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Quem resolve disputar uma eleição para um cargo majoritário deve saber que a melhor maneira de entrar na disputa é nu. Lógico que no sentido figurado. Mas é bom que inicie esse período sem nada a esconder e disposto a se expor. Se tiver algo que, de alguma forma, possa afetar sua imagem, é bom divulgar o fato o quanto antes. Pois a campanha tem duração, na prática, de dois meses e, dependendo da repercussão da má notícia, pode ser um tempo curto demais para esclarecer, defender-se, desmentir.

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Em disputas acirradas, a turma do "vale-tudo" ganha força e questões nada pragmáticas entram na discussão. Quando se trata da revelação de verdades até não é uma atitude negativa, mas as fábricas de dossiês e boatos estão cada vez mais produtivas, principalmente em campanhas acirradas. Um dos casos mais conhecidos no Brasil foi o dos "aloprados", como foi chamado um grupo de militantes do PT articulados para comprar um dossiê com informações prejudiciais contra o então governador de São Paulo José Serra (PSDB), na eleição de 2006. Os envolvidos foram denunciados, na última terça-feira, pelo Ministério Público Federal (MPF), à Justiça Federal de Mato Grosso, seis anos depois daquele pleito.

A informação embaraçosa pode até não vir de dossiê, mas de apuração da imprensa, ou mesmo da resposta do candidato a uma simples pergunta. Foi o caso de Bill Clinton. Ainda candidato, Clinton foi perguntado se já havia experimentado maconha e soltou a máxima: "Fumei, mas não traguei".

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Aqui na nossa terra, uma reportagem da revista Veja trouxe suspeitas de enriquecimento não compatível à renda do prefeito de Curitiba, Luciano Ducci. O Ministério Público vai investigar se há algo errado. Mas, mesmo que o caso caia no esquecimento, a reportagem trouxe informações que eram desconhecidas da maior parte dos curitibanos. O próprio Ducci considerou que será na campanha que o eleitor irá conhecê-lo melhor, afinal o que se sabia, no geral, era que foi secretário da Saúde, "pai" do programa Mãe Curitibana e, vice de Beto Richa, assumindo a prefeitura quando Richa disputou o governo. Pois então, mesmo antes da campanha, soubemos que o prefeito, além de médico e casado com outra médica, é um próspero fazendeiro e mora em um belo apartamento no bairro Batel.

Não é crime ser rico. O interessante nesse caso é perceber como qualquer informação, quando há poucas, é importante para a construção da imagem dos postulantes ao cargo. Quanto mais o eleitor souber, mais protegido de desconstrução da imagem o candidato está. O eleitor recebe um leque de opções e escolhe o concorrente que acredita ser o mais confiável, o mais competente, o que lhe agrada mais e que pode lhe trazer mais vantagens.

Em processos de escolha, uma notícia surpresa sobre o candidato pode balançar um eleitor indeciso. E a aparência, a família, os costumes e crenças contam para a decisão. A ex-prefeita Marta Suplicy (PT) sabe disso. Tanto que questionou, no programa eleitoral de 2008 se Kassab era casado, se tinha filhos, com um ar de desconfiança. Logo ela que ficou famosa por defender a liberdade sexual. Utilizar informações sobre a vida pessoal em campanha é uma arma pesada e nada construtiva. E, nesse caso, não surtiu efeito, pois Kassab ganhou de Marta.

Seria melhor passar o período de eleições discutindo propostas. Mas como não funciona assim, é prudente que os candidatos estejam preparados para que suas vidas sejam expostas. Se tiver algum batom ou dólar na cueca, então, é melhor pensar várias vezes antes de entrar em uma disputa acirrada.

O colunista André Gonçalves está de férias e volta a escrever neste espaço dia 29 de junho.

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