Uma mesma e arriscada aposta marca o início da segunda metade dos mandatos de Beto Richa (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Ambos parecem dispostos a pagar caro para garantir o apoio do PMDB em 2014. Previsíveis, as negociações são o prenúncio de um futuro político recheado de mais do mesmo.
Em Brasília, a lógica aponta que os peemedebistas deveriam reforçar a parceria com o governo federal pelo menos para se garantir na vice-presidência. Na matemática do maior partido do país, porém, dois mais dois nem sempre dá quatro. Invariavelmente dividido, o PMDB nacional é uma caixinha de surpresas.
A legenda, que já tem o comando do Senado, também vai assumir a partir de fevereiro a presidência da Câmara dos Deputados. Ou seja, com o aval dos petistas, terá o controle total do Poder Legislativo até as próximas eleições. E quem já curou a ressaca do réveillon lembra bem que as votações no Congresso não foram exatamente as melhores recordações de Dilma até agora...
Mais poderoso do que nunca nesta última década, o PMDB terá peso para tentar ampliar a participação no Executivo. O partido já tem cinco ministérios, mas sempre dá mostras de que quer mais. Também vale lembrar o perfil dos nomes escolhidos para comandar o Congresso.
No Senado, o alagoano Renan Calheiros vai substituir José Sarney. Renan, que escapou de dois processos de cassação em 2007, dispensa apresentações. Na Câmara, o potiguar Henrique Eduardo Alves vai bater chapa com Júlio Delgado (PSB-MG), mas é praticamente invencível.
Alves chegou à Câmara em 1971 e exerce atualmente o 11.º mandato, marca única entre os 513 parlamentares. No começo da gestão Dilma, disse que daria um bambolê para a presidente para que ela ganhasse jogo de cintura para o relacionamento com os políticos. Em 2002, foi cotado para a vice de José Serra (PSDB) na disputa presidencial contra Lula.
No Paraná, o governo é do PSDB, mas a atração dos peemedebistas pelo governismo é a mesma. Em dezembro, a vitória do deputado estadual Osmar Serraglio contra o senador Roberto Requião na eleição pela direção estadual do partido deixou o PMDB ainda mais alinhado a Beto Richa.
Pelas últimas negociações, o atual secretário estadual do Trabalho, Luiz Cláudio Romanelli, tende a ser "promovido" para a Casa Civil. A manobra deixaria as articulações políticas do Palácio Iguaçu sob comando do PMDB, pavimentando de vez a aliança entre os dois partidos para 2014.
Os arranjos nacional e estadual, contudo, só não levam em consideração a fragmentação peemedebista. Em Brasília, cada nomeação para um cargo importante no governo federal abre uma guerra entre alas do partido no Senado e na Câmara. No Paraná, Requião perdeu o controle da legenda, mas fez 220 votos contra 289 de Serraglio.
E, frise-se, Serraglio só venceu porque conseguiu unir duas alas distintas uma que representa os deputados estaduais e outra que agrupa os seguidores do ex-governador Orlando Pessuti. Em resumo, mesmo que se esforce para contentar as demandas desses segmentos, Beto dificilmente vai agradar o partido como um todo. A situação é exatamente a mesma de Dilma.
No final das contas, resta saber o quanto esses acordos para facilitar 2014 podem prejudicar as gestões tanto do governador quanto da presidente a partir de 2013. Também não se sabe o que o PMDB, pelo menos institucionalmente, ganha com eles.
É quase inexplicável para o eleitor (pelo menos para aqueles que se preocupam com um pouco de coerência) que um partido que é aliado do PT no plano federal esteja de braços dados com o PSDB no Paraná. Pode ser até um ganho de curto prazo, mas que não é sustentável ao longo do tempo. Fica a perspectiva de que PMDB nem caminha com as próprias pernas, nem deixa que os outros andem sozinhos.
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