Nos corredores

Gerentona Gleisi

Gleisi Hoffmann inovou em relação ao antecessor Antonio Palocci na divulgação da agenda. As informações, por enquanto, mostram que ela está cumprindo a missão de ser a gerente do governo. Só na semana passada houve 12 audiências com ministros, sem contar uma reunião com o presidente da Petrobras, José Gabrielli, e outra com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). Só aparecerem dois encontros com Dilma.

Kaefer e o BNDES

A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados vota na quarta-feira o requerimento de convocação do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, apresentado pelo paranaense Alfredo Kaefer (PSDB). O tucano quer que Coutinho dê explicações sobre o papel do banco na megafusão entre as cadeias de supermercados Carrefour e Pão de Açúcar. A proposta contou com o apoio de governistas como Pepe Vargas (PT-RS) e João Dado (PDT-SP).

Indústria têxtil

A Federação das Indústrias do Estado do Paraná receberá amanhã em Curitiba uma audiência pública promovida pela Frente Parlamentar da Indústria Têxtil. O evento é organizado pelo vice-líder da frente, o deputado Zeca Dirceu (PT), e discutirá uma agenda de prioridades do setor. Entre elas, está o projeto que trata da ampliação da faixa de enquadramento do Simples.

CARREGANDO :)

Nelson Jobim é o único a conseguir a proeza de ter sido ministro de Fernando Henrique Cardoso, Lula e, agora, de Dilma Rousseff. Já seria suficiente para celebrá-lo na história política nacional, mas ele foi ainda presidente do Supremo Tri­­bunal Federal, deputado constituinte e relator da revisão constitucional de 1993. O gaúcho tem moral e currículo para decretar que "os idiotas perderam a modéstia".

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Enigmática, a mensagem ganhou mais força pelo contexto em que foi lançada, durante a cerimônia de comemoração dos 80 anos de FHC, no Senado, quinta-feira passada. Em um monólogo de homenagem ao tucano, citou o escritor Nelson Rodrigues. "Ele dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos."

Jobim afirmou que hoje, no entanto, é preciso ter "tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento". As colocações não chegaram a ser constrangedoras, mas deixaram muitos petistas com a pulga atrás da orelha. Quem são, afinal, os idiotas do ministro?

Tem gente dizendo que o recado era endereçado a Dilma, que o afastou do núcleo do governo e cortou recursos da pasta de Jobim, o Ministério da Defesa. Outra ala acredita que o alvo seriam neogovernistas inebriados pelo poder. A tese mais sensata é que se trata de uma simples defesa do legado de FHC, tão castigado pelo PT e, ao mesmo tempo, pouco valorizado pelo PSDB.

Ulysses Guimarães costumava dizer que Jobim, seu colega de PMDB, era genial porque tinha um raciocínio matemático avançado em questões legislativas. Matematica­mente, há uma lógica que aos poucos começa a ser mais bem compreendida – FHC-Lula-Dilma formam uma trinca de continuidade. Faz todo sentido.

Foi o tucano quem criou os alicerces da estabilidade econômica. Sem ela, não seria possível que Lula diminuísse a desigualdade social. E, sem o trabalho dos dois antecessores, Dilma não teria condições de estabelecer a meta de tirar 16,2 milhões de brasileiros da miséria até 2014.

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É curioso que tudo isso tenha sido feito em um ambiente duro, dentro de um sistema político cheio de defeitos. No presidencialismo de coalizão existente no Brasil, não há como um partido ter força para comandar o país sozinho. Infelizmente, é preciso ceder espaço aos idiotas.

Difícil dizer se Jobim se referia a esses idiotas (ele próprio chegou a dizer depois que os idiotas, na verdade, eram alguns jornalistas). Na verdade, a fauna política nacional está tão saturada dessa espécie que às vezes fica difícil distingui-los. O que não quer dizer que todos os bichos interessantes estão ameaçados de extinção.

Prova disso foi que a homenagem a FHC esteve repleta de petistas e peemedebistas. Na cerimônia, a atriz Fernanda Montenegro leu trechos da carta enviada por Dilma ao tucano. Tudo transcorreu em um interessante clima de ecumenismo político.

Será que esse ambiente é duradouro? Difícil fazer previsões a mais de três anos da próxima eleição. O fato é que já está mais do que na hora de o Brasil entrar em uma nova fase. Mais sensata, menos idiota.