Se o Congresso Nacional é mesmo a tal grande arena da democracia brasileira, não faltam adversários de peso na legislatura que começa. Engana-se, contudo, quem espera por plenários transformados em ringues de boxe – embora o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o deputado federal Acelino Popó Freitas (PRB-BA) tenham até agendado uma luta de verdade na semana passada. Por enquanto, o clima é de paz e amor.

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A única faísca saiu quando o calouro Randolfe Rodrigues (PSol) resolveu confrontar José Sarney (PMDB) em uma disputa "amapaense" pela presidência do Senado (Sarney, como todos sabem, é um maranhense eleito pelo Amapá). Randolfe até que não decepcionou. Recebeu oito votos, contra 70 do adversário –houve ainda duas abstenções e um voto nulo.

Aos 38 anos, Randolfe é o senador mais jovem da Repú­blica. Sarney tem 80 anos, 56 deles apenas como congressista. O socialista de fala fina foi firme ao se contrapor ao peemedebista, mas no final rendeu-se à cordialidade de um abraço apertado no tetrapresidente da Casa.

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Assim como Sarney, Randolfe não é amapaense da gema. Nasceu em Garanhuns, município do interior de Pernambuco de onde se desmembrou Caetés, terra natal do ex-presidente Lula. A diferença é que Randolfe fez toda carreira no Amapá, liderando os caras-pintadas do estado contra Fernando Collor.

Collor, hoje no PTB, também é senador. Ele e Lindberg Farias (PT-RJ), "muso" cara-pintada nos anos 1990, protagonizaram um reencontro histórico na terça-feira. Hoje senhores grisalhos, cumprimentaram-se com educação, prometeram "trocar informações" e posaram, curiosamente, como dois aliados de primeira linha da presidente Dilma Rousseff (PT).

Não foram os únicos a chamar a atenção. O ex-casal de petistas Marta e Eduardo Suplicy agora são colegas de Senado. Marta, eleita vice-presidente da Casa, estreou na função tendo de cortar o microfone do ex-marido que, para variar, descontrolou-se no tempo do primeiro discurso que fez no ano.

Há ainda os paranaenses. Em 2006, Alvaro Dias (PSDB) travou uma campanha duríssima de reeleição contra uma então desconhecida Gleisi Hoffmann (PT). Eis que, ano passado, a petista venceu e agora, feroz governista, senta-se exatamente ao lado direito de Alvaro, o mais contundente oposicionista do Senado.

Do lado esquerdo dela fica a cadeira de Roberto Requião (PMDB). Quando deixou o Congresso, em 2002, Requião era apontado como um dos 100 parlamentares mais influentes do país. Outro que integrava a lista era o deputado federal Rubens Bueno (PPS).

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Assim como Requião, Bueno está de volta ao Congresso após oito anos focado na política estadual. Ambos se enfrentaram nas eleições para o Palácio Iguaçu em 2002 e 2006. No ano passado, a inimizade dos dois virou notícia quando Bueno deu um soco em Requião no aeroporto de Campo Mourão.

Bueno, entretanto, não cogita repetir a cena em Brasília. "Temos nos encontrado, sim, por aqui. Não nos cumprimentamos, mas essa história já passou", disse o deputado em uma conversa à espera do discurso de Dilma no plenário da Câmara, na quarta-feira. Minutos depois, Requião chegou e acompanhou a fala a três metros do desafeto.

Não, não houve qualquer chispa. A propósito, nem Suplicy lutou com Popó. No dia marcado, ambos falaram que era só uma brincadeirinha.

Ainda bem.

Nos corredores

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Como na Argentina

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, acompanhou a presidente Dilma Rousseff na viagem à Argentina e voltou com novas ideias de popularização do acesso à internet. Ele gostou especialmente da oferta de sinal gratuito por rádio (wi-fi) em praças. "Poderíamos fazer isso em escolas que já têm banda larga. É só colocar um roteador e abrir nos fins de semana para a comunidade."

Entrosado

Roberto Requião (PMDB) tem demonstrado entrosamento com novos e antigos colegas de Senado. Na primeira semana de trabalho, esteve entre os mais procurados para bate-papos em plenário. Entre os que têm mais falado com o paranaense está o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Ele sempre sai das conversas com Requião sorrindo.

Bombeiro

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Perguntado sobre a maior dificuldade no trabalho como líder do PP, quarto maior partido da Câmara, o deputado paranaense Nelson Meurer tem repetido a resposta: "me sinto como um bombeiro". Segundo ele, mais difícil do que negociar com os demais líderes é intermediar a solução de problemas internas da legenda. Meurer conta que vai "atender o chamado" do partido para ficar no cargo por um ano.