Junte meia dúzia de amigos no churrasco do próximo sábado e puxe uma conversa sobre as propostas de Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) para a reforma tributária. Discorra sobre a funcionalidade do IVA em substituição ao ICMS e como isso pode reduzir a guerra fiscal entre estados. Prepare-se para, em dois minutos, metade do pessoal sacar seu smartphone para dar uma olhadinha no Facebook, dois zarparem em busca de aperitivos e talvez um topar estender a conversa por no máximo uns dez minutos.
Faça outro teste e jogue no ar: "você viu aquela história da pesada que acabou de sair sobre o Aécio/Dilma?". Mesmo que não seja nada de novo, dispare um compacto da pancadaria dos últimos debates na televisão. Estará instalada uma conversa com 100% de interação, pontos de vista acalorados e com um desfecho fácil: "esses dois, ao invés de discutir propostas para o país, só ficam de baixaria".
Pois é. Você não vê propostas de verdade nos debates simplesmente porque você mesmo não está interessado nisso. O que você quer é distração, entretenimento, algo para fazer um comentário no almoço de família, para escrever aquele texto sagaz nas redes sociais que todo mundo vai curtir.
É com base nessa percepção que os marqueteiros políticos trabalham. A propósito, o marketing comercial nada mais é do que o uso de ferramentas para aumentar o lucro de uma empresa. Numa eleição, lucrar mais é ter mais votos.
Em ambos os casos, há um processo de lógica reversa. Não se coloca um produto no mercado, como um inovador sabonete com cheiro de chiclete, se as pessoas não gostam de ficar com cheiro de chiclete. Se elas querem odor de bala de goma, então é isso que elas vão ter.
Em um debate de televisão, se as pessoas esperam por uma luta com dedo no olho, chutes na canela e cotovelada nas costelas, é isso que os marqueteiros vão providenciar. Ainda mais em um confronto direto, disputado palmo a palmo, como o atual. O curioso é que, agora, o lucro não é ganhar votos, mas fazer o adversário perder.
Com dois rivais tão manjados quanto PT e PSDB, que polarizam a eleição presidencial pela sexta vez seguida, a maioria esmagadora dos eleitores já fez as suas escolhas. Como se diz no jargão dos comunicadores políticos, os debates servem apenas para "cristalizá-las". Dificilmente alguém vai trocar de lado mas é bem possível que aquele que não está tão convicto decida por votar nulo ou falte à eleição.
Há também os que dizem que vão votar em branco ou nulo, mas que, depois do debate, decidem por um candidato apenas para não deixar o outro ganhar. Esse grupo pode ser engordado por aqueles que tradicionalmente faltam e que, por medo de um outro candidato, também fazem um esforço pelo voto útil.
É óbvio que essa não é uma perspectiva muito edificante. Mas é a realidade da democracia atual, temperada pelos valores da sociedade de consumo do século 21. E apimentada com a explosão de acesso à informação proporcionada pela internet.
Certa vez, em um debate sobre ética na publicidade, vi um professor de 70 anos ser questionado sobre o machismo nos comerciais de bebidas e automóveis, que exageravam nas mulheres em trajes minúsculos. "Mudem os conceitos que interferem na decisão de compra, que eu mudo a minha publicidade", retrucou o senhor. Adaptando ao momento brasileiro atual, o fato é que teremos uma política melhor quando nos tornarmos eleitores melhores.
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