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Em 1978, Lula fez panfletagem na porta da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, para apresentar aos companheiros um jovem sociólogo que concorria a senador, Fernando Henrique Cardoso. Hoje luta pessoalmente para varrer a oposição do mapa, incluindo o PSDB de FHC, que contra-ataca chamando o petista de chefe de facção.

Em 2004, Osmar Dias (PDT) pediu votos a Beto Richa (PSDB) na reeleição para a prefeitura de Curitiba definindo-o como "trabalhador". Hoje diz que o tucano não possui nenhum registro na carteira de trabalho e, ao mesmo tempo, recebe críticas de Beto por ter tentado extinguir a multa do FGTS no Senado.

Entre extirpações, facções e piás de prédio, há algo claro nesta eleição – há tão pouca ideologia em jogo que os políticos são obrigados a apelar para mostrar alguma diferenciação. E se é um equívoco tratar direita e esquerda com o simplismo da guerra fria, também é ruim não perceber o que pensa (ou deveria pensar) cada partido e candidato.

Apesar de apenas o PSDB ser social-democrata até no nome, a maioria das legendas brasileiras virou commodity da social-democracia, como PDT e PT. Ninguém ousa admitir-se de direita, nem no mínimo centro-direita. Preferem fingir o que não são e, nesse caso, fazem por merecer a troça do verdadeiro pessoal da esquerda.

Genealogicamente, o Partido Progressista (PP) e o Democratas (DEM) são os herdeiros da direita. O PP de Paulo Maluf tem o mais nítido DNA do PDS, da velha Arena. Passou uma borracha no passado e hoje integra a base governista – é inclusive contemplado com um dos ministérios mais cobiçados da Esplanada, o das Cidades.

Já o DEM, esse é um caso sério. O antigo PFL nasceu do racha para garantir a eleição de Tancredo Neves, em 1985, e teve aí seu único momento de glória. Cresceu como legenda oligárquica conservadora e caiu na medida em que seus medalhões foram se retirando de cena e tentando emplacar na marra seus próprios herdeiros – Bornhausens, Maias, Magalhães.

Hoje, eles até falam de livre iniciativa e direito à propriedade, mas se embananam ao defender reformas liberalizantes para saúde, educação e segurança pública. Não que o Brasil precise adotar agora esse caminho, mas é ruim para o debate democrático que ninguém apresente um pensamento divergente. Parece blá-blá-blá, mas surte efeito.

Grande parte do ódio que Lula destila pelo DEM nasceu na derrota que o partido ajudou a impingir ao governo na derrubada da CPMF, em 2007. Está aí uma questão ideológica clássica. O Estado precisa arrecadar mais para promover distribuição de renda ou é melhor para a população que o dinheiro circule por conta própria, gerando consumo e empregos?

O cavalo passou encilhado, o DEM até subiu em cima, mas capotou na primeira curva, quer dizer, mensalão, que teve pela frente. Lula fala em extirpá-lo, mas na verdade é o próprio partido quem faz esforço para ser extinto. Como reação, limita-se a insinuar que o presidente precisa maneirar no álcool, como disse Jorge Bornhausen.

Com um confronto de ideias de "alto nível", seja em Brasília ou no Paraná, onde Beto e Osmar de tão próximos sabem o que o outro tem registrado nos documentos pessoais, fica difícil saber quem é quem. Por isso a tentativa de resumir tudo a uma história entre mocinhos e bandidos, um jogo ingrato especialmente para a oposição. E como Lula transformou-se quase um santo, ele próprio define quem são os demos.

Nos corredores

Time da transição

As trajetórias da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e da candidata ao Senado pelo PT, Gleisi Hoffmann, se cruzaram em 2002. Ambas integraram a equipe de transição entre os governos FHC e Lula. Do time, Erenice seguiu com Dilma Rousseff para o Ministério de Minas e Energia, enquanto Gleisi foi para Itaipu.

Casados e separados

Em férias do Ministério do Planejamento desde a última quarta-feira, Paulo Bernardo entrou de vez na campanha da esposa, Gleisi. Ela e o ministro, porém, não têm pedido votos juntos. A missão dele é reunir-se separadamente com grupos de prefeitos. Desde o começo da campanha, ele já fez reuniões com lideranças das regiões de Campo Mourão, Maringá, Londrina e Paranavaí.

Procura-se

Bem relacionado com a imprensa, Paulo Bernardo tomou chá de sumiço após a demissão de Erenice na quinta-feira passada. Nome mais cotado para assumir a Casa Civil, não quis colocar mais lenha na fogueira da crise. Ele já foi cotado para assumir a pasta quando Dilma deixou o governo para entrar na campanha presidencial, em março.

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