Após duas décadas, a polarização PT x PSDB chegou ao volume morto. É o ponto em que qualquer inimigo do seu inimigo é seu amigo. Conjuntura que mina o desfecho da Operação Lava Jato, uma das raras janelas históricas de passar o país a limpo.
Alô, Aécio
O governador Beto Richa ligou para o senador Aécio Neves para “se explicar” sobre a declaração de que era contra a participação do PSDB na convocação das manifestações contra a presidente Dilma Rousseff programadas para agosto. “Foi só uma opinião divergente. Não estava nem dizendo que eu tenho a razão, só que eu penso de outra forma”, disse Richa.
Opinião distorcida
Richa também disse que a declaração contrária à posição do PSDB nacional foi “distorcida por alguns”. E aproveitou para fazer loas a Aécio. “É um político em quem eu me espelho muito”, disse. Até agora, o senador mineiro tem desviado de fazer comentários sobre as crises na gestão Richa, cuja impopularidade é similar à de Dilma no Paraná. Principalmente sobre a batalha do Centro Cívico.
Prestígio
Mais do que Richa, o secretário estadual de Fazenda, Mauro Ricardo Costa, demonstrou prestígio na reunião prévia de governadores tucanos, antes do encontro com Dilma, semana passada. Foi ele a principal fonte de dados para a argumentação tucana.
Durante os 12 anos e meio que têm comandado o país, os petistas fizeram de tudo e mais um pouco para construir hipermaiorias legislativas e subjugar os tucanos. Não é novidade, apenas o sequestro de uma prática dos oito anos de FHC (e que ainda é utilizada nos estados geridos pelo PSDB, como o Paraná). Para destroçar a oposição, o governo virou um balcão de negócios – seu partido me dá votos no Congresso e eu te dou cargos na Esplanada.
O bizarro disso tudo é que, para vencer uma disputa que na prática é bipartidária, PT e PSDB criaram um modelo que viabilizou a coexistência de 32 legendas. Não é à toa que existem 39 ministérios. E que foram montados esquemas como o mensalão e o petrolão, espécies de programas de participação nos resultados que distribuem dinheiro de corrupção para os membros da coalizão mais “eficientes”.
Desde o primeiro semestre o Supremo Tribunal Federal investiga a suposta participação de 22 deputados federais, 12 senadores, 12 ex-deputados e uma ex-governadora de seis partidos (PMDB, PT, PP, SD, PSDB e PTB) em desvios de recursos na Petrobras apurados pela Lava Jato. Dentre eles, estão os presidentes da Câmara e do Senado, os peemedebistas Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL).
Quando as acusações contra Cunha cresceram, há duas semanas, ele “rompeu” com o governo. Um dia após a notícia de que um empreiteiro disse que o deputado recebeu US$ 5 milhões em propina, ele desengavetou 11 pedidos de impeachment contra Dilma. Sem contar a “pauta-bomba”, montada para desmoralizar a tentativa de ajuste fiscal organizada pela equipe econômica do governo (que pode não ser uma maravilha, mas fica ainda pior com o Congresso jogando contra).
Cunha está distante de ser um kamikaze. Acuado, jogou todas as suas fichas na opinião pública. Não que as pessoas gostem dele (na verdade, a maioria absoluta da população não deve nem saber quem ele é), a aposta é na impopularidade de Dilma.
O que o presidente da Câmara fez foi gritar para todo mundo ouvir: “ei, vocês que detestam a presidente, eu sou mais um de vocês”. A questão é: essas pessoas sentem ojeriza por Cunha por ele estar no olho do mesmo furacão de corrupção que atinge a presidente, ou se identificam com ele por vê-lo como mais um aliado contra Dilma? Uma pesquisa banal na internet mostra que os principais organizadores das manifestações contra o governo programadas para agosto se encaixam na segunda possibilidade.
Aliás, o PSDB passou a apoiar os protestos, mas não fez nenhum movimento pelo afastamento de Cunha da presidência da Câmara. Isso tem um nome: indignação seletiva. Quando você se une a qualquer um para chegar ao poder, precisa se lembrar de que essa gente estará credenciada para governar junto com você.
É exatamente essa conta que Dilma está pagando, com todos os juros que merece. Pelo jeito, o PSDB não age para passar uma régua na fatura. Quer apenas assumir as longas prestações que ainda faltam pagar.
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