Nos corredores
Fruet e Ratinho
Adversários nas eleições municipais de 2012, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) e o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Júnior (PSC), se sentaram frente a frente na última terça-feira, em Brasília, durante a apresentação dos projetos de mobilidade urbana para Curitiba e região metropolitana que podem entrar no pacote de R$ 50 bilhões do governo federal para o setor. O comportamento de ambos foi bem mais cordial que nos tempos de campanha, quando a discussão sobre mobilidade ajudou a polarizar as candidaturas.
Metrô a R$ 3,4 bilhões
Durante a reunião, Fruet apresentou uma estimativa de que os custos do metrô chegariam a R$ 3,4 bilhões, R$ 1,1 bilhão a mais que orçamento feito durante a gestão Luciano Ducci (PSB). Não houve estranhamento. Na sexta-feira, a prefeitura pediu mais R$ 2,1 bilhões ao governo federal para executar a obra. A participação inicialmente prevista para a União, a fundo perdido, era de R$ 1 bilhão.
Avião do governo, não
Na volta das equipes da administração municipal e estadual a Curitiba, após a reunião no Ministério do Planejamento, Fruet e o secretário municipal de Planejamento, Fábio Scatolin, foram convidados de última hora para viajar no avião do governo do estado. Ambos declinaram e preferiram seguir com avião de carreira.
A presidente Dilma Rousseff já havia sido vaiada (timidamente, é verdade) na edição de 2012 da Marcha dos Prefeitos a Brasília. Neste ano, os apupos foram bem mais constrangedores.
A petista também recebeu diversas "homenagens" durante as manifestações de junho. Até que na semana passada, durante os protestos promovidos pelas centrais de trabalhadores, representantes da Força Sindical bradaram o "1, 2, 3, 4, 5 mil, queremos que a Dilma..."
Os episódios reforçam o clima de que todo o desencantamento político do país está sendo canalizado para a presidente. O cenário chega a ser surreal quando relembrada a informação de que, até março, ela quebrava recordes sucessivos de popularidade. Em pouco mais de dois meses, Dilma virou Geni.
Será que ela realmente merece ser o para-raios da raiva popular? No fundo, não se trata de uma questão de merecimento, mas de entendimento das pessoas.
Desde sempre detonar os políticos é uma paixão nacional. Ao contrário do que acontece com o futebol, no entanto, os brasileiros são pouco afeitos a se aprofundar nas regras do jogo democrático. Pouca gente (mesmo entre os mais esclarecidos) conhece bem, por exemplo, os conceitos de separação entre Poderes e federalismo.
Em Brasília, no mês passado, entrevistei um publicitário com uma faixa na frente do Congresso cobrando de Dilma a rejeição à PEC 37, que tentava limitar o poder de investigação do Ministério Público. Ele não se tocou que a presidente trabalha em outro prédio e, claro, não teria como participar da votação.
Há dezenas de equívocos similares. A gestão da saúde e da educação, por exemplo, é compartilhada entre União, estados e municípios. Se em municípios do interior os médicos da rede pública são tratados como empregados dos secretários locais de saúde, não dá para colocar a culpa na presidente. Vale o mesmo para a precariedade dos colégios estaduais de ensino médio. O hábito de se manifestar contra o mau uso do dinheiro público é sempre válido. A eficácia do protesto, no entanto, está diretamente ligada à qualidade da reclamação. Atacar Dilma (ou qualquer outra pessoa pública) por atacar só gera burburinho, mas não chega ao cerne do problema.
Por outro lado...
O panorama atual tem muito a ensinar sobre os efeitos colaterais da receita lulista de se fazer política no Brasil. Lula é protagonista de um modelo em que todas as ações de governo são desenhadas para gerar capital eleitoral ao presidente e seus apadrinhados. Vendeu Dilma como "mãe" do PAC e do Minha Casa, Minha Vida, da continuação do "nunca antes na história desse país".
Com a economia a todo vapor, foi fácil comprar o pacote em 2010. Depois de assumir o governo, Dilma consolidou a imagem de gestora implacável. Na Esplanada, o ambiente sempre foi de que tudo precisa passar pelo crivo do Planalto.
Se a presidente faz questão de centralizar tudo, é natural que o tudo inclua o lado ruim da política brasileira. Parece que a chacoalhada das ruas fez o governo descer do pedestal.
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