Nos corredores

Dois pela Casa Civil

Nos bastidores de Brasília e Curitiba, aumenta a competição entre o deputado federal Eduardo Sciarra (PSD) e o presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni (PSDB), pela vaga de chefe da Casa Civil no segundo mandato de Beto Richa. A demora na escolha é o principal motivo para o acirramento da disputa.

Articulador com o Planalto

Dois fatores pesam a favor de Sciarra. O primeiro é a lealdade: ele desistiu de concorrer à reeleição para ser coordenador-geral da campanha de Richa. O outro é o bom trânsito em Brasília – ser filiado ao governista PSD ajudaria na reconstrução de pontes com a presidente Dilma Rousseff.

Conhecedor da paróquia

A favor de Rossoni pesa o conhecimento das questões da política local e o relacionamento com os deputados estaduais. Ele também não estaria disposto a perder o peso político que tem em Curitiba para ser "mais um" dos 513 parlamentares na Câmara Federal.

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A social-democracia surgiu no fim do século 19 como uma corrente ideológica que pregava a construção do socialismo não pela revolução, mas pelo jogo democrático. Em 1988, o Partido da Social Democracia Brasileira foi criado como uma dissidência do PMDB, cujo "centrão" (que estava mais para "direitona") dava as cartas na elaboração da Constituição. No DNA, o PSDB é uma legenda de centro-esquerda, com olhos para a esquerda, como gosta de definir Fernando Henrique Cardoso.

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Por essas e outras chama atenção a atração que o PSDB tem provocado em relação a setores radicais, que já não se envergonham de se assumir como reacionários (ou "reaças", para ficar mais cool). O povo que fala em golpe militar para tirar Dilma Rousseff do poder abraçou fervorosamente a candidatura de Aécio Neves. O estranho é que os tucanos não foram nem estão sendo assertivos o suficiente para se desvincular desse pessoal.

Pior, institucionalmente o partido insiste em manter dúvidas sobre a legitimidade do resultado. Sentado ao lado de Aécio em evento realizado na última quarta-feira, o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, afirmou que "nas ruas as pessoas estão dizendo que [o resultado da eleição] foi roubado mesmo". O senador não reagiu.

Ao mergulhar nessas águas turvas, o PSDB corre o risco de não ser mais enxergado como deveria ser. Em abril deste ano, FHC participou de um encontro com intelectuais no Rio de Janeiro e entrou numa discussão emblemática sobre a dificuldade de as pessoas entenderem para que lado vão os tucanos. "Hoje, se disser que sou de esquerda, as pessoas não vão acreditar. Embora seja verdade. É verdade!", frisou o ex-presidente.

Embora seja mais lembrado ideologicamente pelo alinhamento ao neoliberalismo e pelas privatizações, foi FHC quem lançou as sementes dos programas de distribuição de renda que reduziram a desigualdade brasileira ao longo dos últimos 15 anos. Aliás, como chegou a citar Aécio durante a campanha, o Plano Real e o combate à inflação também precisam ser destacados como política social. Afinal, quem mais sofre com o descontrole dos preços são os mais pobres.

O PSDB cresce – e se diferencia do PT – justamente quando se esforça para sofisticar o debate sobre o papel do Estado na economia. Um governo menos intervencionista poderia gerar um ambiente melhor para o país crescer e as pessoas progredirem. E isso geraria mais espaço para o aprimoramento de programas como o Bolsa Família.

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O problema é cair na armadilha fácil da polarização. Se a diferenciação continuar sendo feita pelo extremismo, há chance de o PSDB ficar completamente descaracterizado. Golpe e preconceito (de classe, cor ou origem) passam longe do que queriam os fundadores do partido, em 1989.

Muitos deles, como José Serra, tiveram de deixar o país por causa da ditadura militar. Outros que entraram depois no PSDB, como Aloysio Nunes (vice de Aécio), chegaram a participar da resistência armada ao regime. Esse pessoal não tem nada a ver com os "reaças" – mas, por enquanto, não fizeram muito esforço para deixar isso claro.

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