Nos corredores
Lição de casa
A bandeira levantada pelo PMDB paranaense a favor de que o partido tenha candidatura própria para presidente cai como uma luva para os planos do vice-governador Orlando Pessuti. Afinal, se o diretório estadual não mede esforços em torno desse objetivo, terá de dar o exemplo dentro de casa. A tese é de que será obrigatório lançar candidato próprio a governador em 2010, ou seja, Pessuti. A maioria das lideranças do partido, no entanto, tem dado sinais de que prefere uma aproximação com o PSDB.
De olho no TSE
O deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB) propôs na semana passada que a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara promova uma ação para apurar supostas irregularidades na construção da nova sede do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília. A obra, avaliada em R$ 369 milhões, tem sido alvo de inúmeras denúncias de desperdício de dinheiro público. Entre os excessos, está a compra de um elevador gigante para empilhar mercadorias e antenas de televisão a cabo.
Escutas
O deputado federal Gustavo Fruet (PSDB) apresentou na semana passada o relatório sobre o Projeto de Lei 1258/1995, que regulamenta o uso de escutas telefônicas. O substitutivo proposto pelo paranaense também incorpora a regulamentação das interceptações telefônicas a captação de imagens e som ambientais as chamadas "escutas ambientais". No texto, Fruet utilizou como base o projeto de lei proposto pela CPI das Escutas Clandestinas, da qual fez parte.
O traço mais marcante da recente política paranaense talvez seja o tal "acordo branco". Trocando em miúdos, trata-se de uma negociação em que os políticos se acertam e dividem espaços antes das eleições para evitar o risco de deixar tudo nas mãos do eleitor, esse enxerido. A prática, em grande parte, se deve a um motivo histórico a maioria das atuais lideranças do estado tem a mesma origem.
Tudo começou com o fim da ditadura militar e a eleição de José Richa como governador, em 1982. Era a ascensão do PMDB, que nos últimos 26 anos só ficou de fora do Palácio Iguaçu durante a gestão Jaime Lerner. Das asas de Zé Richa não saiu apenas o filho, Beto, mas também Roberto Requião, Alvaro e Osmar Dias, quarteto que irá se digladiar por nacos de poder em 2010.
O tempo passou e cada um construiu o próprio caminho. Nessa trajetória, porém, as trombadas foram inevitáveis ainda mais com a soma de Lerner ao grupo. Eis que surgiu a necessidade de delimitar espaços. O acordo branco mais notório ocorreu em 1998, quando Alvaro acertou os ponteiros com Lerner, que brigava pela reeleição como governador, e participou da disputa pelo Senado sem enfrentar qualquer adversário relevante. Ambos conseguiram vitórias estrondosas. Em contrapartida, Lerner passou quatro anos sem nenhum aliado no Senado e suou para conseguir todos os empréstimos ao estado que precisaram ser aprovados pela Casa.
Em 2002, Requião até admitiu concorrer à reeleição como senador e apoiar Osmar para governador. O acerto só não saiu porque Alvaro convenceu o irmão de que era o favorito nas pesquisas. Resultado: acabou perdendo de virada para Requião uma eleição que era considerada favas contadas.
Quatro anos depois, Requião esforçou-se o quanto pôde para fechar todas as portas para os adversários. Consolidou uma chapa com o então rival PSDB, que só foi desmanchada após intervenção do diretório nacional tucano. Osmar, do PDT, foi chamado às pressas para a disputa e por 10 mil votos não estragou de vez o acordão.
Em 2008, veio a eleição para a prefeitura de Curitiba. Beto formou uma enorme coligação com 11 partidos, equivalente a 42% das legendas que participaram do pleito. Isolou o PT de Gleisi Hoffmann e, de quebra, enfrentou um despedaçado do PMDB, cujo candidato Reitor Moreira teve apenas 1,9% dos votos.
É daí que, supostamente, começou a ser produzido o alvejante que pode dar, ou melhor, tirar, a cor das eleições de 2010. Ao esparramar a oposição contra Beto no ano passado, Requião estaria na verdade pensando na campanha para senador no ano que vem. Obviamente, ninguém confirma o toma-lá-dá-cá, mas os últimos acontecimentos dão veracidade à combinação. Requião pode até lançar-se candidato a presidente da República, mas o alvo no mundo real é o Senado. Ao brigar com a cúpula do PMDB que quer a aliança nacional com o PT, o governador sabe que o resultado será a aproximação dele com o PSDB. Assim como ficou claro na visita de José Serra a Curitiba, na última quinta-feira.
Com o aval (seja ele formal ou informal) do PMDB, o caminho de Beto rumo ao Palácio Iguaçu ficaria devidamente pavimentado. Resta, entretanto, saber como ficam os irmãos Dias. Ambos negam qualquer hipótese de acordo Alvaro diz que está na disputa interna do PSDB com Beto e Osmar garante que só faz planos para o governo do estado. Se as declarações forem mantidas, a tendência é de uma das eleições mais disputadas da história do estado em 2010. Caso contrário, aumenta o cheiro de um generalizado acordo branco. Tão branco que deixaria o eleitor paranaense vermelho. De vergonha.