Nos corredores
Beto e Dilma, de novo
Depois do evento de ontem sobre o metrô de Curitiba, o governador Beto Richa se encontra hoje de novo com Dilma Rousseff em Porto Alegre, onde a presidente vai lançar o plano Brasil Sem Miséria para a Região Sul. Mais uma vez, Beto vai discursar. Deve falar sobre o Família Paranaense, programa social gerido pela esposa, Fernanda Richa.
Gêmeos, mas diferentes
Tratados inicialmente como projetos "gêmeos", os metrôs de Curitiba e Porto Alegre têm suas diferenças. Na verdade, o modelo paranaense vai servir de espelho para o gaúcho, em especial na formação da parceria público-privada para a construção e gestão do sistema. Não há nada similar em funcionamento no Brasil.
E o ICMS?
Ao longo das negociações sobre o financiamento do metrô curitibano, uma das novidades era a isenção do ICMS, que seria patrocinada pelo governo do estado. O desconto, porém, não entrou na conta final da repartição dos R$ 2,25 bilhões previstos para a obra. O estímulo baratearia o empreendimento em até 10%.
"Não sou otário, é do meu bolso que sai o seu salário", dizia uma das marchinhas no protesto contra a corrupção realizado anteontem em Brasília. A rima cabe como uma luva em qualquer lugar do país. Mas pareceu especialmente talhada para embalar o feriado no Paraná.
No mesmo dia em que milhares de pessoas foram às ruas para defender temas como transparência e moralidade na política, a manchete da Gazeta do Povo mostrava que o presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni (PSDB), recebia uma "gratificação" que dobrava o seu salário de R$ 20 mil para R$ 40 mil. O valor final é 50% maior que o teto constitucional e os salários de governador e presidente da República (R$ 26,7 mil).
O mais chocante é que a regalia não era de hoje, foi inventada em 1992 e beneficiou outros quatro ex-presidentes da Casa. Na soma geral, custou pelo menos R$ 4,8 milhões aos bolsos dos contribuintes. Só Rossoni recebeu R$ 160 mil.
Claro que pouquíssimas pessoas, inclusive entre os deputados estaduais, sabiam da regra do salário dobrado. O mais bizarro é que ela foi instituída por decreto, ou seja, não foi discutida e votada em plenário. Funcionou na prática como uma autoconcessão de aumento, que só foi descoberta porque a benevolente Mesa Executiva da Assembleia queria estender o agrado ao primeiro e ao segundo-secretário, Plauto Miró (DEM) e Reni Pereira (PSB).
Se ninguém prestasse atenção ou cobrasse, ficaria tudo por isso mesmo. Desta vez não colou. Por quê? Já dizia o juiz norte-americano Louis Brandeis: "A luz do sol é o melhor dos detergentes". Políticos são seres teimosos, mas não são estúpidos. E com transparência fica impossível defender o indefensável.
Rossoni chegou a ter a falta de noção de declarar inicialmente que não abriria mão da benesse. Disse que não via "nenhum problema" em receber a verba, já que dirigir a Assembleia "é uma responsabilidade sem tamanho". E que era justo estender a dobradinha aos secretários, já que eles também trabalham freneticamente como ele.
Só após ser procurado pela reportagem Rossoni mudou de ideia. Quem leu sua entrevista na Gazeta de ontem pensou que se tratava de outra pessoa em relação às declarações de terça-feira. Mas o equívoco conceitual continua: "Preferi cortar na própria carne para mostrar que as mudanças são para valer", justificou.
Como assim na "própria carne", cara-pálida? Em nenhum momento ele falou na redução da remuneração de R$ 20 mil, mas na gordura da dobradinha. Rossoni até topou de última hora devolver os R$ 160 mil que recebeu a mais, mas quem teve o couro lascado durante os últimos 19 anos foi o paranaense comum, aquele que paga imposto e não tem a caneta mágica duplicadora de salários.
A decisão de voltar atrás significa apenas que Rossoni não suportou a luz do sol. Parte da reação dele, no entanto, é uma tentativa de puxar a cortina para o lugar de sempre. A claridade precisa chegar às pendências que ficaram embaixo do tapete.
Em primeiro lugar, é necessário saber se a tal verba de representação era legal. Depois, definir se os demais beneficiários também precisam devolver o que receberam a mais. Esse sim seria um "bom exemplo" e não apenas o cancelamento das regalias futuras, como defendeu Rossoni.
Cobrar esses desdobramentos é uma forma de provar que não somos otários. No fundo, os políticos sabem disso. O problema é que precisam ser lembrados sempre.
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