Todo brasileiro gostaria de ter virado uma mosquinha na última quarta-feira para entrar na sessão secreta que salvou o pescoço de Renan Calheiros. Vários deputados federais conseguiram a metamorfose, garantida pelo Supremo Tribunal Federal, e adentraram à caixa-preta, acarpetada de azul, do plenário do Senado.
Entre os penetras, batizados cinematograficamente como "13 Homens e nenhum segredo", estava o paranaense Gustavo Fruet (PSDB). Saiu de lá com as mãos doídas de tanto anotar o que se passava estava expressamente proibido de portar gravadores e máquinas fotográficas. Das oito páginas de garranchos, salvou frases e cenas marcantes.
Eram 12h50 quando o senador Almeida Lima (PMDB-SE), suplente que virou relator do processo de cassação e ganhou o apelido de pitbull de Renan, começou o seu discurso. À la Requião, bateu impiedosamente na mídia. "Somos vítimas de uma imprensa abjeta, impudica, desqualificada", esbravejou.
Falou tanto e tão alto os microfones estavam desligados que pediu água. E quem é que levantou para buscar um copo? Renan, o ex-amante de jornalista. Mas, não concretizou o ato. Gilvam Borges (PMDB-AP) o fez.
Renan esteve quase sempre sorridente, ancorado na segurança do velho PMDB de guerra de José Sarney. O ex-presidente, renanzista discreto e eficaz, deu atenção especial ao discurso de Francisco Dornelles. Só não conseguiu disfarçar o descontentamento no momento que Dornelles disse que Juscelino Kubitscheck fez o melhor governo da história do Brasil.
Renan não esqueceu totalmente da água. Deixou para o eletrizante final. Escutou pacientemente a também alagoana Heloisa Helena. Depois, desancou denúncias de que ela deveria R$ 1 milhão ao fisco. Disse que ela deveria usar água oxigenada para se limpar. Já a ex-senadora rebateu dizendo que ele deveria usar água sanitária para se dirigir a ela. Líquido para tudo quanto é lado, antecipando a sólida absolvição de Renan. E o eleitor, que elege e depois perde o direito de saber como seu escolhido exerce o mandato, só sabe disso por terceiros. Foi a dignidade dele que morreu afogada.
Nos corredores
Melhores do Congresso Osmar Serraglio (PMDB) e Gustavo Fruet (PSDB) são os únicos deputados paranaenses entre os finalistas da eleição dos melhores parlamentares do Congresso Nacional. A escolha contou com a participação de 188 jornalistas, que cobrem o dia-a-dia do parlamento brasileiro, e é promovida pelo portal Congresso em Foco. Entre os senadores, não há nenhum do Paraná, apesar de Alvaro Dias (PSDB) ter vencido a eleição no ano passado.
PT sem Arns A executiva estadual do PT realiza hoje, às 9 horas, em Curitiba, uma reunião para discutir as eleições municipais de 2008 e as eleições internas. São esperados o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o senador Flávio Arns. O parlamentar disse ontem que não vai, um dia depois de anunciar que pretende deixar o partido. Já tem as portas abertas no PDT, de Osmar Dias.
Alvaro na presidência O senador Alvaro Dias (PSDB) poderia ser o substituto de Renan Calheiros na presidência do Senado. Segundo vice-presidente da Casa, por pouco ele não ficou com a primeira suplência. "Era uma cadeira definida, que só não ficou comigo porque o PFL (atual DEM) queria a terceira-secretaria", diz. Para quem não lembra, Alvaro também tentou ser candidato à presidência da República, em 1989.
A volta dos que não foram Muito se falou, muito se combinou, mas o deputado Alceni Guerra (DEM) definitivamente não deixará a Câmara para ser secretário de Educação do Distrito Federal. Entre jornalistas brasilienses, comenta-se que o convite nem teria sido feito. O curioso é Alceni chegou a fazer um discurso em tom de despedida no plenário, há duas semanas, sendo abraçado por vários colegas depois da fala.
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"O PT perdeu a grande chance de recuperar a bandeira da ética. E o problema não foi ter apenas se abstido, mas contribuído para que a absolvição desse certo."
Flávio Arns (PT), senador, sobre o seu descontentamento com o próprio partido.
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