Dilma Rousseff, líderes da oposição e até de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) parecem estar com os ouvidos cheios de cera ou se fingindo de surdos. Nenhum deles dá sinais de ter percebido que a tal voz das ruas que ecoou por mais de 400 cidades pediu mudanças nas práticas políticas e, em especial, no funcionamento dos partidos. Coisa que não se resolve com a reforma negociada pelo governo, seja por plebiscito, referendo ou cartas psicografadas.
Ao que tudo indica, a consulta popular vai ser focada em mudanças no sistema de eleição para deputado estadual, federal e vereadores e no modelo de financiamento de campanhas. Basicamente, o que está em jogo é a técnica de contagem de votos (se a legenda vai ter mais peso que o candidato ou vice-versa) e a possibilidade de proibir que empresas façam doações. Mas cadê as medidas para aprimorar os partidos?
Passou bem longe do esboço da reforma e das votações frenéticas que tomaram conta do Congresso na semana passada, a reboque das manifestações. Para não dizer que todo mundo ficou omisso ao coro de críticas aos partidos, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, foi direto ao ponto. Segundo ele, é preciso diminuir o peso das siglas sobre a vida política do país.
"Temos sim que trazer o povo para a discussão e não continuarmos com essa tradição de conchavos de cúpula", declarou o ministro, após encontro com Dilma. Em maio, durante palestra para universitários em Brasília, ele foi ainda mais claro. "Nós temos partidos de mentirinha."
A única forma de atacar o problema é mudar as regras que regem o funcionamento partidário por dentro. Se isso não acontecer, de nada adianta ir às urnas para votar em um plebiscito. Afinal, qualquer sistema de votação vai ficar atrelado à escolha de nomes pelos caciques partidários.
Pode até haver uma simplificação, mas não haverá oxigenação da política. Exemplo: vá bater na porta de qualquer legenda e dizer que você quer ser candidato em 2014. Se você não for um puxador de votos como o Tiririca ou um milionário disposto a "colaborar", é mais sensato disputar a vaga de síndico do seu prédio.
Um dos pensadores políticos mais interessantes da atualidade, o professor de Ética e Filosofia da Universidade de Campinas Roberto Romano, diz que a melhor forma de entender um dirigente partidário é compará-lo a um cartola de futebol. Ambos controlam seus "clubes" de cabo a rabo, negociam com patrocinadores, contratam jogadores e dão ordens à comissão técnica. À torcida, ou melhor, ao eleitorado, cabe apenas torcer.
Se quiser opinar, o torcedor precisa ter grana e percorrer um longo caminho até chegar ao quadro diretivo do clube. A outra saída é montar uma torcida organizada. É mais ou menos o que acontece atualmente com as manifestações, na visão de Romano.
A disfunção dos partidos está no eixo da crise aguda de representatividade exposta pelos protestos. Dela derivam outros problemas graves, também não abarcados pela reforma em discussão, como a promiscuidade nas relações entre o Poder Executivo e o Legislativo. Quando um cacique negocia votos no Congresso em troca de cargos no governo é porque tem controle absoluto da sigla que comanda.
O mensalão já foi até julgado, mas o ambiente para novos escândalos continua o mesmo.
* * * * *
Nos corredores
Faça o que eu digo...
PSDB, DEM e PPS lançaram o manifesto por um "Brasil diferente" no mesmo dia da reunião de Dilma Rousseff com governadores, na semana passada. Dois temas encabeçam a lista de demandas dos oposicionistas: o investimento de 10% da receita corrente líquida da União em saúde e a diminuição pela metade do número de ministérios.
E não o que eu faço?
Em entrevistas na passagem por Brasília, o governador Beto Richa (PSDB) enfatizou principalmente o primeiro tema. O governo do Paraná, contudo, segue com pendências no Cadastro Único da União (Cauc) com relação à aplicação mínima de recursos em saúde. E acaba de reativar a Secretaria Especial do Cerimonial e Relações Internacionais, ocupada por Ezequias Moreira.
Mais Cauc
Até sexta-feira da semana passada, o governo do Paraná aparecia com mais outras duas pendências no Cauc, referentes à aplicação mínima de recursos em educação e à regularidade quanto a tributos e contribuições federais e à dívida ativa da União. Em março, o secretário da Casa Civil, Reinhold Stephanes, declarou que precisaria de um mês para zerar todas as pendências no cadastro.
Parlamentares tentam blindar Congresso das investigações da PF sobre emendas
Trump celebra avanço conservador na Alemanha e prevê mais vitórias; assista ao Sem Rodeios
PPP é aposta de Tarcísio para transformar os rios Tietê e Pinheiros
Gastos do STF superam custos da Família Real britânica, aponta levantamento