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O paranaense nunca foi lá muito lembrado pelo Brasil afora como brincalhão ou expansivo. No momento, essa característica extravasou para um mau humor generalizado com os políticos, que fez os tímidos saírem da toca. E isso é um excelente exemplo para o país.

Enquanto o debate nacional se transformou em um Fla x Flu de petistas x tucanos, o Paraná entrou em uma nova frequência. As manifestações deste domingo, contra a presidente Dilma Rousseff (PT), bombaram. Assim como os protestos contra o “pacotaço” de Beto Richa (PSDB), mês passado.

Números do Instituto Paraná Pesquisas comprovam o fenômeno. O índice de desaprovação da presidente no estado bateu 82%, enquanto o do governador ficou em 76%. O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), também não escapou da onda de descontentamento, e cravou 65% de rejeição.

A reclamação generalizada é sinal de amadurecimento político. No federalismo brasileiro, cada esfera administrativa precisa ser julgada pelo que lhe cabe. Exemplo: se você está irado com os aumentos de IPVA e ICMS, cobre do governador, se o que te deixa mais indignado é a alta da gasolina, critique a presidente.

A maior das infantilidades é misturar as bolas. E eles, os políticos, adoram jogar com a incapacidade de reflexão dos eleitores desinformados. O xadrez praticado por eles se concentra apenas na estratégia de mostrar que o culpado é o outro.

Fruet põe nas costas da gestão anterior (Richa/Ducci) os problemas financeiros do município, assim como reclama da falta de parceria do governador no financiamento do transporte público. Richa diz que o estado vai mal das pernas por malvadeza do governo federal. Dilma diz que a culpa é do cenário internacional e de uma crise econômica de sete anos atrás.

Se o “cenário internacional” pudesse se manifestar como um ente responsável pelo planeta, com certeza diria que é vítima de perseguição do Sistema Solar. Mas, é claro, ao final das contas seria desvendado que a grande vilã é a Via Láctea, essa infame conspiradora. São as forças ocultas, como já dizia Jânio Quadros com seu sotaque moldado nos tempos de Colégio Estadual do Paraná.

O mau humor contra todos também não pode ser encarado como uma banalização, uma simplificação de que os políticos são iguais. É comum ouvir relatos de gente que, pessoalmente, não tem nada contra Dilma/Richa/Fruet. Mas que simplesmente não suporta o jeito que eles administram.

Você provavelmente já ouviu dizer que a boa política é aquela que discute ideias e não nomes. O descontentamento global é uma mostra de que o cidadão começa a se tocar que o modelo político é ruim, que não adianta simplesmente trocar as peças. Seria senso comum dizer que o caminho é a reforma política, mas talvez o primordial seja redefinição do papel do Estado como um todo.

Precisamos mesmo de tantas estruturas administrativas? Por que uma obra precisa ser apadrinhada pelo prefeito, governador ou presidente deste ou daquele partido, sendo que o dinheiro veio do bolso dos mesmos contribuintes?

É justo o atual modelo redistributivo em que o paranaense paga R$ 42 em tributos federais para receber R$ 1 em investimentos da União? Por outro lado, será que esse dinheiro, se ficasse no caixa estadual, também não seria corroído por uma máquina local ineficiente?

Nenhuma resposta para essas perguntas cai do céu. Questionar-se, no entanto, é o primeiro passo para a verdadeira mudança.

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