Nos corredores
Eleição para o Parlasul
A Câmara dos Deputados deve apressar o passo para votar em plenário nos próximos dias o substitutivo apresentado pelo paranaense Dr. Rosinha (PT) ao projeto de lei 5279/09, que cria regras de eleição direta para o Parlamento do Mercosul a partir de 2014. Pela proposta, seriam eleitos 74 representantes brasileiros pelo sistema de listas preordenadas. O modelo é o mesmo defendido pelo PT nas eleições para o Congresso, dentro do debate da reforma política.
Volta às CPIs
Dezesseis anos após ser o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Títulos Públicos, que transcorreu durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o senador paranaense Roberto Requião (PMDB) voltou a ser titular de uma CPI. Ele foi indicado na semana passada para participar da comissão que vai investigar denúncias de espionagem dos Estados Unidos no Brasil.
Uma coisa parece ter ficado clara nas manifestações de Sete de Setembro pelo Brasil afora: protestos iguais aos de junho nunca mais vão se repetir. Acabou a espontaneidade. Talvez até o encanto.
A percepção vem do acompanhamento in loco das duas grandes manifestações realizadas em Brasília em junho e da que ocorreu no último sábado. Na primeira (17/6), 10 mil pessoas participaram da histórica ocupação do teto do Congresso Nacional. Tudo parecia surreal, mas essencialmente autêntico.
Era nítida a presença majoritária de estudantes, entre 15 e 25 anos, que saíram de casa não para representar um grupo, mas para expressar a si mesmos. Qual era o recado? Mostrar indignação e, literalmente, pisar sobre as cabeças dos políticos.
Três dias depois, o público quadruplicou. Subir no Parlamento já não era mais uma barreira a ser quebrada. A esmagadora maioria percebeu que já havia feito a sua parte, que o simples fato de encher as ruas de gente já era uma mensagem por conta própria.
Foi então que um pedacinho da manifestação decidiu depredar o Palácio do Itamaraty. Não era um grupo representativo, mas conseguiu assustar o resto. Era o fim da fase de degustação dos protestos.
Todas as grandes cidades brasileiras passaram pela mesma guinada. Um dia depois da depredação do Itamaraty, houve quebra-quebra no Centro Cívico, em Curitiba. No Rio de Janeiro e em São Paulo, a violência cresceu e o número de manifestantes caiu, dando lugar aos "black blocks".
Como a opinião pública em tempos de Facebook voa a jato, a revolta se voltou contra a revolta. Ontem, em entrevista à Folha de S. Paulo, o escritor e jornalista norte-americano Chris Hedges, que é apoiador do movimento "Occupy Wall Street", avaliou que "entregar o movimento ao 'black block', ou deixar que eles o sequestrem, afasta as massas e transforma o movimento em marginal, exatamente o que o Estado quer". Em julho, o sociólogo espanhol Manuel Castells, talvez o maior especialista sobre as marchas de indignados pelo mundo, havia diagnosticado a mesma coisa.
O vandalismo funcionou como uma vacina para o impacto das manifestações contra os políticos. Com o ingrediente violência, ficou fácil polarizar a questão: se você é a favor dos protestos, é a favor do quebra-quebra. O resultado foi o esvaziamento das ruas no último sábado.
E a partir de agora, como é que fica? Não fica, porque não há futuro para os "black blocks". Ao mesmo tempo, a falência dos protestos não significa que a indignação deixou de existir de uma hora para outra.
O legado das manifestações é a sinalização de que as pessoas cansaram da ineficiência dos serviços públicos e que querem que os seus representantes tomem jeito e resolvam esse problema para ontem. Com ou sem protestos, é uma opinião que não vai mudar de uma para outra. Até porque baixar a tarifa de ônibus e contratar médicos estrangeiros estão longe de ser respostas suficientes.
A ficha dos políticos também não caiu vide o caso do deputado-penitenciário. Com as manifestações em alta, as pessoas pelo menos extravasavam suas decepções. Agora elas guardam para consumo interno, o que funciona como uma espécie de bomba-relógio.
Os protestos de junho ficaram no passado, mas nada impede que eles renasçam mais sofisticados de uma hora para outra. E, em 2014, a mistura entre eleição e Copa do Mundo tem tudo para ser tão imprevisível quanto implacável.