Nos corredores
Escolha de Micheletto
Coube ao deputado paranaense Moacir Micheletto (PMDB) escolher o novo relator do Código Florestal na Câmara. Micheletto teve a prerrogativa porque presidiu a comissão especial que gerou o texto produzido pelo antigo relator, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), atualmente ministro do Esporte. O peemedebista optou por um ruralista, como ele, o colega de partido Paulo Piau, de Minas Gerais. Entre os cotados que ficaram fora do páreo estava o conterrâneo Reinhold Stephanes (PSD), que tem rusgas com Micheletto desde os tempos em que foi ministro da Agricultura.
CPI é com Requião
Durante discurso em plenário na quarta-feira, o senador Roberto Requião (PMDB) avisou a governistas e oposicionistas que vai apoiar qualquer tipo de CPI para apurar casos de corrupção. Inclusive citou dois episódios que mereceriam investigação. Ele disse que está "à disposição" para assinar o requerimento de criação de uma comissão para aprofundar as denúncias do jornalista Amaury Ribeiro no livro A Privataria Tucana, lançado semana passada, e para outra sobre as consultorias feitas pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
Em meados de 2008, Lula procurou o então senador Osmar Dias (PDT) pedindo apoio à candidatura da Gleisi Hoffmann (PT) para a prefeitura de Curitiba. Era o primeiro passo de uma aproximação para lá de enrolada e que acabou se concretizando apenas dois anos depois. O episódio, decisivo para o resultado das últimas eleições, serve como modelo do que pedetistas e petistas não querem repetir no ano que vem com Gustavo Fruet.
Como se sabe, Osmar apoiou a reeleição de Beto Richa (PSDB) em 2008 na expectativa de que o gesto fosse retribuído em 2010 na disputa pelo governo do estado. Mas o tucano decidiu depois concorrer ao Palácio Iguaçu e restou a Osmar se abraçar à antiga proposta de Lula.
Trocando em miúdos, a campanha foi um festival de ambiguidades. Como Beto conseguiu se desvencilhar delas um pouco melhor, venceu.
O fato é que são raras as eleições vencidas no Brasil (e em grande parte do mundo) sem parcerias estranhas. O próprio PT só chegou ao Palácio do Planalto porque adocicou o discurso e Duda Mendonça inventou o "Lulinha Paz e Amor". Sem contar a escolha estratégica de José Alencar para vice, um empresário conservador que era do PL e depois foi para o partido dos bispos, o PRB.
No ano passado, José Serra deu um chute nas raízes vanguardistas do PSDB e incorporou um tom moralista e religioso para tentar derrubar Dilma. Por sua vez, a hoje presidente com passado guerrilheiro não dispensou o apoio de um balaio de gatos partidário que incluía o PP de Paulo Maluf, herdeiro legítimo da Arena.
Como já disse um outro paranaense famoso, tem gente que se alia até com o capeta para ganhar uns votinhos. Mas nem tudo é tão demoníaco quanto parece. Em um sistema político fragmentado como o brasileiro, com 29 legendas em atividade, é natural construir alianças para se atingir maiorias.
A questão é que o eleitor, apesar de tolerante, não engole qualquer conversa. No ano passado, havia um cenário de disputa de quem traiu quem no Paraná. Beto havia sido desleal por deixar a prefeitura e concorrer a governador ou Osmar foi um traidor por se coligar com petistas e, principalmente, com o PMDB do antigo desafeto Roberto Requião?
Beto saiu-se melhor porque começou a contar sua versão três meses antes, quando renunciou à prefeitura. Já Osmar ficou amarrado a uma decisão que saiu do dia para a noite. Repetindo: o povo tolera, mas cobra pelo menos uma história bem contada.
É isso que Gustavo Fruet, que acaba de trocar o PSDB pelo PDT, tenta fazer a partir desta semana ao anunciar que está "pronto" para uma parceria com os petistas para concorrer a prefeito. Aliado de Beto e opositor ferrenho à gestão petista no governo federal até o ano passado, ele quer antecipar a discussão e ganhar tempo para se explicar. De novo, duas versões: foi Fruet quem traiu o PSDB ou o PSDB quem o traiu por não permitir que ele fosse candidato?
Esse nível de confronto é, como em outros casos, algo que só faz mal ao aspecto mais primordial das eleições, o debate de propostas para a gestão pública. Perde-se mais tempo com costuras partidárias do que com projetos concretos. Talvez por isso ninguém saiba até hoje distinguir com clareza as diferenças dos programas de governo apresentados no ano passado por Beto e Osmar, Dilma e Serra.
Nesse aspecto, será um serviço aos curitibanos que se esgotem as balelas político-partidárias o quanto antes. Se for para escolher um prefeito, que seja pelas ideias que ele apresenta para a cidade. Que o horário eleitoral tenha menos blá-blá-blá e as narrativas fiquem para outro horário. O das novelas.
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