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Era 19 de outubro de 1991 quando o presidente da República, Fernando Collor de Melo, chamou o então ministro da Saúde, Alceni Guerra, para uma conversa privada na Casa da Dinda. De supetão, disse que havia escolhido o subordinado para sucedê-lo. A proposta, porém, incluía uma recomendação expressa: para viabilizar a candidatura, Alceni teria de perder o sotaque paranaense.

Passaram-se 16 anos e boa parte da história todo mundo lembra bem – o impeachment encurtou o mandato de Collor, assim como o ex-ministro não passou nem perto de concorrer ao Palácio do Planalto. Dois meses depois do surpreendente papo com o presidente, Alceni começou a ser torpedeado por um total de 30 acusações de irregularidades.

Nenhuma delas foi comprovada, mas em fevereiro de 1992 ele não suportou a pressão e teve de deixar o governo – na época, também acumulava o cargo de ministro da Criança.

Ainda viva no folclore político paranaense, a denúncia mais notória contra Alceni estava ligada à suposta compra superfaturada de 23 mil bicicletas pela Fundação Nacional de Saúde. O escândalo, desmentido meses depois, envolvia as Lojas do Pedro, uma das mais tradicionais revendedoras de utensílios domésticos e brinquedos de Curitiba. Assim como Alceni, a empresa também sofreu o impacto da mídia negativa, mas continua firme e de portas abertas.

E entre as tantas voltas que a política dá, o ex-presidenciável trabalhará a partir de janeiro a poucos quilômetros das Lojas do Pedro, como secretário municipal de Planejamento de Curitiba. E mais perto ainda do Palácio Iguaçu, para onde terá de ajudar a construir o caminho para uma possível candidatura do prefeito Beto Richa (PSDB), em 2010.

De tão calejado, pode-se dizer que Alceni é mesmo a pessoa certa no lugar certo para executar a tarefa. Eleito deputado federal pelo DEM em 2006, recuperou parte do prestígio nacional nos últimos meses ao implantar o sistema de educação integral como secretário extraordinário no Distrito Federal.

O ex-ministro desembarcará em Curitiba com convicções formadas. Na leitura dele, Beto tem o perfil dos raros fenômenos políticos que viram febre entre os eleitores e não têm como ser batidos nas urnas.

Cita exemplos como o do antigo chefe, Collor, nas eleições presidenciais de 1989, e o de Alvaro Dias (PSDB), vencedor e recordista de votos em todos os pleitos que disputou entre as décadas de 70 e 80. Nessa linha, diz acreditar que a única possibilidade de Beto ser derrotado em 2010 é não se candidatar.

Por enquanto, a dúvida é decifrar até que ponto irá a influência de Alceni, afinal o posto de secretário de Planejamento é eminentemente técnico. Beto tem filas enormes de conselheiros e palpiteiros de plantão e, pelo que se sabe, privilegia as idéias do ex-presidente de Itaipu e ex-deputado federal, Euclides Scalco.

A curiosidade é que Scalco e Alceni foram colegas do pai de Beto, José Richa, durante a Constituinte de 1988. Talvez venha daí a familiaridade que traz o ex-ministro novamente à capital paranaense.

Sobre as dicas que Alceni oferecerá ao prefeito, é certo que não haverá nada sobre sotaque. A propósito, ele mesmo nunca se esforçou de verdade para deixar de falar o "leite quente" – mais típico dos curitibanos do que do pessoal do interior. No que depender do novo secretário, enquanto não quiser ser candidato a presidente, Beto está dispensado dos fonoaudiólogos.

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