Com Eduardo Cunha no cargo, não há qualquer possibilidade de uma discussão decente sobre ajuste fiscal ou impeachment de Dilma.
Cada semana que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) permanece no comando da Câmara dos Deputados atrasa o país pelo menos seis meses. O Custo-Cunha fere o bolso, a mente e o coração dos brasileiros. É a maior humilhação política imposta pelas excelências à sociedade desde a rejeição da emenda Dante de Oliveira, em 1984, que acabou com o sonho da volta das eleições diretas para a Presidência da República.
Com o peemedebista no cargo, não há qualquer possibilidade de uma discussão decente sobre ajuste fiscal ou impeachment de Dilma Rousseff. Pior, a sustentação dele está baseada em um sistema extrapartidário de interesses setoriais. Assim como Dilma entregou o governo para uma mistura bizarra entre lulismo e peemedebismo, na Câmara quem apita é a bancada BBB (boi, bala e bíblia).
Que fique claro: é legítimo debater qualquer assunto no Parlamento. O que é errado é criar um ambiente de discussão desproporcional, de imposição de ideias. Quando poucas dezenas de parlamentares financiados pela indústria das armas conseguem uma supremacia artificial para passar por cima do Estatuto do Desarmamento, é porque tem algo errado no método de distribuição de forças das principais instâncias da Câmara.
Se há algo de útil em um episódio no qual o segundo na linha sucessória do governo brasileiro é exposto pelos ministérios públicos da Suíça e do Brasil com milhões de dólares em contas secretas, é desnudar como funciona a cabeça dos nossos congressistas. Impressiona a quantidade de deputados que se pautam pelo vale tudo. Tudo bem manter um presidente da Câmara com graves acusações de corrupção, desde que eu venda a falsa ideia para os meus eleitores de que vou conseguir mudar a demarcação de terras indígenas para favorecer os ruralistas.
Falsa ideia porque, no fundo, tudo se trata de uma cortina de fumaça. A tal história de derrubar o Estatuto do Desarmamento, que inclui a permissão para parlamentares andarem armados, por exemplo, é uma vitória pontual. Tudo indica que a proposta não passa no Senado, onde a febre é bem menor – embora Renan Calheiros (PMDB-AL) também esteja envolvido na Lava Jato.
O minimalismo desses interesses setoriais encolhe o papel do Legislativo e engana a sociedade. Faz sentido votar em um sujeito da bancada da bala porque você quer mais facilidades para conseguir o porte de arma. Mas você quer isso acima de todas as outras decisões, principalmente éticas, do seu parlamentar?
Cunha tem alegado que precisa ser tratado dentro do princípio da presunção de inocência. Na semana passada, disse que não deveria ser prejulgado, assim como Dilma e Lula. Ao contrário de Dilma, no entanto, o afastamento de Cunha é muito mais simples.
Apesar de praticamente não haver brechas regimentais de destituição, governo e oposição poderiam dar as mãos e simplesmente bloquear todas as votações enquanto ele insistisse em permanecer no cargo. Essa ação em conjunto nada tem a ver com atrapalhar um possível processo de impeachment contra Dilma. Que o novo presidente, que teria de ser eleito em cinco sessões, conduza a questão e, se achar cabível, dê o pontapé inicial no procedimento.
O fato é que o país não pode ser arremessado indefinidamente para o passado, até chegar à Idade Média. Esses dias um parlamentar do Paraná (um dos endeusadores do presidente da Câmara) gabou-se de que, com ele em campo, o placar nunca fica em branco. É verdade.
Todo dia Cunha impõe um novo 7 a 1 contra o Brasil.
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