Machões do mundo, é bom colocar as barbas de molho. A participação feminina na política foi marola em 2008, será onda em 2009 e talvez tsunami em 2010. O fenômeno parece inevitável e começa a varrer os cenários local, nacional e internacional.
Em uma escala decrescente, Hillary Clinton pode até ter perdido as prévias norte-americanas para Barack Obama no ano passado, mas não a força. Como futura secretária de Estado da gestão democrata, será a mulher mais poderosa do mundo. Se a crise não atrapalhar, vai ter condições de suceder o chefe daqui a oito anos.
Em Brasília, é o ano da verdade para Dilma Rousseff. A ministra da Casa Civil permanece na rabeira das intenções de voto para a sucessão presidencial e terá os próximos meses para tentar embarcar na popularidade do padrinho Lula. Assim como em 2008, será alvo do bombardeio da oposição e, se sobreviver, continua como nome forte do PT.
A situação mais emblemática e que ajuda a explicar as origens do avanço feminino é também a mais próxima. Em Curitiba, a primeira-dama e presidente da Fundação de Ação Social (FAS), Fernanda Richa, virou sinônimo de popularidade entre o primeiro escalão empossado na semana passada pelo prefeito Beto Richa (PSDB).
Graças à fama acumulada, começa a sair da sombra do marido. Mas será essa a melhor estratégia para progredir na vida pública?
Casais envolvidos com política exercem um fascínio peculiar nos eleitores pelo mundo afora. Há o exemplo óbvio e parcialmente bem sucedido dos Clinton nos Estados Unidos. Mas também existem os casos turbulentos dos Kirchner, na Argentina, e dos Garotinho, no Rio de Janeiro.
Como é fácil constatar, a maior parte das mulheres com sucesso na política são meras derivações dos maridos e pelo que se sabe nunca houve o vice-versa. Políticas que enfrentam campanhas no peito e na raça raramente têm sucesso, vide o dado de que elas conseguiram se eleger em apenas 9% das prefeituras brasileiras no ano passado.
O curioso é que as administrações femininas sempre são contestadas pela influência dos maridos. Na Argentina e no Rio de Janeiro, Néstor e Anthony sempre agiram como eminências pardas das esposas que os sucederam, mas elas não tiveram o mesmo poderio no governo dos maridos. Ou seja, é aconselhável manter uma distância prudente do marido, mas ela não precisa ser tão grande.
Em uma comparação com o casal Richa, Fernanda parece ter mais preponderância do que as outras colegas. Fortaleceu-se ao garantir a última palavra na condução dos programas sociais da prefeitura e ao transitar com personalidade própria nas comunidades mais pobres da cidade.
Segundo o próprio Beto, Fernanda é "imprescindível" para o segundo mandato. Na hipótese de a nomeação dela ser derrubada na Justiça pela súmula antinepotismo, ele garante que ela continuará trabalhando na prefeitura. O problema é como. Sem cargo, Fernanda agiria apenas como uma espécie de conselheira do marido sem contar o desgaste de um afastamento judicial.
É bom lembrar que na prática ela nunca disse que quer disputar eleições nesse caso, o raciocínio acaba por aqui. Duro é acreditar que a onda feminina não crescerá apenas em Curitiba. Na verdade, não será surpresa se ela despontar já em 2010 como nome para os principais cargos majoritários em disputa no estado. Cacife ela parece ter. Resta saber se tem vontade.
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