Nos corredores
Nada de Requião
Assim como Fernando Henrique Cardoso não mencionou o nome do presidente Lula durante entrevista a Jô Soares na semana passada, o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB) omitiu Roberto Requião (PMDB) de entrevista publicada ontem pela Gazeta do Povo. O peemedebista foi lembrado pelo parlamentar apenas como "governador". Fruet não escondeu que rompeu todas as ligações com Requião, "tanto políticas quanto pessoais", como ele mesmo definiu.
Esquecimento
Vinte e um dos 30 deputados federais do Paraná não receberam sequer um voto dos 204 jornalistas consultados pelo portal Congresso em Foco para a premiação dos melhores parlamentares do país, divulgada semana passada. Os citados do estado foram Gustavo Fruet (PSDB), 79 votos, Dr. Rosinha (PT), 19, Osmar Serraglio (PMDB), 18, Luiz Carlos Hauly (PSDB), 11, Ricardo Barros (PP), 3, Rocha Loures (PMDB), 3, Alceni Guerra (DEM), 1, Assis do Couto (PT), 1, e Nélson Meurer (PP), 1.
Compatibilidade
Fruet, Rosinha e Serraglio passam para a fase final do prêmio, que é aberta ao público em geral e começa hoje no site www.congressoemfoco.com.br. Entre os senadores, Alvaro Dias (PSDB), também está entre os escolhidos. Recentemente, Fruet e Rosinha também haviam sido indicados entre os 100 parlamentares mais influentes do congresso, de acordo com o Departamento Intersindical de Análise Parlamentar.
Casados de longa data na administração federal e estadual, PT e PMDB enfrentarão intermináveis discussões de relacionamento após as eleições municipais. Em Brasília, Lula fará de tudo para segurar a parceria com os peemedebistas. Já no Paraná as conversas estão com a maior cara de divórcio.
O presidente sabe que precisa do PMDB para manter a paz no Congresso Nacional durante seus dois últimos anos de mandato. E também quer algum nome forte da legenda para ser vice de Dilma Rousseff e viabilizar a sucessão em 2010. Em nome da harmonia, vale até esquecer o jeito pidão de ser dos peemedebistas.
O buraco é bem mais embaixo no plano estadual. A aliança entre os dois partidos tem mais de uma década e rendeu um espólio desigual. Enquanto Roberto Requião conseguiu eleger-se duas vezes governador e arrastou metade das prefeituras do Paraná para o PMDB, o PT amargou enormes prejuízos.
Os petistas perderam ou vão perder o comando de municípios importantes do interior, como Ponta Grossa e Londrina. Além disso, não conseguiram manter o ímpeto em Curitiba, onde Ângelo Vanhoni quase ganhou sem muita ajuda do PMDB em 2000. Em resumo, o PT no Paraná acompanhou a anos-luz de distância o avanço expressivo da legenda por todo Brasil, no embalo da popularidade de Lula.
A separação deve provocar uma situação estranha, um drama ao estilo Nélson Rodrigues. É que outro famoso casamento também está com os dias contados. Do lado oposto do corner PT-PMDB, a lógica deve determinar que PSDB e PDT se afastem.
Esse desquite, no entanto, tem outros motivos. No âmbito nacional, o PDT é aliado do PT e deve permanecer assim até 2010, o que inviabilizaria a seqüência da parceria local entre pedetistas e tucanos. Além disso, há um conflito de interesses que se avizinha a performance de Beto Richa na capital deve torná-lo candidato natural do PSDB a governador, posto igualmente pretendido pelo presidente estadual do PDT, senador Osmar Dias.
Nesse ponto começa o troca-troca. Osmar assume uma postura independente no Congresso, mas não esconde uma certa afinidade com o Palácio do Planalto. E Lula chegou a pedir pessoalmente ao senador que apoiasse Gleisi Hoffmann em Curitiba, sinal evidente de que estaria disposto a selar uma união duradoura no Paraná.
Não, qualquer semelhança com as novelas não é mera coincidência. Nos universos da política e da televisão sempre há um certo mistério, mas no fundo todo mundo sabe o que vem pela frente. A diferença é que o autor de ficção encerra a história da maneira que mais agrada ao público, inevitavelmente com um casamento entre os personagens mais populares.
Nas eleições do mundo real essa dobradinha já vem pronta e nem sempre significa aquilo que o telespectador, ou melhor, o eleitor, realmente gostaria de escolher.
agoncalves@gazetadopovo.com.br
Deixe sua opinião