Nos corredores
Metrô, a reprise
Técnicos da prefeitura de Curitiba devem se reunir nesta semana com representantes do Ministério do Planejamento para discutir o projeto do metrô. Há a expectativa de que a conta a ser apresentada para o governo federal seja mais salgada do que a prevista pela última vez. Até dezembro de 2009, o empreendimento estava avaliado em R$ 1,44 bilhão. A proposta era que o governo federal pagasse dois terços dessa conta.
Era Ducci
Outra expectativa é saber se muda algo nessa negociação com a entrada do prefeito Luciano Ducci (PSB) no lugar de Beto Richa (PSDB). O tucano sempre disse que não aceitaria dinheiro emprestado da União para a obra, apenas recursos a fundo perdido. O metrô curitibano pode ser contemplado na verba de R$ 18 bilhões prevista na segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento.
Dois palanques duplos
A crise na aliança entre PT e PDT no Paraná abre as portas para uma mudança drástica na relação entre a política estadual e a nacional. Com uma candidatura própria do PT a governador, Dilma Rousseff teria dois palanques no estado além do petista, o do peemedebista Orlando Pessuti. Do outro lado, José Serra contaria com o apoio do colega de partido Beto Richa (PSDB) e de Osmar Dias (PDT).
É indignante e ao mesmo tempo pouco surpreendente a notícia de que o ex-ministro da Integração Nacional, o baiano Geddel Vieira Lima, privilegiou o próprio estado na distribuição de recursos para a prevenção de catástrofes. Dados divulgados pelo Tribunal de Contas da União mostram que, da verba aplicada no setor entre 2004 e 2009, 80,5% se concentraram em oito estados puxados pela Bahia. O Paraná, para variar, ficou entre os 19 desafortunados que repartiram os outros 19,5%.
Também é indignante, mas surpreendente, que Lula tenha defendido Geddel. Para o presidente, ficar martelando esses números durante a tragédia do Rio de Janeiro é "joguinho político pequeno". E olhe que o ex-ministro nunca foi tão governista assim deixou o cargo para concorrer ao governo do estado contra a reeleição de Jaques Wagner, que é do PT.
Joguinhos à parte, a declaração só reforça um consenso no ambiente político brasileiro. Um mal que não é prerrogativa do atual presidente e perpassa toda a oposição, incluindo o PSDB. Para as excelências em geral, gerir dinheiro público é uma atividade intrínseca à propaganda pessoal.
Os dois principais rivais na disputa presidencial, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), gastaram até a última borracha da sola dos seus sapatos para inaugurar todas as obras que puderam inclusive as inacabadas antes de renunciarem aos seus cargos. No Paraná, Roberto Requião (PMDB) e Beto Richa (PSDB) seguiram a mesma cartilha. Semana passada, o senador e candidato ao Palácio Iguaçu, Osmar Dias (PDT), nem apareceu em Brasília, "cumpriu agenda" no interior do Paraná.
Dentro dessas regras, uma prática tipicamente nacional é ainda mais assustadora e abrangente as emendas individuais dos parlamentares ao Orçamento da União. No ano passado, cada um dos 513 deputados federais e 81 senadores teve direito a indicar 20 emendas (que nada mais são do que sugestões pessoais de aplicações de recursos federais) no valor total de R$ 12,5 milhões.
O dispositivo gera outros aspectos perversos. Em primeiro lugar, os congressistas usam as emendas para seus currais eleitorais em prejuízo de outras localidades. Além disso, o Poder Executivo manobra a liberação desses recursos como instrumento de chantagem para manter a base aliada no cabresto.
Nenhum dos envolvidos promove a reflexão de que o dinheiro que move essa engrenagem é público, logo, deveria ser aplicado apenas por critérios técnicos. Não é difícil adotar sistemas de medição de prioridades para investimentos. Há municípios com deficiência de saúde que precisam de mais hospitais, enquanto outros que precisam de escolas.
O pior de tudo, no entanto, é que a população fica amarrada a essas artimanhas. Principalmente nas eleições legislativas, vota em candidatos que supostamente garantem que o dinheiro chegará até ela. Prefere o político da "verba" e não o do "verbo", integrante de uma minoria que ainda luta para mudar a situação.O impasse só tem uma solução. Cada contribuinte precisa entender que quem paga a conta é ele próprio. Políticos são apenas intermediários eleitos para fazer escolhas que beneficiem a maioria da sociedade.
Quando eles saem por aí carimbando toda obra pública como se fosse deles, é porque estão tentando enganar o patrão. Cabe a esse patrão colocar a casa em ordem. A oportunidade chega em seis meses, nas eleições de outubro.
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