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Especialistas em pesquisas e marketing político são unânimes: candidato à reeleição (em especial para prefeito e governador) precisa fazer campanha para vencer no primeiro turno. Se der mole e for para o segundo, mesmo com favoritismo e máquina na mão, a chance de se estrepar é enorme. Beto Richa (PSDB) seguiu a cartilha no Paraná e sempre jogou todas as fichas em fechar a conta em uma só tacada.

Começou na pré-campanha, quando tentou atrair o PMDB para a chapa e impedir a candidatura do senador Roberto Requião. Perdeu os peemedebistas, mas reagiu rápido ao rifar o atual vice, Flávio Arns (PSDB), e colocar no lugar a deputada federal Cida Borghetti (Pros). Com isso, garantiu o apoio do clã Barros (que controla três partidos no estado) e montou uma coligação gigantesca, com 17 legendas e um tempo de televisão de 8m28s.

A jogada desidratou os dois principais adversários, Requião e Gleisi Hoffmann (PT). Com três siglas, a chapa do senador ficou com 2m51s de tempo de televisão. Com cinco, a da petista teve direito a 3m52s. A diferença ajuda o tucano a se desvencilhar de ataques e a vender a ideia de um governo que deu certo.

Ainda assim, o início da campanha reservou um susto para Richa. A primeira pesquisa Datafolha*, de 15 de agosto, apontou um empate técnico entre ele (com 39%) e Requião (33%) e Gleisi com distantes 11%. Na última**, de 18 de setembro, o atual governador apareceu com 44%, contra 30% de Requião e 10% de Gleisi.

Na soma geral, Richa teve três pontos porcentuais a mais que a soma de todos os concorrentes. Pela margem de erro, no entanto, a vitória no primeiro turno ainda é incerta. A 13 dias da eleição, o cenário chegou a uma instabilidade que pode virar para um dos dois lados a qualquer momento.

Até meados semana passada, quando o último Datafolha foi divulgado, a estratégia do tucano era clara: esfriar o jogo e criar um ambiente de já ganhou. No Brasil (e mais ainda no Paraná), sempre houve um estranho processo de voto útil, no qual parte do eleitorado migra para o candidato que está na frente das pesquisas só para evitar o aborrecimento de um segundo turno. É o contrário do fenômeno do candidato "underdog" (azarão), que costuma emocionar eleitores europeus e norte-americanos.

Não é apenas Richa que colabora para esse cenário. Eterno candidato a tudo há 32 anos, Requião faz uma campanha cansativa, pautada em velhões chavões readaptados – a promessa de congelamento das tarifas de água e energia elétrica são uma nova roupagem do baixa ou acaba do pedágio. E, pelas pesquisas, Gleisi é vista pelo eleitor como uma candidata café-com-leite.

O grande adversário de Richa, por enquanto, é ele mesmo. Ou melhor, fantasmas do passado que ele fez questão de não tirar do armário. Na sexta-feira, a Gazeta do Povo revelou que o Ministério Público Estadual abriu inquérito, dia 29 de agosto, para apurar a suposta existência de funcionários fantasmas da Assembleia Legislativa lotados no gabinete de Beto Richa, que foi deputado estadual entre 1995 e 2000.

É só um inquérito, mas pode ser suficiente para mexer dois ou três pontos nas intenções de voto. Talvez obrigue Richa a sair da estratégia da não-campanha, pelo menos para se defender. Por enquanto, a única emoção no debate eleitoral do Paraná é saber se vai haver segundo turno. Se houver, o jogo estará zerado, com tempo de tevê igual – e com PT e PMDB alinhados para derrubar o governador.

Metodologia

* Pesquisa encomendada pela RPC-TV e pela Folha de S. Paulo. Foram entrevistados 1.226 eleitores em 46 municípios entre os dias 12 e 14 de agosto. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi feito com o número BR-00358/2014.

**Pesquisa encomendada pela RPC-TV e pela Folha de S.Paulo. Foram ouvidas 1.256 pessoas em 46 municípios entre os dias 17 e 18 de setembro. A margem de erro é de três pontos porcentuais para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O registro no TSE foi feito com o número BR-00665-2014.

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