Alguém é capaz de citar de bate-pronto uma proposta apresentada por Aécio Neves (PSDB-MG) na campanha presidencial do ano passado que, aplicada hoje, tiraria a economia brasileira do buraco? Atualizando: há alguma sugestão pós-eleição feita pelo tucano digna de nota?
Falar mal do governo Dilma Rousseff é tão fácil quanto fazer piada da situação do Vasco.
Pois é. Falar mal do governo Dilma Rousseff é tão fácil quanto fazer piada da situação do Vasco. Somos 200 milhões de especialistas em achar defeitos na gestão petista porque a maioria deles está tão escancarada que todos temos na ponta da língua uma reclamação para fazer – da conta de luz exorbitante aos escorchantes juros para tomar um empréstimo bancário.
Aécio e a oposição como um todo têm batido na tecla de que não cabe a eles apontar soluções para Dilma. Pode até ser, afinal, a caneta está nas mãos dos petistas. Por outro lado, chegamos a um ponto da crise em que não é uma questão de PT x PSDB, muito menos de estender a mão aos adversários, mas de brigar pelo futuro do país.
O único que entrou na linha propositiva (por incrível que pareça) foi o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A tal “Agenda Brasil”, que reúne mais de 40 propostas para combater a crise, foi pelo menos uma tentativa de mudar o tom do debate. Apresentada há um mês, acabou soterrada pelas trapalhadas subsequentes de Dilma, que empurraram-na novamente para o debate sobre impeachment.
Ao que tudo indica, Aécio topou a hipótese de afastamento da presidente e construção de um governo de consenso liderado pelo vice, Michel Temer (PMDB). Na semana passada, cerca de 50 parlamentares iniciaram um movimento formal a favor da abertura do processo pela Câmara. O senador não compareceu, mas apoiou a iniciativa.
Trata-se da jogada mais arriscada que Aécio poderia ter feito – aliás, como bom mineiro, isso é uma novidade, porque ele dificilmente se arrisca. Ninguém sabe ao certo como seria uma gestão Temer. A única certeza é que o PMDB controlaria Executivo e Legislativo de fio a pavio, encabeçando as presidências da República, Câmara e do Senado.
E o que seria melhor para o PSDB? Fazer parte do novo governo, apenas garantir-lhe sustentação no Congresso ou permanecer na oposição? Todas as alternativas são ruins para os tucanos, especialmente para Aécio.
Temer e os peemedebistas não têm varinha de condão. A economia não vai melhorar até 2017. Renan e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vão continuar sendo investigados pela Lava Jato. Lula tende a recuperar popularidade, pois no meio de todo esse furdunço, vai haver espaço para o discurso de que a queda de Dilma não passou de um golpe.
As lembranças da gestão de concertação de Itamar Franco (1992-1994) estão vivíssimas nas memórias de todos os grandes agentes políticos da atualidade. O PT ajudou a derrubar Fernando Collor e achou que ganharia fácil com Lula em 1994. Não contava que a eficácia do Plano Real catapultaria FHC para uma vitória consagradora logo no primeiro turno.
Aliás, o que aconteceu nos tempos de Itamar deixou cicatrizes profundas em petistas, tucanos e peemedebistas. Itamar, que se elegeu vice pelo PRN de Collor, migrou durante o mandato para o PMDB. Em uma falha de estratégia, o PMDB não soube capitalizar o momento e, rachado, lançou o paulista Orestes Quércia para a sucessão.
Nenhuma das três siglas parece disposta a repetir os erros de duas décadas atrás. Ao colocar as digitais no impeachment de Dilma e ao mesmo tempo endossar a ascensão de Temer, Aécio entra numa dança de cadeiras com desfecho imprevisível. Sem algo palpável para mostrar à população, como foi o Plano Real há duas décadas, fica ameaçado de não ter onde sentar em 2018.
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