde do resultado, não há como não ficar envergonhado com o circo que a votação do impeachment na Câmara virou. Concorde ou discorde do resultado, não há como negar que o leilão de cargos (que aconteceu dos dois lados) foi um fator muito mais decisivo na votação do que os crimes de responsabilidade atribuídos a Dilma. E por aí vai.
Mas nem precisava de tudo isso para se chegar a essa conclusão. Dados da ONG Transparência Brasil mostram que 58,9% da Câmara e 59,3% do Senado tem alguma pendência com a Justiça. Dezenas de parlamentares estão sendo investigados pela Operação Lava Jato, incluindo os presidentes das duas Casas. Cada vez mais, o envolvimento em ilícitos é regra, e não exceção.
Há, ainda, o fisiologismo, irmão gêmeo da corrupção. A falta de representatividade de minorias. A força do lobby. A incapacidade de olhar além do próprio umbigo. E, enquanto o Congresso continuar assim, escândalos continuarão acontecendo, a legitimidade do Legislativo – e da política – continuará sendo questionada pelo eleitor, e o ciclo vicioso da política continua.
O que Temer vai fazer diante desse Congresso? Sua postura diante do Congresso vai ser diferente da de Dilma e de Lula? E, valendo um milhão de reais, o que ele pode fazer para mudar esse cenário?
Por um lado, é seguro apostar que o modelo de balcão de negócios, a cessão de nacos da Esplanada dos Ministérios e das estatais para a base aliada, deve continuar. Temer dependeu do Congresso para chegar ao poder, e vai depender dele para exercê-lo. Não se espante quando isso acontecer – inclusive, com figuras que já passaram pela Esplanada na era petista.
Há diferenças fundamentais com Dilma, porém: primeiro, ele vem do Congresso e sabe bem como a banda toca. Além disso, parte de boas relações com a grande maioria do parlamento. Ou seja, deve ter mais facilidade para tocar seu governo. Entretanto, se isso resolve o problema da governabilidade, na melhor das hipóteses nos deixa na mesma quanto ao resto.
O que ele poderia fazer para resolver isso é retomar a discussão da reforma política. Não da forma que foi feita nas últimas vezes, em alguma sala empoeirada do Congresso com meia dúzia de deputados ou senadores. Uma discussão sem restrição a ideias pré-concebidas, temas limitados. Com participação efetiva da sociedade civil. Com foco em como trazer o cidadão de volta para a política, e não em tornar a política algo ainda mais restrito às elites partidárias.
A chance de isso acontecer, porém, é pequena. Temer é fruto direto da política mais tradicional, mais fechada e mais distante da população. Logo, reformar o sistema político é a última de suas preocupações. A não ser, claro, que essa ideia “pegue” na sociedade.