Nos corredores
Simon e o Banestado
O senador gaúcho Pedro Simon (PMDB) recebeu na semana passada o título de cidadão honorário do Paraná 11 anos depois de ter sido decisivo em uma das votações mais importantes da história paranaense no Congresso Nacional. Em 1998, Simon votou contra uma proposta dos então colegas Roberto Requião (PMDB) e Osmar Dias (PDT) para que o Banestado fosse federalizado. A emenda, inserida na resolução que definiu a privatização do banco, foi derrubada pela diferença de apenas um voto.
Banestado e Requião
Se o banco tivesse sido federalizado, o Paraná não teria de fazer o empréstimo de R$ 3,8 bilhões para saneá-lo antes da privatização. Muito menos comprado títulos públicos "podres" de Alagoas, Pernam buco, Santa Catarina, Osasco e Guarulhos. O contrato de aquisição dos papéis não foi honrado por Requião a partir de 2003 e gera a multa mensal de R$ 3 milhões aplicada pela Secretaria do Tesouro Nacional. Ao todo, o estado deixou de receber cerca de R$ 200 milhões da União nos últimos cinco anos.
Multa e esquecimento
Livrar-se da multa e recuperar os R$ 200 milhões é uma das principais bandeiras do terceiro mandato de Requião no Palácio Iguaçu. Nos últimos meses, porém, a questão parece ter caído no esquecimento. Entre 2007 e 2008, Requião cobrou uma solução diretamente do presidente Lula e da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, enquanto Osmar Dias tentava uma saída pelo Senado. Nenhuma das duas estratégias deu certo. Ao que tudo indica, o problema cairá no colo do próximo governador.
Lula tem vivido dias bíblicos. Abriu o mar que separava o Rio de Janeiro das Olimpíada. Ceou com os apóstolos do PMDB para selar uma aliança para 2010. Até tentou conciliar Jesus Cristo e Judas ao explicar as complexas coalizões da política brasileira.
Para não incorrer no mesmo erro do presidente, é melhor parar por aqui com as metáforas religiosas. É fato, porém, que Lula parece fazer questão de se colocar acima do bem e do mal. E se ele tem um lado santo, também tem outro bem sombrio.
Não dá para ser injusto. Lula só alcançou a popularidade que tem atualmente porque faz um governo consistente. Enfrentou o dilema social da distribuição de renda, alavancou a economia, reposicionou o Brasil no cenário internacional.
Ao mesmo tempo, fez vista grossa à bandalheira política, ao mensalão. Uniu-se aos oligarcas que combateu no passado. Sustentou José Sarney na presidência do Senado, aproximou-se de Fernando Collor. Sem contar as trapalhadas em Honduras.
Entre ganhos e perdas, Lula é como uma divindade nos rincões do Brasil. Tratamento que dá a ele plenas condições de reformar o sistema político, ajeitar o país de vez. Ao invés disso, parece que o único plano é de curto prazo: eleger o sucessor, ou melhor, a sucessora.
Na mesma entrevista à Folha de S. Paulo em que disse que no Brasil "Jesus teria que se aliar a Judas", Lula deixou claro que acredita no poder da transferência de votos. Aposta difícil, tanto quanto repetir a multiplicação dos pães. Por quê?
Para virar santidade, Lula fortaleceu-se sozinho. Queimou aliados e o próprio partido. O personalismo fez dele uma árvore tão enorme quanto a própria sombra.
Essa escuridão é muito pouco propícia para a formação de novos líderes. Afinal, eles foram todos lançados aos tubarões no meio do caminho, como José Dirceu e Antonio Palocci. Até que Dilma nasceu a fórceps.
Da mesma maneira surgiu a prematura aliança com o PMDB. Um dia depois, três governadores peemedebistas (entre eles Roberto Requião) espernearam. Não querem aceitar um trato ungido de cima para baixo, que não respeita assimetrias.
No jantar que amarrou a parceria com o PMDB, porém, Lula pediu alianças nas disputas regionais. Foi enfático: nos estados em que houver dois candidatos da base governista, pode não subir em nenhum. Ou seja, vai carregar os acertos no cabresto.
A jogada afeta especialmente o Paraná.
Ao que tudo indica, o presidente quer porque quer formar um palanque forte para Dilma no estado. Como primeira opção, tem (ou tinha) o senador Osmar Dias (PDT). Mas como o PMDB de Requião não aceita a hipótese e ainda aposta na candidatura de Orlando Pessuti, está armada a encrenca.
Em situações como essa é que está o dilema entre o bem e o mal de Lula. Ao preparar terreno na marra para barganhas e conchavos, o presidente sinaliza que vai desperdiçar o último ano de divindade sem se preocupar em alterar a ordem das coisas na política brasileira. Seria um milagre muito maior e mais importante se ele fizesse justamente o contrário.
Afinal de contas, criar a metáfora da aliança entre Jesus e Judas nem é uma gafe tão grande sim. O pecado é trabalhar para que ela exista. Ou melhor, continue existindo.
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