O dilema Stephanes
Ao explanar os motivos por ter votado a favor da privatização do Banestado no debate na Band, Beto Richa (PSDB) devolveu lembrando que o então presidente do banco hoje é filiado ao PMDB, partido que apoia Osmar Dias (PDT). Referia-se ao deputado federal e ex-ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. O mesmo que Osmar queria como seu candidato a vice-governador.
Alvaro à gaúcha
O senador Alvaro Dias (PSDB) participa hoje, em Porto Alegre, do primeiro evento público de campanha com José Serra. Depois do imbróglio sobre a candidatura a vice-presidente, ele vem sendo integrado aos poucos à campanha. Ontem, ele representou os tucanos em um debate no Canal Livre, da Band.
Osmar Dias venceu a eleição para governador em 2006. Pelo menos moralmente. Teve 0,2% a menos de votos que um adversário empurrado pela máquina estadual e favorito em todas as pesquisas.Osmar caiu em pé. Por uma margem tão pequena, poderia até ter levantado suspeitas sobre a apuração eletrônica. Engoliu a seco, de cabeça erguida, e prossegiu no mandato de senador.
No Congresso Nacional, manteve distanciamento do seu algoz nas urnas. Mas não deixou de lado as questões de interesse do estado, mesmo as bandeiras mais íntimas do então rival. Tanto que foi protagonista da extinção da multa mensal aplicada pela União ao Paraná pelo descumprimento da negociação para privatizar o Banestado.
Roberto Requião (PMDB), que ganhou a eleição, fez tudo ao contrário. Questionou a lisura das urnas e despejou ira contra os gatos pingados que apoiaram Osmar inclusive Beto Richa (PSDB). Reiniciou uma cruzada non sense contra a imprensa, constrangeu jornais e jornalistas.
Nada mais natural que, depois de todos esses episódios, Osmar reaparecesse em 2010 para fazer valer a vontade de 2.658.132 paranaenses que queriam que ele estivesse no Palácio Iguaçu desde 2007. Ele voltou. Mas de braços dados com Requião.
Não é necessariamente uma aberração que ambos integrem a mesma chapa. Afinal, como bom pedetista (o partido original de Dilma Rousseff), Osmar vestiu a camisa do governo Lula nos últimos quatro anos. Por isso nada demais que ele seja um candidato governista e reproduza a aliança majoritária nacional, na qual os peemedebistas estão inseridos na linha de frente.
Insólito é ver Osmar discursando como o próprio Requião, a exemplo do debate da última quinta-feira na Band. Ao empenhar-se no discurso antiprivatização, parecia disputar uma eleição contra Jaime Lerner (DEM) em 1998. A mesmíssima tática de desconstrução eleitoral inventada por Requião e que nunca deu exatamente certo as vitórias em 2002 e 2006 foram muito mais embaladas pela onda Lula.
Sim, a história das privatizações mexe no inconsciente coletivo, mas não pode ser tratada de maneira simplista. O acordo que envolveu a venda do Banestado pode não ter sido bom para as contas estaduais. Mas era lógico que havia algo muito errado com um banco que gerava R$ 5 milhões de prejuízo ao dia.
Problema mesmo é gerir a conta que nasceu dessa negociação. O que fazer com a dívida de R$ 9 bilhões que ainda falta para cobrir o empréstimo para sanear o Banestado? Como lidar com os títulos públicos de R$ 1,6 bilhão cobrados legalmente pelo Itaú e que podem tirar a Copel do controle estatal?
Osmar é talvez o maior conhecedor desses imbróglios. Sabe onde eles surgiram e qual é o melhor caminho para resolvê-los. Sabe que Requião sempre teve uma visão turva sobre o assunto e que por isso nunca conseguiu costurar soluções plausíveis em Brasília.
Estranho, para lá de estranho, que Osmar não se mostre como o candidato capaz de superar esses obstáculos. Para quem não lembra, foi com uma proposta progressista para o estado que ele quase ganhou de Requião. Quatro anos depois, rebobinou a fita para o passado e, sem explicação, mudou o próprio personagem.
Com uma paródia de filme velho fica difícil conseguir aqueles 5 mil votos que faltaram em 2006.
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