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Uma revolta contra a imprensa toma conta de deputados federais e senadores. Para a maioria deles, a sucessão de escândalos diários que assola o Congresso Nacional em 2009 é culpa da má conduta dos jornalistas. Por essa lógica, contratar empregada doméstica via gabinete parlamentar (entre otras cositas más) está certo. O errado mesmo é estampar o fato no jornal.

Na semana passada, líderes partidários de todas as correntes da Câmara usaram o plenário para desabafar. Tudo porque a imprensa teria "distorcido" decisões tomadas pela Mesa Diretora referentes à verba indenizatória de R$ 15 mil mensais por deputado. Na reunião, os parlamentares decidiram manter os gastos com alimentação entre os itens que podem ser ressarcidos.

A única restrição é que esse tipo de despesa agora só pode acontecer no estado de origem dos deputados. O posicionamento foi exatamente o contrário ao de uma semana antes, quando os diretores haviam anunciado a proibição do gasto com comida. O vaivém levou todos os grandes jornais do país a destacar o "recuo" dos parlamentares.

O enfoque foi a gota d’água para as excelências. Entre pérolas proferidas pelos líderes partidários de PSDB, DEM e PPS, a melhor foi a do petista Cândido Vacarezza, de São Paulo. "Os editores estabelecem o tema, e os jornalistas são obrigados a enquadrar o tema dentro da orientação do editor. Isso não contribui para a democracia", disse ele.

Em resumo, é como se tudo fosse uma grande guerra conspiratória. Os generais (editores) passam ordens para os soldados (repórteres) distorcerem os fatos para atingirem o inimigo (deputados). No mundo real, porém, repórteres descobrem indícios de maracutaias com o dinheiro público, que são levadas aos editores, que avaliam se o material é consistente ou não antes de ser publicado.

Enquanto na Câmara o descontentamento limitou-se ao falatório, no Senado houve uma atitude bem mais drástica. A partir de agora, todas demandas dos profissionais de imprensa por informações terão de ser formalizadas com um ofício e encaminhadas com antecedência à Secretaria de Comunicação da Casa. O prazo para resposta é de até cinco dias.

A burocratização dificulta a confirmação de nomes de funcionários e qualquer detalhamento de gastos da Casa. Ou seja, fica mais demorado e complicado apurar casos de nepotismo ou encontrar funcionários-fantasma. Tudo para evitar os "abusos" dos jornalistas.

No meio da suposta guerra, deputados federais e senadores que não têm nada a temer costumam reclamar que a cobertura da imprensa não separa o joio do trigo. Em parte eles têm razão: há sim congressistas que passam longe dos escândalos e que acabam manchados injustamente. Para eles, há só uma arma disponível: a transparência.

Quando todas as informações de interesse público são divulgadas com clareza, mocinhos e bandidos automaticamente ficam em lados opostos. E não há espaço para a tão temida "distorção" dos fatos. O problema é que aceitar a hipertransparência ainda é um tabu – infelizmente entre grande parte do trigo que não vê isso como caminho para se separar do joio.

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Nos corredores

Falta quorum

A escolha do novo coordenador da bancada paranaense no Congresso Nacional permanece emperrada. Pela segunda vez no ano, a eleição não pôde ser realizada na última terça-feira por falta de quorum. Entre outras coisas, o cargo dá o direito de representar os parlamentares do estado na negociação das emendas de bancada ao Orçamento da União. O atual coordenador é Dilceu Sperafico (PP) e o principal interessado em sucedê-lo é Alex Canziani (PTB).

Desalojados

Pelo menos dois deputados paranaenses que moram em apartamentos funcionais da Câmara sentiriam na pele as mudanças discutidas pela Mesa Diretora na semana passada. Assis do Couto (PT) e Gustavo Fruet (PSDB) moram em residências de quatro quartos que seriam divididas pela metade. Eles só não serão desalojados porque a Câmara já desistiu da medida, que custaria R$ 76 milhões, mas acabaria dentro de 5 anos com o auxílio-moradia de R$ 3 mil por mês.

Por telefone

Réu no processo do mensalão, o recém-eleito prefeito de Jandaia do Sul, José Borba (PP), tem passado mais tempo em Brasília do que na cidade do Norte paranaense. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ex-deputado federal disse que "a tecnologia de hoje permite que se governe por celular". Borba também não escondeu a identificação com o antigo partido, o PMDB. Ele disse que só deixou a legenda por desavenças com o governador Roberto Requião (PMDB).

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