Lá se vai um mês da crise do tomate, que até já baixou de preço, e o governo ainda não sabe como se livrar das manchas espalhadas por ela. O tema caiu do céu para a oposição, que curiosamente também se atrapalha com a novidade. Enquanto isso, os brasileiros continuam sem entender como o principal ingrediente da salada subiu 120% em 12 meses.
Que a inflação está há algum tempo em viés de alta, todo mundo sabia. Agora, por que essa história do tomate tem tanto apelo político? Vale citar a tese da "geografia do voto" do marqueteiro Gaudêncio Torquato.
Segundo ele, os critérios de decisão política da nova classe média brasileira percorrem um mapa imaginário. O bolso cheio garante o primeiro instinto de sobrevivência: saciar o estômago. A barriga satisfeita agrada o coração, que transmite a mensagem de segurança ao cérebro.
Se todos esses pontos são ligados direitinho, o cidadão aprova o governante de plantão. Agora, se é preciso refazer as contas para comprar tomate, ele se perde no começo da trilha. E calcula quando isso pode chegar ao arroz e feijão.
A crise do tomate é uma crise diferente porque é uma crise do mundo real, em qualquer lugar do mundo. Quando esteve no Brasil, a blogueira cubana Yoani Sánchez disse que em sua refeição cotidiana nunca havia tomate e que isso não era culpa do embargo norte-americano, mas da incompetência da ditadura castrista. Um exemplo simples e mordaz.
Na maioria das vezes, parece haver um abismo intransponível entre a pauta política de Brasília e os problemas do país. Fala-se em siglas como PACs e PECs, mas se esquece do tomatinho. Em um país emergente, as pessoas estão mais preocupadas em tocar a vida para manter por conta própria a sua emergência do que ficar sonhando com o dia em que o pré-sal vai colocar o Brasil no primeiro mundo.
Nesse cenário, a inflação preocupa porque significa na prática uma ameaça aos ganhos recentes em qualidade de vida dos brasileiros. No dia 1.º de maio, a presidente Dilma Rousseff fez um (ou melhor, mais um) discurso em cadeia nacional em que listou os feitos recentes da gestão petista em geração de renda e emprego. O medo, no entanto, é que os ganhos sejam comidos pela inflação.
O assunto também foi pauta das principais celebrações do Dia do Trabalhador graças a uma proposta do sindicalista e deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que pede a volta do "gatilho salarial". Pela ideia, os salários dos trabalhadores deveriam ser reajustados automaticamente quando a inflação acumulada chegar a 3%.
No palanque, pareceu lindo. Mas é só lembrar que o remédio está vencido foi adotado nos anos 1980 e levou apenas a mais inflação. Um dos astros do evento em que a solução mirabolante foi defendida foi o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Aliás, os tucanos que tanto louvam os efeitos do Plano Real na estabilização da economia, aparecem perifericamente na discussão sobre a inflação. A proposta do gatilho é uma bobagem, porém é uma proposta. Enquanto isso, o PSDB não fala claramente em um novo modelo, não dá o passo adiante.
Talvez seja a falta de uma oposição afiada o que mais prejudique a qualidade do debate. Jogar tomates no governo é moleza. O duro é mostrar como eles não pesem nas contas do brasileiro.
Nos corredores
Novo coordenador
Está marcada para amanhã a eleição do novo coordenador da bancada federal do Paraná. Por enquanto, há dois nomes na disputa: os deputados Assis do Couto (PT) e Marcelo Almeida (PMDB). O atual ocupante do cargo é o também deputado Osmar Serraglio (PMDB).
Disputa
Nos bastidores, o favorito é Assis do Couto, que exerce o terceiro mandato na Casa. Representante do Sudoeste do estado, o parlamentar tem forte ligação com as cooperativas de agricultores familiares. Almeida assumiu o mandato em fevereiro como suplente de Reinhold Stephanes (PSD), atual secretário da Casa Civil do governo do estado.
Acordo
De acordo com o atual coordenador, já foram feitas tentativas para evitar um bate-chapa entre os dois. Com 30 deputados e três senadores, a bancada paranaense é a sexta maior do Congresso Nacional, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul.
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