Nos corredores

Parceria comunista

Assessor especial do Ministério do Esporte nomeado por Orlando Silva, o paranaense Ricardo Gomyde é próximo de Aldo Rebelo desde os tempos em que os dois eram colegas na Câmara dos Deputados, entre 1995 a 1999. Gomyde foi o primeiro a tentar instalar uma CPI para investigar a CBF, em 1998, iniciativa que foi barrada pelo plenário. As informações levantadas por ele, contudo, serviram de base para a CPI da CBF-Nike presidida por Rebelo dois anos depois.

Foco na Copa

Antes da queda de Orlando Silva, Gomyde havia acabado de assumir a direção de futebol profissional da recém-criada Secretaria Nacional de Futebol do ministério. Outro paranaense, Joel Benin, foi escolhido como chefe de gabinete da secretaria. Ambos são do PCdoB e devem ser mantidos na estrutura, que concentra as ações voltadas para a Copa de 2014.

Exemplo paulista

Pré-candidato à prefeitura de Curitiba em 2012, o deputado federal Dr. Rosinha (PT) tem reclamado da falta de debate interno do partido na cidade. "É só ver o exemplo de São Paulo, onde a discussão está aberta para todo mundo", compara. Na capital paulista, nem o apoio de Lula fez o ministro da Educação, Fernando Haddad, escapar dos embates com a senadora Marta Suplicy nas caravanas zonais que percorrem os 36 diretórios petistas no município.

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Se mantiver o ritmo de um ministro demitido a cada 23 dias em prática desde a queda de Antonio Palocci, em junho, Dilma Rousseff terá trocado o comando de todas as pastas até o começo de 2014. Curiosamente, será o ano da Copa e da próxima eleição para o Palácio do Planalto. Claro que não passa pela cabeça da presidente substituir o time inteiro, mas fica a dúvida: será que ela queria ter começado o mandato com essa equipe?

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Resposta difícil. Entre os seis nomes que perderam o cargo até agora, cinco foram ministros de Lula: além de Palocci (PT), Al­­­­fredo Nascimento (PR), Wagner Rossi (PMDB), Nelson Jobim (PMDB) e Orlando Silva (PCdoB). Só não entrou na conta Pedro Novais (PMDB), do Turismo – o que não muda muita coisa, já que ele era da cota de José Sarney (esse sim, ao contrário de Or­­­­lando, indestrutível).

Apesar das estatísticas, é errado tratar Dilma como vítima de uma "herança maldita". Basta mostrar que ela também recorreu a dois ex-ministros de Lula para o lugar dos recém-demitidos. Responsável pelo Itamaraty no governo anterior, Celso Amo­­­rim ficou com a vaga de Jobim na Defesa e Aldo Rebelo (ministro das Relações Insti­­­tucionais entre 2004 e 2005) com a de Orlando Silva.

Os números também comprovam que a presidente pode até ter mexido muito, mas mudou pouco. No fundo, não há do que se queixar. Dilma foi eleita com uma proposta de continuidade e, nesse aspecto, se mantém coerente ao desejo da maioria dos brasileiros.

A questão é que os principais atores políticos do país, inclusive a oposição, acreditaram na tese de que a vitória de Dilma seria um terceiro mandato de Lula. Sujeita à prática, a ideia parece cada vez mais impossível. Isso porque, ao longo de oito anos, o ex-presidente lapidou um sistema de coalizão de partidos que só ele podia comandar.

Lula atuava como um juiz na mediação das brigas entre aliados por espaços de poder, o que exige jogo de cintura e, acima de tudo, paciência. Por outro lado, era um contemporizador que não tinha receio de varrer sujeira para baixo do tapete. Dilma aprendeu as regras diretamente com o mestre, o que não quer dizer que um dia conseguirá agir como ele.

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Também é falso acreditar que, nesse caso, a criatura saiu pior que o criador. É nítido o incômodo da presidente em barganhar com parceiros interesseiros. Nesse cenário de desconforto, permanece a perspectiva de mais turbulências. Não está difícil apontar candidatos para novas demissões. Há meses se fala em Brasília nas saídas de pelo menos mais três ministros: Ana de Holanda (Cultura), Carlos Lupi (Trabalho) e Mário Negro­­monte (Cidades). Sem falar em Fernando Haddad, que deve deixar o Ministério da Educação para concorrer à prefeitura de São Paulo.

Desde antes da derrocada de Palocci, também se comenta que o governo Dilma só começaria para valer em janeiro de 2012, quando ela promoveria uma ampla reforma no primeiro escalão. Se continuar assim, será apenas uma reforma da reforma. Por isso está mais do que na hora da presidente se posicionar. Ao longo dos dez primeiros meses de gestão, ficou claro que Dilma não é Lula. O problema é que ela ainda não definiu ao certo o que é ser Dilma.