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Nos corredores

Sem querer, querendo

Partiu do deputado federal paranaense Sandro Alex (PPS) o convite para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, participar de uma audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara na última quarta-feira. A pauta era a implantação do sistema digital de rádio no Brasil, mas a discussão acabou contaminada pela informação de que Bernardo teria usado o avião de uma empreiteira no ano passado. Sandro Alex negou que tenha feito o convite para aproveitar a polêmica.

Deixa que eu respondo

Sandro Alex é relator da Subcomissão Especial de Rádio Digital da Câmara, que está discutindo o melhor sistema a ser escolhido pelo país. Segundo ele, havia um consenso de que Paulo Bernardo não compareceria à audiência de quarta-feira. "Achei que ele foi astuto marcando presença e também por responder a todas as perguntas", disse o parlamentar do PPS, que virou um dos partidos mais estridentes da oposição.

Borba em Brasília

Ex-deputado, réu do processo do mensalão e atual prefeito de Jandaia do Sul, no Norte do Paraná, José Borba (PP) bateu cartão na capital nesta semana. Desde que assumiu a prefeitura, em 2009, o município transformou-se no recordista paranaense em convênios com o Ministério do Turismo – foram R$ 15,3 milhões. Em declaração à Gazeta do Povo publicada na terça-feira, Borba disse que qualquer município pode receber verbas federais, "desde que apresentem projetos que correspondam ao programa que o governo tem".

Imagine que Dilma Rousseff resolveu economizar todo o salário que recebe como presidente para realizar um sonho de consumo. Ao longo de quatro anos guardando cerca de R$ 20 mil líquidos mensais, ela chegaria a uma poupança em torno de R$ 1 milhão (sem juros). Se o desejo fosse comprar um jatinho – mesmo o mais barato fabricado pela Embraer – ela precisaria de pelo menos mais cinco mandatos para torná-lo realidade.

Aos números. O modelo mais em conta entre os sete produzidos pela Embraer é o Phenom 100, para até seis passageiros, que custa a partir de R$ 6,4 milhões. No topo da pirâmide está o Lineage 1000, que chega a R$ 80 milhões.

No ramo dos helicópteros, há opções mais econômicas como o Esquilo, mas um bimotor moderno e seguro não sai por menos de R$ 8 milhões. O modelo adquirido pelo governo do Maranhão no ano passado – e que foi utilizado para viagens particulares recentes do presidente do Se­­­nado, José Sarney (PMDB-AP) – custou R$ 16,5 milhões.

Os dados são uma advertência: é muito improvável que o sonho da aeronave própria caiba no bolso de um político honesto, incluindo aqueles que ganham o teto de R$ 26,7 mil por mês. Será que é por isso que eles costumam dar tantas voltas em possantes aéreos de "amigos"? Não à toa, o noticiário de 2011 está coalhado de histórias sobre esse tipo de carona.

Além do episódio que envolveu Sarney, os governadores Beto Richa (PSDB) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ) foram flagrados em helicópteros de particulares. O paranaense, aliás, quase foi vítima de um acidente grave quando a aeronave emprestada pelo empresário Jair Rosa, de Cornélio Procópio, fez um pouso forçado em São Paulo. Ele viajava para uma reunião no banco de investimentos BTG-Pactual, compromisso que não havia sido divulgado previamente em sua agenda.

Neste mês, a gota d'água para a queda do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, foi a notícia de que ele e o filho utilizaram várias vezes o jatinho de uma empresa de agronegócios. Há por último a informação da revista Época de que os ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann teriam voado no ano passado em um avião da empreiteira maringaense Sanches Tripoloni, que firmou 30 contratos com o governo federal nos últimos nove anos. O caso não foi confirmado, mas Bernardo disse que não tem como lembrar se usou o turboélice King Air da empresa (modelo que custa bem menos que um jatinho).

Em meio a tantos episódios com pontos em comum, fica a pergunta: governadores e ministros realmente precisam de aeronaves para exercer suas funções? Para trabalho, não há dúvida que sim. Não se trata de uma questão de conforto, mas de racionalidade.

Não faz sentido exigir, por exemplo, que Richa faça um voo de carreira para visitar uma cidadezinha no Noroeste do Paraná e perca 12 horas de um dia de trabalho em conexões. É sensato que ele viaje, nesse caso, numa aeronave custeada pelo Estado.

O valor pode ser alto, mas está embutido no preço da democracia. Mais onerosa é a falta de transparência. Autoridades públicas deveriam obrigatoriamente deixar claro para onde vão e na companhia de quem, principalmente quando não são eles que pagam a conta.

Há também a necessidade de discutir a qualidade do gasto. O que é mais saudável para os bolsos de todos nós: comprar e manter aeronaves ou alugá-las? A resposta não é tão simples e não deve ficar restrita ao gosto do freguês, ou melhor, do governante.

Por isso é necessário refletir bem sobre o festival de caronas divulgado pelos jornais nos últimos dias. Com tantas viagens no escuro, fica difícil escapar das turbulências. E do medo de avião.

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