Não chega a ser bem uma novidade. Já na campanha eleitoral de 2014, em um evento da ala “requianista” do PMDB em Santa Felicidade, o vice-presidente Michel Temer já conclamava, entre polentas fritas e asinhas de frango, os militantes locais do partido a construir uma candidatura presidencial própria para 2018. A crise entre os dois sócios majoritários do governo federal apenas escancarou essa intenção.
Discute-se, neste momento, quem poderia ser o presidenciável. O nome mais cotado é o do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. A aposta é que ele será o “prefeito olímpico”, coberto das glórias de um megaevento internacional em sua paróquia. O efeito da Copa do Mundo na economia e na política do país deveria servir como uma advertência, mas, aparentemente, ninguém se atentou a esse detalhe. Nomes como o do ainda tucano Alvaro Dias, de Eduardo Cunha e de outros também foram cogitados. Mas, antes de discutir essa questão menor, há uma pergunta bem mais importante que não foi respondida: afinal, para que o PMDB quer presidir o Brasil? Ou, melhor dizendo, o que o PMDB oferece para o país?
A essa altura do campeonato, pouca gente parece estar satisfeita com a polarização do debate eleitoral entre PT e PSDB – que há 20 anos se sucedem na Presidência do Brasil garantindo ser o menor dos males. Mas, ame ou odeie essas duas legendas, uma coisa é preciso admitir: elas têm ao menos algo que vagamente parece um projeto de país. Seja quem for o candidato petista ou tucano, há sempre uma posição comum sobre política externa, macroeconomia ou qualquer outro grande tema.
Ter um projeto, claro, não significa colocar esse projeto em prática – aliás, é perfeitamente possível que o governo eleito vá na direção diretamente oposta, como provou Dilma Rousseff. Ainda assim, a existência de um projeto (ou algo vagamente parecido com isso) garante, ao menos, que tenhamos algo a cobrar quando o governo muda radicalmente de direção.
Tampouco isso quer dizer que os projetos petistas e tucanos sejam os únicos possíveis – longe disso. É saudável que outros atores políticos apresentem alternativas, ainda mais em um momento em que PT e PSDB agem de forma muito parecida em relação a inúmeros temas. O problema, no caso do PMDB, é que parece impossível conciliar o amplo leque de propostas políticas que surgem de suas inúmeras lideranças.
Do ponto de vista programático, o PMDB é uma colcha de retalhos. Em um primeiro momento, a luta contra a ditadura e as políticas implementadas pela ditadura serviram como um fator de coesão para lideranças com pensamentos radicalmente diferentes. Entretanto, sem esse inimigo comum, o partido virou uma federação de lideranças sem qualquer unidade.
Por incrível que pareça, isso se tornou a grande força do partido. Sendo uma massa amorfa, uma folha em branco, a grande federação peemedebista soube como poucos partidos se aproveitar do presidencialismo de coalizão. Um partido que aceita a Carta de Puebla de Roberto Requião e o conservadorismo evangélico de Eduardo Cunha tem mais facilidade para aderir a qualquer governo ou oposição, e assim garantir sua sobrevivência política.
Para ter um candidato a presidente, o PMDB vai ter que descer do muro, elaborar um programa minimamente coeso em três anos – e não só torcer para que alguma liderança carismática se revele em algum de seus milhões de filiados. Vendo de longe, qualquer consenso parece improvável. As diferenças de pensamento entre suas lideranças chegam ao ponto da incompatibilidade.
Mais que improvável, sair do muro parece também indesejável. Ter programa e ter candidato é também ser vitrine e correr riscos. Parece muito mais confortável deixar que o PT, o PSDB, a Rede e quem mais resolva lançar candidato ficar com o ônus da batalha política. Com uma bancada grande, sempre há espaço para negociar um pedaço generoso do projeto alheio.
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