Nos corredores
Greca governador
Perguntado sobre sua trajetória partidária e a mudança do PFL para o PMDB na década passada, o candidato a prefeito de Curitiba Rafael Greca faz uma autoavaliação histórica. "Se eu tivesse me filiado ao PMDB no começo da carreira, teria sido governador do Paraná", lembra. Greca era cotado para suceder Jaime Lerner na eleição de 2002, mas acabou ficando pelo caminho.
Cachoeira abaixo
A pedra na trajetória de Greca foi a queda como ministro do Esporte, em 2000, provocada por denúncias de envolvimento com a máfia dos bingos. Novamente o candidato contextualiza o passado ao presente. Ele diz que só caiu porque nunca tolerou a ação de grupos como o do bicheiro Carlinhos Cachoeira, hoje alvo de CPI no Congresso Nacional.
Consciência
Ratinho Júnior (PSC) só pediu licença de quatro meses mandato de deputado federal na semana passada, segundo ele, por motivos de "consciência". "Eu relutei, mas acabei pedindo porque não acho justo receber salário e não estar em Brasília", disse. Indiretamente, acabou cutucando Rubens Bueno (PPS), também deputado e vice na chapa de Luciano Ducci (PSB), que não vai se licenciar.
A ascensão das candidaturas de Ratinho Júnior (PSC), em Curitiba, e Celso Russomanno (PRB), em São Paulo, coloca à prova o modelo de polarização eleitoral que tenta resumir a política brasileira entre PT e PSDB. Representantes de partidos pequenos e com viés religioso, os dois parecem sustentar mais que um "voo de galinha". Eles são fruto de um novo cenário, cujas portas foram abertas em 2010 por Marina Silva.
Sem apoio financeiro, ancorada no modesto PV e desprezando alianças partidárias, a ex-senadora acreana conseguiu 19,33% dos votos válidos no primeiro turno da última eleição presidencial. Ou seja, um em cada cinco brasileiros não topou entrar de cara na guerra entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). É muita gente.
Em Curitiba, Marina quase conseguiu a façanha de ficar na frente de Dilma em segundo lugar. Fez 280.110 votos contra 281.039 da petista. Comparativamente, um em cada quatro curitibanos preferiram a candidata do PV.
Marina tinha como legado a identificação com a causa ambiental e a ligação com a Assembleia de Deus, que ajudou a popularizar sua imagem. Em uma eleição pautada por temas ético-religiosos, ela se sobressaiu. Em parte por ser uma figura realmente admirável, mas também pela mais pura falta de opção.
Desde a década passada, a consolidação da classe C trouxe mudanças no panorama político brasileiro que os caciques tradicionais e seus partidos parecem não conseguir enxergar à exceção de Lula. O grosso dos petistas e tucanos simplesmente não consegue falar a mesma língua dos emergentes. E a culpa não é da suposta alienação dessa gente, é da falta de sensibilidade dos políticos, que prestam mais atenção nas suas picuinhas internas do que no que ocorre lá fora, no mundo real.
Em São Paulo, Russomanno desafia uma disputa direta entre o PSDB de José Serra e o PT de Fernando Haddad. Em Curitiba, Ratinho Júnior é o "intruso" na briga entre Luciano Ducci (PSB), apoiado pelo PSDB, e Gustavo Fruet (PDT), que tem o PT como principal parceiro. São surpresas com algumas pitadas de Marina.
Em São Paulo, Russomanno tem o respaldo da própria popularidade como apresentador de televisão e o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus, que tem o PRB como braço político. Em Curitiba, Ratinho Júnior carrega a fama do pai e, mais perifericamente, a conexão do Partido Social Cristão com lideranças religiosas como o deputado federal e pastor da Assembleia de Deus Hidekazu Takayama.
Adversários da dupla têm batido na tecla de que o desempenho de ambos será fulminado no decorrer do horário eleitoral. Russomanno terá apenas dois minutos na televisão menos de um terço da exposição de José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT). Em Curitiba, Ratinho Júnior terá 3 minutos e 54 segundos, também menos que Ducci, Fruet e Rafael Greca (PMDB).
Em 2010, no entanto, Marina apareceu por apenas por 1 minuto e 17 segundos e ainda assim fez o estrago que fez. Outro sinal dos tempos: a televisão ajuda, mas não é mais a única ferramenta decisiva para arrebanhar eleitores.
A chave para a vitória talvez esteja apenas em sintonizar o discurso à realidade das pessoas. A nova classe média, dona da maioria dos votos, não é necessariamente incoerente na hora de votar. Só não aguenta mais o blá-blá-blá genérico e a falsa ideia de que só a batalha entre petistas e tucanos serve para o Brasil.
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