Nos corredores

Entre Lula e Requião

A aliança entre o PT e o PDT nas eleições para o governo do Paraná passará por uma negociação direta entre o presidente Lula e o governador Roberto Requião.

A intervenção de Lula foi solicitada pelo deputado federal Ricardo Barros (PP) há duas semanas. O objetivo é tentar convencer Requião de que não há traição petista ao PMDB na aliança em torno da candidatura de Osmar Dias ao governo do estado.

Café da manhã

Osmar Dias reúne-se hoje pela manhã com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e outras lideranças petistas em Curitiba. É mais uma tentativa de acertar os ponteiros entre petistas e pedetistas no estado. A chance de casamento seria a escolha de Osmar Dias para a liderança do governo no Congresso Nacional. A catarinense Ideli Salvati ficou com a vaga. Osmar diz que ele preteriu a vaga – e não o contrário.

Na hora certa. Ou errada

O prefeito Beto Richa (PSDB) viajou a Brasília na quinta-feira e não perdeu a oportunidade de tentar um encontro com Osmar Dias. Estrategicamente (ou não), passou pelo gabinete do senador pela manhã, horário exato em que o pedetista já estava no aeroporto Juscelino Kubitscheck. Beto teve de encerrar a agenda na capital com antecedência para ir ao funeral de Fani Lerner.

CARREGANDO :)

Pegaram os deputados com a boca na botija. Na farra da verba indenizatória, parlamentares compraram churrasqueiras, comida para cachorro e até estrume. A população está em polvorosa, a imprensa não para de jorrar escândalos.

Até parece o Brasil. Mas a crise descrita acima desenrola-se no Reino Unido. Na terra da rainha, as excelências pisaram na bola exatamente do mesmo jeito que os colegas brasileiros – esbanjando dinheiro público com mordomias.

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A paródia saxônica tem direito até a um dono de castelo, como o mineiro Edmar Moreira. Anthony Steen, do Partido Conservador, pediu reembolso de 87.729 mil libras esterlinas (cerca de R$ 280 mil) para a manutenção de sua mansão.

Indignado com a revelação do pedido de reembolso, feito pelo jornal Daily Telegraph, Steen foi rápido no gatilho. Disse que os críticos têm "inveja" dele por ter uma casa "muito, muito grande". Segundo o deputado, a residência é idêntica ao Palácio Balmoral, residência da Família Real na Escócia.

Está aí a prova cabal de que os políticos são todos iguais (só mudam de endereço), correto?

Não mesmo. A diferença básica entre o caso britânico e brasileiro é que lá os deputados se lixam (e muito) para a opinião pública.

Steen, the castle's parliamentarian, anunciou na quinta-feira que vai deixar a vida pública. Arrependido das próprias declarações, admitiu que agiu de maneira inapropriada. Na mesma linha, dois colegas de partido também anunciaram que não vão disputar novas eleições.

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Peter Viggers gastou 30 mil libras (R$ 95 mil) com despesas de jardinagem durante três anos. Além disso, teve rejeitada a verba para a construção de uma casa flutuante para patos. Douglas Hogg foi ressarcido pela limpeza de um fosso.

E as reações não se resumiram ao baixo clero do Reino Unido. O presidente da Câmara dos Comuns (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira), Michael Martin, entregou o cargo. Foi a primeira renúncia por pressão política em três séculos.

Além disso, lideranças do Partido Conservador cobram a dissolução do Parlamento e a convocação imediata de novas eleições. Quase todos os envolvidos anunciaram que devolverão o dinheiro. O primeiro-ministro Gordon Brown foi à televisão para pedir desculpas em nome da classe política do país.

E no Brasil? Reportagens mostraram no mês passado que 261 deputados realizaram 1.885 voos internacionais entre janeiro de 2007 e outubro de 2008. Dá para contar nos dedos quem se propôs a devolver o dinheiro.

Michel Temer, que admitiu o uso de bilhetes para parentes em viagens nacionais, continua firme e forte na presidência da Câmara. Até Lula disse que não via motivo para tanto estardalhaço. Afinal, quando deputado federal, ele também tinha cedido passagens para "companheiros sindicalistas".

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Ainda há o maior dos paradoxos. Edmar Moreira, o deputado do castelo, começou a ser julgado na semana passada no Conselho de Ética por mau uso da verba indenizatória (processo que não tem nada a ver com a propriedade). Chorou durante o depoimento, dizendo que sofria perseguição dos colegas.

Ao contrário de Anthony Steen, ele não disse que vai deixar a política. Seria até mais sincero se se queixasse da inveja. Talvez não tenha utilizado o argumento por um bom motivo. Na verdade, o castelo brasileiro não é lá um Palácio Balmoral. Assim como a reação dos nossos políticos, ele é feio de doer.