"Reputação ilibada" e "idoneidade moral" são exigências básicas de quase todos os concursos públicos. Há quem considere a norma subjetiva, até antipática. Mas a verdade é que ninguém quer um encrenqueiro com estabilidade no emprego.
Pena que a regra não vale para os políticos. Afinal de contas, a eleição nada mais é do que um grande concurso, em que as supostas qualidades dos candidatos são levadas à escolha popular. Nessa prova, ter uma vida pregressa incólume seria um pré-requisito ainda mais necessário.
É só ver a habilidade dos nossos legisladores em desrespeitar as leis criadas por eles mesmos. Nas últimas três semanas, vereadores, deputados estaduais, federais e senadores deram mostras de que se acham realmente acima do bem e do mal em algo que afeta todos os cidadãos as normas de trânsito.
Começou com o trágico acidente envolvendo o ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho. Passou pela notícia de que, assim como ele, outros 19 colegas de Assembleia Legislativa estavam com a carteira de habilitação suspensa. Na semana passada, houve ainda a constatação de que nove vereadores de Curitiba estavam na mesma situação.
Para completar, o Departamento de Estradas de Rodagens anunciou o registro de 1,2 mil infrações de carros a serviço de senadores e deputados federais apenas entre janeiro e fevereiro. Ninguém foi multado, por uma "falha" no sistema de fiscalização de carros com placas especiais.
O pior de todas essas histórias não são as infrações em si. É hipocrisia dizer que os parlamentares não têm direito de cometer deslizes no trânsito que todos os mortais cometem. O assustador é a quantidade de erros e, em especial, aquela sensação de que a lei não irá atingi-los.
Em um dicionário de antônimos, essas atitudes seriam o inverso da definição de idoneidade moral. E se as excelências se lixam para ela, por que o cidadão comum deveria se importar? Calma, nem tudo está perdido, a opinião pública ainda tem capacidade de não se lixar para tudo o que os políticos fazem.
Foi essa indignação, por exemplo, que impulsionou a renúncia de Carli Filho. Só que não basta reclamar, é preciso pôr a mão na consciência para se chegar à raiz do problema. É o eleitor que escolhe mal seus representantes.
Muitas vezes, porém, ele não tem condições de saber se os candidatos têm ou não reputação ilibada. Daí os vários projetos que proíbem as candidaturas dos fichas-sujas. Propostas que, em tese, ferem a presunção de inocência prevista na Constituição Federal e que por isso não devem prosperar.
Sem a proteção desse pré-requisito, cabe ao eleitor "vender caro" o seu voto. Ou seja, pesquisar e pesquisar sobre o passado dos candidatos. Dá trabalho, mas vale a pena. É bem menos desgastante levar alguns dias refletindo do que amargar quatro anos de decepção.
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Nos corredores
Copa no Senado
Está nas mãos do senador Flávio Arns (PT) o pedido de instalação de uma subcomissão da Copa do Mundo de 2014 no Senado. Arns é o presidente da Comissão de Educação, dentro da qual o novo grupo vai trabalhar. O pedido de criação é de outro paranaense, o senador Alvaro Dias (PSDB). A intenção dele era comandar a subcomissão, mas ele desistiu da ideia devido à participação na CPI da Petrobras.
Homem de palavra
O governador Roberto Requião (PMDB) estava certo de que o senador ACM Júnior (DEM) colocaria em pauta na última quarta-feira o relatório sobre o projeto de resolução que acaba com a multa do Banestado. O texto, mais uma vez, ficou de fora da reunião da Comissão de Constituição e Justiça. Requião espera que o parecer acabe com a penalidade. "Se ele for uma pessoa de palavra, como o pai dele era, esse vai ser o caminho", disse o governador.
Quem é o pai?
ACM Júnior possivelmente apresente um substitutivo ao projeto original de Osmar Dias (PDT). Nos bastidores, especula-se que a manobra é uma maneira de tirar a paternidade da proposta do pedetista. A briga do paranaense para tentar acabar com a multa no Senado começou em 2007. E há poucas chances de que ela acabe antes das eleições de 2010.
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