Que atire a primeira pedra quem nunca entrou (mesmo que perifericamente) numa discussão entre petistas e tucanos e, quando confrontado, apelou para a estratégia de dizer que são todos farinha do mesmo saco. Exemplo: o governo Lula comprou votos com o mensalão. Mas FHC pagou para aprovar a emenda da reeleição.
A receita é bem simples, se não dá para vencer o embate, coloque-se no mesmo nível do oponente e só pare de abrir a boca quando houver consenso de um empate.
O PT aparelhou estatais como a Petrobras com a companheirada e deu no que deu. O PSDB vendeu patrimônio público a preço de banana e muita gente se deu bem com a privataria.
De zero a zero em zero a zero, chegamos à nova moda dessa polarização – as manifestações. Antipetistas saíram às ruas para bradar contra Lula, Dilma e o comparsa Renan Calheiros (PMDB-AL).
“Todos sabemos muito bem que é mais fácil criticar a corrupção dos outros do que agir para estancar a de todos nós.”
Antitucanos foram reclamar do clima de golpe instalado pela turma de Aécio Neves e FHC e seu parceiro Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ops, Renan e Cunha são aqueles investigados pela Operação Lava Jato e representam o peemedebismo velho de guerra. Por que cada um deles virou parceiro/rival de um time diferente? É o sinal mais evidente de que chegamos perto da Série D de um eterno campeonato de nivelamento por baixo.
Quem tira a camisa e deixa o ódio de lado percebe imediatamente que esse é um debate infinito, circular, que une o nada ao lugar nenhum.
A constatação não quer dizer que você não deve se indignar com a corrupção. Quer dizer que você precisa estar atento à malandragem de quem usa o tema como plataforma eleitoral.
Não existe corrupção melhor ou pior. Existe corrupção e ponto final. E existe corrupção no governo, na iniciativa privada e, muito provavelmente, dentro da sua casa.
Foi um enorme erro achar que os petistas eram arautos da moralidade, antes de assumir o poder. É uma falha ainda maior acreditar que tudo vai melhorar num passe de mágica se o PSDB voltar ao Palácio do Planalto.
Qualquer caminho para enfrentar a corrupção de verdade passa por um processo doloroso, constante e muitíssimo mais complexo do que substituir o governante de plantão.
Não sou eu quem diz isso. É o juiz Sergio Moro. “Na corrupção, tem quem se corrompe e quem paga. A iniciativa privada tem muito mais chances de mudar do que o poder público, que é muito ineficiente”, declarou o magistrado da Lava Jato, durante palestra para a Aliança de Advocacia Empresarial, em São Paulo, na última quinta-feira (20).
No mesmo dia, outra jurista excepcional, a vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, virou a ferida do avesso. “Nós, brasileiros, precisamos assumir a ousadia que os canalhas têm”, declarou, durante evento no Rio de Janeiro.
Na sequência, explicou que o arrojo de se expor não pode ser visto apenas em “pessoas que não cumprem as leis, que usam o espaço público para interesses particulares.”
Em resumo, a ministra queria dizer que não basta só reclamar, é necessário saber reivindicar de maneira eficiente, como no caso da aprovação da Lei da Ficha Limpa, que nasceu da iniciativa popular.
Ela tem mais do que razão: vestir camisa da seleção ou da CUT para sair às ruas bradando moralismos não te faz, por si, um brasileiro melhor que os demais. Todos sabemos muito bem que é mais fácil criticar a corrupção dos outros do que agir para estancar a de todos nós.
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