Osmar Dias (PDT) e Flávio Arns (PT) são duas das nove pedras no sapato do presidente Lula para a aprovação da CPMF no Senado. Ambos integram a "base rebelde" do governo, que após endurecer e votar pela cassação de Renan Calheiros ameaça barrar a prorrogação da contribuição que rende R$ 38 bilhões ao ano à União.
Pelas contas do vice-presidente da Senado, Tião Viana (PT-AC), apenas 41 dos 50 senadores governistas estão dispostos a manter o imposto do cheque até 2011. Para a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional que garante a prorrogação são necessários votos de 49 dos 81 parlamentares.
Os dois paranaenses são contra o tributo. Porém, não irremediavelmente. Osmar até aceitaria votar a favor se houvesse redução da alíquota de 0,38% por movimentação financeira.
Já Arns bate o pé por outro motivo: quer que o dinheiro arrecadado seja aplicado primordialmente na Saúde. O argumento é simples, já que a CPMF foi criada, no início da década de 90, para solucionar (ao menos provisoriamente) a crise desse setor.
Hoje, ela é fatiada 0,20% vai para a saúde, 0,10% para a previdência social e 0,08% para a erradicação da pobreza. A bolada, superior ao investimento previsto na Lei Orçamentária Anual para todo país, é o que sustenta, entre outras programas, o Bolsa Família.
Talvez por isso Lula tenha garantido há seis dias que sem a CPMF será impossível administrar o país. Talvez por isso parte da oposição faça força para que a contribuição acabe e, com isso, seja atingida a vedete do trabalho social do presidente.
O seguro é que, de um jeito ou de outro, não haverá moleza para a aprovação do tributo sem barganha no Senado. Ao contrário do que ocorreu semana passada e que deve se repetir a partir de amanhã na Câmara, onde o governo conseguiu a aprovação da proposta sem restrição, a negociação será pesada.
Arns e Osmar, pelo que garantem, não amarelaram ao votar pela perda de mandato de Renan. Agora, em sessão aberta, têm ainda mais responsabilidade de manter o posicionamento anunciado, que reflete o desejo de 54% da população, segundo o Ibope.
É hora de mostrar rebeldia longe das cortinas do painel eletrônico do Senado. E de torcer que a CPMF seja algo mais simples de ser cassado.
Nos corredores
Indecisos, pero no mucho Um dia antes da votação em primeiro turno da prorrogação da CPMF na Câmara, cinco dos 30 deputados federais paranaenses estavam indecisos. Eram eles: Ratinho Júnior (PSC), Odílio Balbinotti (PMDB), Moacir Micheletto (PMDB), Dilceu Sperafico (PP) e Aírton Roveda (PR). Todos são da base governista. Ratinho chegou a dizer claramente que era contra a cobrança, Balbinotti afirmou que só votaria a favor se o governo voltasse a negociar a dívida dos produtores rurais. Quantos deles viraram-se contra o Palácio do Planalto na hora da decisão? Nenhum. Os únicos paranaenses que desrespeitaram a orientação partidária e votaram contra a contribuição foram Rodrigo Rocha Loures (PMDB) e Barbosa Neto (PDT).
Pró-MP, contra Requião O senador Alvaro Dias usou o plenário do Senado na última terça-feira para entrar na briga entre o governador Roberto Requião e o Ministério Público do Paraná. Contrariando os comentários de uma possível aproximação com o governador, ele não fugiu da polêmica e ficou do lado do MP. "Esgrimir não constrói, não edifica. Não podemos alimentar esse confronto", afirmou. No começo do ano, Alvaro foi alvo de comentários sobre uma possível transferência para o PMDB, para concorrer ao Palácio Iguaçu em 2010 com a bênção de Requião. Hoje parece improvável.
Negociando com o inimigo Deve ser agendada nesta semana, possivelmente para amanhã, uma reunião entre representantes do governo do estado e diretores do Itaú em Brasília. O encontro foi costurado pelo senador Valdir Raupp (PMDB-RO), relator do projeto de resolução que acaba com a multa mensal de R$ 5 milhões aplicada pela União ao Paraná, decorrente da privatização do Banestado. Será a primeira negociação formal entre as duas partes nos últimos dois anos, já que o banco, digamos assim, não é exatamente querido por Requião. Há um porém dessa vez: se não sair acordo, não sai resolução e a sangria da multa persiste. É o que aponta Raupp.
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"Está tranqüilo por enquanto. Deixa o governo pôr as tropas americanas no nosso Iraque para ver se a gente agüenta."
Luiz Carlos Hauly (PSDB), deputado federal, sobre a resistência da oposição à votação da CPMF, na quarta-feira passada.
agoncalves@gazetadopovo.com.br
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