O Paraná é o único estado brasileiro que ocupa uma espécie de limbo em relação ao pré-sal. Ainda não é 100% seguro dizer que os limites do mar territorial do estado estão dentro ou fora da camada. Ou seja, é incerta (mas provável) a chance de os paranaenses serem beneficiados por royalties de extração de petróleo na região.

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Há duas versões oficiais. De acordo com a Petrobras, o litoral do Paraná abrange sim o pré-sal. Já o Ministério de Minas e Energia afirma categoricamente que não.

Estudos da Petrobras apontam com segurança que as reservas da camada estendem-se do litoral do Espírito Santo, na divisa com a Bahia, até a fronteira entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ou seja, o Paraná é contemplado. O problema é que os royalties só viriam se algum poço exploratório fosse aberto no estado.

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A versão do ministério é a mais válida porque é baseada no mapeamento oficial enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional no Projeto de Lei 5.938, uma das quatro propostas do marco regulatório do pré-sal. A delimitação sofreu cortes em relação à pesquisa feita pela Petrobras. Com isso, as reservas encolheram e ficaram restritas a Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.

O texto, porém, não exclui totalmente o Paraná porque estipula que as fronteiras do pré-sal podem ser modificadas a qualquer momento. Como a Petrobras garante que a camada passa pelo estado, a probabilidade de que os limites sejam estendidas é grande. É aí que está o limbo, potencializado pela sina de "patinho feio" do Paraná em Brasília.

O estado é historicamente escanteado nas partilhas entre entes da União. O caso clássico é a regra de cobrança do ICMS sobre energia elétrica, feita no local de consumo. Enquanto o Paraná abriga Itaipu (a maior usina hidrelétrica do planeta), grande parte da riqueza gerada por ela fica com os vizinhos.

Apesar da indefinição sobre o tamanho do pré-sal, o fato é que o estado precisa posicionar-se politicamente na discussão. E tem de fazer isso rápido, antes que o atropelamento seja inevitável. Em primeiro lugar, necessita decidir se é a favor da manutenção do atual sistema de divisão dos royalties, que beneficia municípios e estados utilizados como locais de exploração.

Caso a resposta seja sim, terá de ficar ao lado de capixabas, fluminenses e paulistas, que atualmente estão vencendo a parada, e esperar que um poço seja aberto entre Guaratuba e Guaraqueçaba. O governador Roberto Requião, por exemplo, já declarou que é contra, por achar mais justo que todos os estados sejam beneficiados igualmente.

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Decidida a questão, é hora de afinar o discurso geográfico. Há sete anos tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 7.472, que altera o atual sistema de mapeamento de mar territorial. O regime prejudica apenas dois estados litorâneos – Piauí e (adivinhem?) o Paraná. O texto do deputado paranaense Gustavo Fruet (PSDB) conta com o aval do IBGE, que é responsável pelas medições, e colocaria o Paraná no pré-sal independentemente de qualquer mudança no mapa das reservas.

Há tempos a proposta está emperrada, por falta de apoio político. Não que o Paraná tenha força suficiente para fazer com que o projeto seja aprovado na marra, mas essa é a hora de colocar todas as cartas na mesa.

Como são dezenas de possibilidades em jogo, o importante é negociar. Em Brasília, as movimentações e os lobbies estão a pleno vapor há semanas. Nenhum deles é paranaense. Mas, curiosamente, muitos são feitos por estados que nem perto do limbo conseguiram chegar.

Nos corredores

De fora

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Nenhum dos 30 deputados paranaenses foi escalado para ocupar qualquer um dos oito cargos de comando das comissões especiais que analisam os quatro projetos regulatórios do pré-sal na Câmara. O único sondado foi o vice-líder do governo, Ricardo Barros. Ele foi procurado pela direção nacional do PP para ser o relator da proposta que cria o Fundo Social.

O próprio Barros teria descartado a participação, por preferir trabalhar nos bastidores das negociações para a aprovação do texto.

Contra a censura

O Senado adiou para esta semana a votação da reforma eleitoral e atiçou uma disputa pessoal entre os senadores Alvaro Dias (PSDB) e Aloizio Mercadante (PT). Ambos são autores de emendas individuais que retiram do texto as restrições para a cobertura de campanhas feitas por sites jornalísticos. Alvaro apresentou a emenda primeiro, mas Mercadante tem levado a fama na luta contra a censura.

Amortecedor

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Constantemente em choque com colegas de governo, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes disse que faz um trabalho de "amortecedor". Segundo ele, seu papel é dar tranquilidade aos produtores rurais, mesmo nas discussões polêmicas. Por isso Stephanes mantém a tese de não mexer nos índices de produtividade rural – mesmo contrariando as ordens do presidente Lula.