A odisseia pernambucana do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, joga luz sobre outros limites do loteamento da Esplanada, além da divisão político-partidária. Ao destinar 90% dos recursos para prevenção de desastres ambientais para a própria terra, ele mostrou que não há uma fronteira clara entre ser um ministro de estado da federação ou do Estado brasileiro. A diferença parece simples, mas não é.
O chefe anterior da pasta, Geddel Vieira Lima, seguiu a mesma cartilha. Em janeiro de 2010, durante tragédias similares provocadas pelas chuvas, descobriu-se que ele havia liberado 48% da verba antidesastre para a Bahia, onde nasceu. Além disso, do total de dinheiro distribuído entre as prefeituras baianas, 88,2% ficaram com municípios dirigidos pelo partido dele, o PMDB.
Dez meses depois da notícia, Geddel concorreu a governador do estado, mas perdeu para o petista Jaques Wagner. Moral da história: o recurso que poderia ter ajudado a prevenir estragos e mortes em locais mais sensíveis, como Minas Gerais e Rio de Janeiro, ajudou a pavimentar uma candidatura no Nordeste. Eis o verdadeiro financiamento público de campanha no Brasil.
O caso de Bezerra Coelho é uma continuação mais barra pesada do filme de 2010 basta ver que a porcentagem das verbas caseiras quase dobrou em relação ao período de Geddel. Claro que há reproduções da prática em outros ministérios. Afinal, na terra em que todo mundo quer se dar bem, os estados que chegam antes na divisão do bolo choram menos.
Dentre os 24 ministérios plenos do governo Dilma Rousseff (não entram na conta as secretarias e órgãos com status de ministério, como a Casa Civil), nove (37,5%) são ocupados por paulistas. Também estão na distribuição nomes do Rio de Janeiro (três), da Bahia, Maranhão, Pernambuco e Rio Grande do Sul (dois cada), do Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Norte (um cada). Grande parte das escolhas (cerca de 40%) pouco tem a ver com critérios regionais é irrelevante, por exemplo, o fato de o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, ser carioca.
Paulo Bernardo também permanece no governo muito mais pelos vínculos históricos com o PT e pela confiança da presidente do que pelo fato de ter construído a carreira política no Paraná. O eleitorado paranaense tampouco foi preponderante para a nomeação de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil. Ambos, contudo, não escapam da pressão diária dos pedidos de ajuda dos conterrâneos.
A convivência dos ministros com suas raízes é natural, já que o Brasil é uma federação. O caldo entorna quando há o cruzamento entre o loteamento político e as velhas oligarquias regionais. Não à toa o PMDB do Maranhão (e de José Sarney) sempre se destaca no primeiro escalão.
No malabarismo entre critérios políticos, locais e técnicos, é difícil encontrar o equilíbrio. O ideal seria o sujeito fazer uma espécie de promessa enquanto ocupar o cargo de ministro, esquecer temporariamente de onde veio e se dedicar apenas às questões nacionais. Pode ser sofrido para alguns, mas vale lembrar que, antes de tudo, somos todos brasileiros.
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Nos corredores
Aluno-ministro
Aluno do curso de reciclagem para recuperar a carteira de motorista em Brasília, Paulo Bernardo começou as aulas nesta semana como um anônimo, sem falar que era ministro das Comunicações. Descoberto pela imprensa nacional na segunda-feira, virou motivo de gozação dos colegas. "No outro dia, foi só eu chegar atrasado dois minutos para o pessoal pegar no meu pé brincando que eu queria regalia", diz.
Só uma reclamação
Paulo Bernardo perdeu a carteira em 2008, após acumular mais de 30 pontos por cometer infrações de trânsito a maior parte, segundo ele, por dirigir falando ao celular. O ministro aprovou o curso, mas compartilhou uma crítica com os colegas: a rotina de aulas em dias úteis. "Fica difícil para quem trabalha. Eu mesmo só consegui fazer porque estou de férias."
200 do PSD
Presidente estadual do PSD, o deputado federal Eduardo Sciarra diz que o partido criado em 2011 já conta com cerca de 200 pré-candidatos a prefeito e vice no Paraná. Segundo ele, a estimativa inicial prevê vitórias em pelo menos 60 das 399 prefeituras do estado em outubro. Em Curitiba, a legenda já montou a chapa de vereadores. Sobre coligações na capital, o PSD só deve se manifestar após saber quanto tempo vai dispor no horário eleitoral gratuito.
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