Ministro do Trabalho entre 1990 e 1992, o sindicalista Antônio Rogério Magri é mais lembrado por um neologismo do que pela breve passagem pela política. Certa vez um repórter perguntou a ele se os direitos dos trabalhadores poderiam ser reduzidos pelo governo Collor. Magri negou e foi além: disse que isso era algo "imexível".
Especialistas se debruçaram sobre a suposta gafe linguística durante anos até que a palavra entrou de vez para o vocabulário brasileiro. Em Brasília, contudo, falar em alguma coisa imexível não é lá muito positivo. E nos últimos dias, o fantasma da "imexibilidade" voltou a assombrar.
Duas décadas depois de Magri, um outro ministro do Trabalho deu trabalho ao governo. Carlos Lupi já era um constrangimento para a presidente Dilma Rousseff com suas fanfarronices e declarações de amor até que se transformou em uma cruz pesada demais. Deixou o cargo ontem, melancolicamente, mas o fato de não ter sido demitido na semana passada é preocupante.
Ao contrário do que aconteceu com os outros cinco ministros afastados por denúncias de corrupção, o caso tornou-se mais simples de ser resolvido com o parecer da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, que sugeriu a exoneração do ministro na última quarta-feira. Era só seguir o bom senso. Dilma preferiu estender a agonia e, na prática, fragilizou a tese de que ela apoia uma faxina ampla e irrestrita.
A oposição deitou e rolou. O deputado paranaense Rubens Bueno, líder do PPS, cunhou uma frase inspirada: "Dilma manteve Lupi e demitiu a ética". Por sinal, fala-se agora em uma reforma da comissão que tratou o assunto.
Engraçado que, há seis meses, a mesma comissão foi instada a se pronunciar sobre a evolução patrimonial do ex-ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, mas não se pronunciou pela demissão. Na época, Palocci preferiu deixar o governo a revelar os clientes que teve como consultor privado entre 2006 e 2010 (período em que seu patrimônio cresceu 20 vezes). A comissão, aliás, só resolveu repreender o ministro com uma "censura ética" no começo de novembro, cinco meses depois de ele deixar o cargo.
Lupi até prometeu apresentar a Dilma e à comissão novas explicações. Pelo que se sabe, a presidente ficou especialmente chocada com as denúncias recentes de que o ministro foi funcionário-fantasma da liderança do PDT na Câmara dos Deputados entre 2000 e 2006. Em parte desse período, ele também acumulou salários como assessor de um vereador pedetista do Rio de Janeiro, o que é ilegal.
Fora do governo, Lupi até pode não parecer mais um estorvo, mas os contornos lentos da saída dele queimaram a presidente. Basta lembrar a rapidez como Nelson Jobim foi afastado do Ministério da Defesa (frise-se: sem qualquer suspeita de corrupção). Ele deu declarações criticando as colegas Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti e em 48 horas teve de zarpar da Esplanada.
O pior da soma de todos esses episódios é ter a impressão de que há interpretações éticas diferentes para comportamentos similares. Voltando ao caso Magri, ele também deixou o governo sob suspeitas de corrupção. Além da história do "imexível", ficou famoso por outra resposta ao ser flagrado usando um carro oficial para levar sua cadela ao veterinário. "Cachorro também é gente", justificou. Pelo menos ele não disse que amava o Collor.
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Nos corredores
Comissão em extinção
Na mesma linha do colega Rubens Bueno (PPS), que sugeriu que Dilma estava demitindo a ética ao manter Carlos Lupi, Alvaro Dias (PSDB) disse que a permanência do ministro precisaria desencadear o fechamento da Comissão de Ética Pública da Presidência.
"Não há mais sentido para ela existir", afirmou o senador tucano. Alvaro também atacou a "faxina" no governo. "É uma afronta à inteligência dos brasileiros a afirmativa de que há um esforço do governo para moralizar a atividade pública."
Reciprocidade
Partiu do deputado paranaense Reinhold Stephanes (PSD) uma das principais novidades do atual texto do Código Florestal a exigência de reciprocidade, ou seja, que os países que exportam alimentos para o Brasil adotem as mesmas regras de preservação do meio ambiente. A sugestão foi acatada pelo relator na Comissão de Meio Ambiente, Jorge Viana (PT-AC). Stephanes também é cotado para relatar a proposta na volta para a Câmara, já que o relator anterior, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), foi para o Ministério do Esporte.
Cadê a educação?
Pesquisa divulgada pela Câmara dos Deputados com 1.010 pessoas que ligaram para o serviço Disque-Câmara em outubro mostrou que 72% não sabem do que trata o Plano Nacional de Educação (PNE). O projeto de lei é o tema mais relevante em debate na casa nas últimas semanas e deve ser votado amanhã. O PNE estabelece as metas para a educação brasileira durante os próximos dez anos. O relator da proposta que tramita na Comissão de Educação é o deputado paranaense Angelo Vanhoni (PT).
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Uma inelegibilidade bastante desproporcional
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